Butantan desenvolve vacina para Zika

Uma plataforma tecnológica feita no Instituto Butantan a partir do vírus Zika pode ajudar no desenvolvimento de uma vacina contra a doença, de acordo com estudo publicado na editora de pesquisa suíça Frontiers in Pharmacology. Os pesquisadores desenvolveram VLPs (do inglês virus-like particles).

Essas partículas “imitam” o vírus, uma técnica que já é usada em outros imunizantes, como do HPV e da hepatite B. Ainda sem vacina disponível no mercado, o Zika tem como principal impacto a microcefalia (malformação do cérebro), que acomete em recém-nascidos de mães que foram infectadas durante a gestação.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem registros de circulação do vírus em 89 países. No Brasil, o Zika foi responsável por 50% das 3.700 infecções congênitas (transmitidas da mãe para o bebê) confirmadas entre 2015 e 2022, de acordo com o Ministério da Saúde.

Diferente de vacinas inativadas ou atenuadas, as VLPs não utilizam o vírus inteiro e não contêm material genético viral, somente fragmentos de proteínas. Elas se agrupam e formam uma partícula semelhante ao vírus que “engana” o organismo, ativando a resposta imune.

“As VLPs conseguem induzir alta resposta celular porque entram nas células, como os vírus, mas são incapazes de se replicar e causar doença. E as VLPs que acabam ficando na circulação sanguínea ativam a resposta de anticorpos”, afirma a pesquisadora Soraia Jorge, diretora do Laboratório de Biotecnologia Viral.

As partículas foram produzidas em células de inseto, utilizando um baculovírus recombinante que carrega informações genéticas do Zika e não infecta humanos. Na cultura celular de insetos, ambos se multiplicam. “Formam-se dois lotes: baculovírus modificados e VLPs de Zika, para obter somente as VLPs purificadas”.

Nesse momento, as VLPs estão prontas para ser testadas em animais para avaliar a segurança e capacidade de provocar resposta imune. Segundo Soraia, testes pré-clínicos conduzidos em outros países já demonstraram que partículas semelhantes ao Zika são imunogênicas, então a expectativa é de resultados positivos.

Além de ser segura e comprovadamente eficaz, a plataforma estudada há décadas pode ser aplicada no desenvolvimento de outras vacinas. “Podemos usar esse mesmo sistema de células de inseto em qualquer vírus semelhante ao Zika, como febre amarela e dengue, que são outros arbovírus".

"Temos estrutura e know-how para isso”, destaca Soraia, que também desenvolve VLPs do vírus da raiva e do SARS-CoV-2 por meio de outros sistemas. É possível produzir essas moléculas em bactérias, leveduras, plantas transgênicas e células de mamíferos e insetos.

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sao pedro