Marcada para morrer, Ceplac vive morte indigna
de um órgão que já foi rico e importante, cuja sede recebia autoridades e pesquisadores do mundo inteiro e era respeitado no exterior. Hoje, esta mesma sede está com mato alto, corredores cheios de cocô de animais, banheiros sem condições de uso.
O mato alto toma conta dos prédios da Ceplac e os funcionários não têm sequer internet. Quando querem buscar informações online, precisam usar os próprios celulares. Todos os computadores e equipamentos estão defasados e a manutenção é quase nula.
Os banheiros não têm água, dependendo do fornecimento por um pequeno carro pipa, que despeja num reservatório largado na entrada dos blocos de escritório, de onde é levada para os banheiros por uma improvisão de mangueiras. A frota de carros está virando sucata.
As áreas de produção interna da Ceplac foram abandonadas. O cacau está apodrecendo nos pés porque não é colhido e as plantas vão se degenerando sem poda nem os cuidados básicos. Operários de campo, cuja especialidade é cuidar das roças, estão sendo usados como faxineiros.
O pessoal que trabalha com o trabalho braçal, depois de um dia estenuante sob o sol, é obrigado a tomar banho de balde, pegando da caixa d'água improvisada para o banheiro. Sem água para lavar as mãos, a prevenção contra o coronavirus também passou longe da Ceplac.
Comando longe da sede
O comando da Ceplac fica em Brasília. Chefe do departmento, Waldeck Pinto de Araujo Junior, um analista de orçamento oriundo do Ministério da Economia, só esteve em Ilhéus duas vezes desde que assumiu a direção, em novembro de 2019 e em novembro de 2020.
O superintendente da Ceplac no sul da Bahia é Waldo Luis Coutinho Britto, um auditor fiscal de carreira no Mapa. Antigamente o superintendente trabalhava na Ceplac local, mas Waldo só esteve na sede duas vezes, em março e em dezembro de 2020. A resposta para "onde está Waldo" é Brasília.
Lucimara Chiari tem ótimo curriculo acadêmico, mas é uma pesquisadora de gado de corte da Embrapa chefiando hoje as pesquisas de cacau no Cepec. Nos bastidores os servidores brincam que ela não sabe diferenciar um mamão de um cacau.
Quem acaba dando as ordens é o Chefe de Divisão José Marques Pereira e seu auxiliar, Alberti Magalhães. A Ceplac, construída com o dinheiro dos produtores, foi transferida de órgão autônomo para um setor do Ministério da Agricultura por Delfin Neto. Foi o início dos problemas.
Um histórico político
A última época em que recebeu alguma atenção do Governo Federal foi com Fernando Henrique Cardoso, único presidente a visitar o sul da Bahia enquanto estava no cargo. Na visita, lançou a promoção de todos os agrônomos e técnicos a fiscal federal, duplicando seus salários.
FHC tinha planos para reforçar a Ceplac, principalmente na área de pesquisa, que impressionou o presidente. Não foi à toa. A Ceplac tinha um dos melhores laboratórios de fitopatologia do mundo e um dos maiores acervos de entomologia.
Fernando Henrique não fez mais porque Lula ganhou a eleição e se dedicou a esvaziar o órgão desde o início de sua primeira gestão. Levou quase um ano para efetivar a promoção assinada por FHC e passou a cortar o orçamento do órgão todos os anos.
Lula, Dilma e Temer não abriram nenhum concurso para repor os servidores que iam se aposentando, a maioria deles. Quando Jair Bolsonaro assumiu, o processo de mortre da Ceplac já era irreversível, com um custo alto demais para restaurar sua capacidade.
A decisão, do governo Lula, de extinguir o órgão por inanição e falta de servidores foi a "pá de cal". Sem concurso nem expectativas, o órgão viu seus melhores funcionários se aposentar ou sair par a iniciativa privada. Sem orçamento, vai morrendo aos poucos.
Os Escritórios Locais foram fechados. Servidores qualificados são perseguidos e maltratados por chefes sem preparo, pressionados a se demitir ou se curvar às ordens indignas para os cargos. Quem deveria comandar de perto mora em Brasília. Melhor extinguir de vez.
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