Cantoras celebram poeta Waly Salomão
Duas cantoras para um poeta. As baianas Jussara Silveira e Sylvia Patricia (foto) se unem em tributo a Waly Salomão, no show “Balada de um Vagabundo – A Música de Waly Salomão”, que acontece no Pátio Viração, da Casa Rosa, no dia 11 de janeiro, às 22h. Os ingressos estão à venda pela Sympla.
O projeto teve sua estreia em maio, para homenagear o “homem dos múltiplos caminhos”, como se definia. Na verdade, o tributo ao mestre das palavras tem também caráter afetivo.
No fim da década de 1970, Jussara Silveira e Sylvia Patricia começaram a carreira juntas, num show em Jequié, produzido pelo amigo Antonio Salomão, que as apresentou ao tio Waly. Tornaram-se todos amigos e, no primeiro show das cantoras em Salvador, ele, já famoso pelo trabalho com Gal Costa, deu algumas dicas.
“A poesia de Waly é astuta, vigorosa, atinge, tem flecha certeira, mas também tem a delicadeza de uma água brotando, de uma fonte nascendo e desbravando a vida, como em ‘Olho d’Água’, que eu canto no show. Meu desejo é de que o ouvinte veja o show, escute as canções e possa buscar a poesia total de Waly Salomão”, diz Jussara.
“Waly foi um artista multimídia, totalmente de vanguarda, muito à frente de seu tempo, e um poeta incrível, que está cada dia mais atual. Agora mesmo estão traduzindo seus poemas para o espanhol e inglês e há um documentário sobre ele em produção”, conta Sylvia Patricia.
Espírito livre, dono de uma língua ligeira em versos disruptivos, românticos, cortantes, debochados, irônicos e inspirados, o poeta Waly Salomão, nascido em Jequié em 1943, ocupa um espaço fundamental na literatura brasileira.
Multiartista, dirigia shows como o icônico “Fa-Tal”, de Gal Costa, era um versátil letrista e imprimiu versos em músicas com Jards Macalé, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto e outros tantos nomes estrelados, foi produtor de discos, ator e o que se costumava chamar de “agitador cultural”.
Waly se esparramava por várias artes. Dono de uma altíssima erudição de páginas e páginas mastigadas do melhor da literatura mundial, flertou com a geração beatnik e foi figura importante do Tropicalismo, embora rejeitasse ser poeta tropicalista: “Não me sinto assim”, costumava dizer.
Morto precocemente em 2003, aos 59 anos, estaria hoje na casa dos 80, junto com muitos de seus parceiros.
A potência criativa de Waly reverbera em muitas direções. Por isso, um dos momentos fortes do projeto são as projeções de vídeos, fotos e falas que dão conta da pluralidade desse artista. “As projeções ampliam a gama de possibilidades de mostrar as várias faces de Waly”, conta a produtora Cláudia Salomão, sobrinha de Waly.
Ela recrutou o escritor e artista visual Omar Salomão, seu primo e filho do poeta, para ajudar. A inspiração para a edição do vídeo veio de guardados familiares. “Tenho em casa uns rabiscos, tipo uns grafismos de Waly, que gostava de escrever palavras soltas, intercalar com pequenos desenhos, pôr palavras de cabeça para baixo, lateralizadas, e eu lembrei disso e pedi a Omar algo assim e ele mandou”, explica.
A VJ Flora Rodriguez recebeu os briefings para alternar imagens de Waly com grafismos e depoimentos que resumissem sua multiplicidade. A atriz e diretora teatral Hebe Alves não só contribuiu com a edição final como orientou a movimentação de Jussara e Sylvia no palco, marcando interações entre elas e os vídeos.
O show tem direção musical de Alex Mesquita, também na guitarra, violão e vocais, junto a Fernando Macuna na percussão, e Alexandre Vieira no baixo e vocais. No repertório, canções como “Mel” e “A Voz de Uma Pessoa Vitoriosa” (Caetano), “Memória da Pele” (João Bosco), “Vapor Barato” (Jards Macalé), “Assaltaram a Gramática” (Lulu Santos), “Motivos Reais Banais” (Adriana Calcanhotto) e “Dono do Pedaço” (Gilberto Gil).
Em cena, duas cantoras que deslancharam suas carreiras individuais em terrenos diversos se amalgamam em uma alquimia com cheiro de contracultura moderna, porque Waly Salomão não se aprisionava em datas e sua biruta sempre se enchia de ares futuristas.
Assim, a canção popular de Jussara Silveira e o pop-rock de Sylvia Patricia se despem de suas essências para se deixar soprar pelas velas da “Navilouca” polissêmica walyana com cumplicidade, risos, leveza, danças, poesia e muito canto. Acima de tudo, o projeto busca despertar novas gerações para a singularidade de Waly.
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