PMs que executaram colega depuseram
O sargento PM Adeilton Rodrigues D'Almeida (foto), vítima de uma emboscada dos próprios colegas, acompanhou o depoimento deles nesta quinta-feira. "Os policiais disseram que eles não têm culpa, uma vez que eles foram motivados por ordem superior", afirmou, sobre o que relataram os 13 envolvidos no ataque.
O atentado também deixou morto o subtenente Alberto Alves dos Santos, de 51 anos. D'Almeida espera que todos sejam condenados. "O que eu prego, o que eu peço é que seja feita justiça, principalmente pela morte do meu amigo, uma pessoa honrada, um pai de família, que teve a vida ceifada de forma torpe".
A operação desastrada da Cipe Cacaueira resultou na morte do subtenente em uma pousada de Itajuípe. Ele foi baleado depois que a Cipe supostamente recebeu a denúncia de que existiam homens armados no prédio. Só que os dois eram policiais. Adeilton foi ferido e internado.
Eles estavam hospedados em um hotel porque iam fazer a segurança do candidato ao governo da Bahia ACM Neto, que visitaria Coaraci no dia seguinte. Na versão dos atacantes, a Cipe buscava assaltantes de banco e abordou quatro homens na pousada. Dois não reagiram e os outros dois atiraram contra a guarnição.
No confronto, o subtenente foi morto e o sargento ferido gravemente. Mas o sargento D'Almeida garante que não houve confronto algum. Ele conta que os policiais da Cipe arrombaram uma janela e a porta do quarto, onde já entraram atirando. E que recebeu dois tiros ainda quando estava dormindo, cansado da viagem.
“Estava dormindo e recebi o tiro. Eu fui alvejado duas vezes. Os policiais entraram quebrando as janelas e as portas, mesmo eu gritando o tempo todo ‘sou polícia, sou polícia’ e ainda assim me alvejaram mais três vezes”, afirma Adeilton. Ele afirma que pediu, reiteradamente, para ser socorrido e foi ignorado.
"Pegaram minha arma e efetuaram vários disparos dentro do quarto, me deixaram encostado na parede, o tempo todo mandando ficar calado". Os tiros provavelmente foram disparados para "confirmar" a versão de resistência.
"A gente fica triste em lembrar dessa cena e que um amigo nosso foi morto e, às vezes, ainda tentam macular a imagem dele dizendo que ele tentou atirar contra a guarnição, assim como também dizem que eu atirei contra a guarnição", comentou na época.
Em seu depoimento, em julho de 2023, o sargento já havia relatado que ele, Alves e outros dois profissionais estavam dormindo na Pousada Itajuípe quando foram surpreendidos por policiais arrombando os quartos, o que pode ser comprovado pelas imagens das câmeras de segurança da época.
"Os policiais disseram que eles não têm culpa uma vez que eles foram motivados por ordem superior a fazer essa abordagem e consequentemente houve esse homicídio e tentativa de homicídio. Eles dizem que estavam em uma real missão, onde acreditavam que efetivamente estavam lá abordando o marginal de nome Buiu".
André Marcio Jesus, o Buiu, era considerado foragido da polícia depois de ter sido liberado do Complexo Penitenciário de Lauro de Freitas e não retornar. Enquanto realizavam buscas pelo criminoso, os policiais acusados receberam a informação de que homens armados estavam no hotel em Itajuípe.
Apesar de óbvio, até hoje a Justiça e o Ministério Público não buscaram apurar quem passou aos policiais a informação de que as pessoas na pousada eram traficantes procurados. A ordem do ataque veio "de cima" e pode indicar um crime de mando, vindo do alto escalão da Secretaria de Segurança Pública.
Muito esforço foi feito para produzir estas notícias. Faça uma doação para repor nossas energias. Qualquer valor é bem vindo. Pode ser via Bradesco, ag 0239, cc 62.947-2, em nome de A Região Editora Ltda, ou pelos botões abaixo para cartão e recorrentes.
