Livro desnuda a literatura erótica

Entre a edição da primeira revista e os portais e sites do gênero, a imprensa voltada aos temas carnais (libidinosos ou sensuais) tem um longo percurso no Brasil. Mais de um século e meio. Neste intervalo, as publicações incitaram a libido de homens e mulheres, e geraram polêmicas, debates e embates.

É o que aponta o jornalista e pesquisador Valmir Costa em "Repórter Eros: a história do jornalismo erótico brasileiro". O livro será lançado pela Cepe Editora neste sábado (20), às 17h, na Livraria do Espaço, na Consolação, em São Paulo (SP).

“Ao longo da história, o sexo é cercado de tabus e de censuras. Nem por isso deixa de construir um discurso atraente e tentador”, afirma Valmir Costa. A comprovação do poder deste discurso, bem como as medidas para coibi-lo ou mantê-lo dentro dos padrões dos “bons costumes”, estão nas 696 páginas do novo título.

O autor divide o processo em dez fases, que se estendem do surgimento da imprensa no país, no começo do século XIX, ao declínio recente das revistas do gênero. A publicação é enriquecida com mais de uma centena de fotos e ilustrações, principalmente capas e páginas de revistas e jornais.

“No mercado editorial brasileiro, várias foram as publicações eróticas com recorte de gênero. Primeiramente para homens heterossexuais, numa relação de poder, e posteriormente para mulheres heterossexuais e homens e mulheres homossexuais”, descreve.

No rol das revistas analisadas, há títulos famosos e desconhecidos, indo da Ba-Ta-Clan, de 1867, que, escrita em francês, encaixa-se na fase embrionária da imprensa estudada, ao O Badalo, de 1893, a primeira revista propriamente erótica. A lista aborda também veículos do fim do século 20 e começo do 21.

Entre eles, Ele Ela, Close, Playboy, Penthouse, Sex Symbol, G Magazine e Lolitos. Perguntado por nosso editor, Marcel Leal, sobre os famosos "catecismos" de Carlos Zéfiro, Valmir respondeu que "o livro não aborda apenas as revistas, mas o contexto social, que inclui o teatro, o cinema, a política, a música, etc".

"E os catecismos de Alcides Aguiar Caminha (Carlos Zéfiro) são citados, sim e com certeza". Ele explica que a nudez ocupa espaço na imprensa erótica paulatinamente. "E os corpos femininos são os primeiros expostos. Em 1906, a revista O Rio Nu inova e traz na capa a fotografia com três mulheres nuas ilustradas".

Daí até a liberação para se publicar o nu frontal se passam mais de sete décadas. O primeiro é publicado na edição de março de 1980 da Ele Ela. A mudança estimula o crescimento das tiragens nos anos seguintes. Em março de 1999, a Playboy com a modelo Suzana Alves, a Tiazinha, vendeu 1.223.000 exemplares.

"Em dezembro, as vendas da edição em que o destaque é a modelo Joana Prado, A Feiticeira, alcançam 1.247.000 exemplares", conta Valmir, que destaca "Repórter Eros vai além de um estudo sobre o jornalismo erótico, contextualiza com os acontecimentos e ideias vigentes de cada época".

O Brasil das revistas libidinosas, que começam se reportando aos cabarés, vem a ser ainda o país que vive sobre a forte influência da Igreja Católica, a censura imposta pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, o golpe civil-militar de 1964 e o sucesso das dançarinas da Discoteca do Chacrinha na televisão.

Todas estas abordagens aparecem em ordem cronológica e carregadas de ineditismo, trazendo para o leitor explicações para o surgimento de expressões curiosas. “Veado”, “vaca”, “fresco” e “fazer sexo”, por exemplo. Os assuntos são alinhados a questões como feminismo, machismo, homofobia e racismo.

"Repórter Eros: a história do jornalismo erótico brasileiro" é o primeiro livro de Valmir. Pernambucano, ele se graduou em Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e fez mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).

A experiência profissional do autor conta com passagens pelas universidades Mackenzie, Anhembi Morumbi e Uninove, lecionando Semiótica, Teorias da Comunicação, Redação e História do Jornalismo

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sao pedro