Cacau deve continuar batendo recorde

Nos anos 70, Itabuna e o sul da Bahia viveram tempos de uma fartura inimaginável nos dias de hoje. Era coisa rara ver um carro com mais de um ano de uso nas ruas, por exemplo. Quando um novo modelo de carro ou moto era lançado no país, o primeiro lote era para Itabuna, comprado antecipadamente.

A revenda JS PInheiro recebeu, por oito anos seguidos, o prêmio de maior vendedora de carros Ford no Brasil. Seu dono, José Soares Pinheiro, se tornou presença constante em Seattle, EUA, onde a cerimônia de premiação era realizada. O concorrente José Oduque também vendia mais que o Sudeste.

As pessoas gastavam como se não houvesse amanhã, em roupas, viagens, bebidas e perfumes caros, ostentação, festas, noitadas em boates. Não era raro algum fazendeiro trazer uma atriz da Globo para uma noite especial, paga a preço de ouro. Ninguém perguntava o preço de nada, simplesmente pagava.

Tudo isso movimentado pelo cacau, que em 1978 chegou a uma cotação de US$ 4.287 por tonelada na bolsa de New York. Muita gente se pergunta por que hoje, com ela em US$ 5.420, não vivemos uma era igual e a resposta está no quanto cada valor significava em sua época.

Em 1978, a safra atingiu 284 mil toneladas e hoje é de 220 mil toneladas. Mas o importante é que os US$ 4.287 de 1978 valem hoje 4,7 vezes mais, corrigidos segundo o Banco Central americano, ou US$ 20.148, o que se traduz num preço por arroba no eixo Itabuna-Ilhéus de R$ 1.420 contra os R$ 380 atuais.

O dinheiro que circulou naquela época somente com o cacau somou mais de US$ 5,7 bilhões, contra US$ 1,1 bilhão hoje. Em reais, eram R$ 28,5 bilhões na cidade em apenas um ano. Hoje são R$ 5,5 bilhões numa época em que tudo também custa muito mais caro do que naquela época.

O consultor Adilson Reis, especializado em commodities, foi entrevistado pelo jornalista Marcel Leal no programa Mesa Pra Dois, da Morena FM. Adílson explicou que a valorização recorde é consequência do tombo da lavoura nos países que lideram a produção mundial, Costa do Marfim e Gana, na África.

"Os produtores africanos tiveram dificuldades com eventos climáticos e ainda enfrentam uma praga, o vírus do broto inchado". Segundo Adilson, o fato de o continente concentrar 70% da produção de cacau do mundo sempre lhe pareceu “um barril de pólvora prestes a explodir".

Ele observa que isso aconteceu no sul da Bahia, no final da década de 80, com a vassoura de bruxa. Na época, o Brasil era o maior produtor do mundo. Hoje, ocupa a sexta posição. Adílson também explicou que esta subida forte de preços em seis meses se deve à atuação dos fundos de commodities.

"Eles detectam um produto com alta demanda e pouca oferta e sai comprando papéis daquela commoditie. Até o meio do ano passado, comprava uma média de 10 mil contratos. Hoje estão comprando 70 mil. E a tendência é continuar faltando cacau, o que fará com que esses preços se sustentem mais tempo".

Porém, Adilson aconselha quem tiver cacau a aproveitar a oportunidade e vender. "Mais urgente," contou, "é investir na qualidade das amêndoas que hoje, no geral, é ruim. Quando houver safra suficiente para que a gente volte a exportar, não vai poder, porque a exigência é muito alta lá fora".

A conversa inteira poderá ser ouvida a partir desta quinta no Spotify (procure por "Marcel Leal") ou a partir de link na seção Podcasts do site morenafm.com O Mesa Pra Dois vai ao ar às quartas-feiras, sempre às 15 horas.

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sao pedro