Nova vacina de tuberculose surpreende
A nova candidata vacinal contra tuberculose que vem sendo pesquisada pelo Instituto Butantan foi capaz de induzir uma resposta imune celular maior e mais duradoura do que o imunizante tradicional, o BCG (Bacilo de Calmette e Guérin), segundo dados publicados na revista Frontiers in Immunology.
A nova vacina gerou altos níveis de células de memória imunológica por até seis meses em testes com modelos animais. A tuberculose atinge 10 milhões de pessoas todo ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), principalmente em países de baixa e média renda. Destas, 1,2 milhão vão a óbito.
O produto em estudo é um BCG recombinante, que consiste na inclusão de um adjuvante à vacina tradicional para potencializar sua eficácia. A candidata vacinal do Butantan é composta pelo BCG (a bactéria da tuberculose atenuada) junto com um fragmento da toxina LT da bactéria E. coli, denominado LTAK63.
Essa substância é detoxificada e, portanto, segura para uso e incapaz de causar doença. Aplicado no Brasil há 100 anos, o BCG tradicional é altamente eficaz em crianças. No entanto, a queda da imunidade na vida adulta e o desenvolvimento de resistência nas bactérias têm motivado a busca por uma nova vacina.
No país, a incidência de casos em adultos é 6 a 8 vezes maior do que em crianças, segundo o Ministério da Saúde. “O BCG recombinante induz a produção de vários tipos de célula de memória. Após seis meses, a vacina continuou protegendo da mesma forma, enquanto a resposta do BCG tradicional começou a cair”, diz a pesquisadora do Butantan Luciana Leite (foto), que trabalha com BCG desde 1996.
Células de memória são responsáveis por “lembrar” o organismo do contato anterior com o patógeno – no caso, a bactéria – e promover uma rápida resposta em caso de infecção. Além de durar pelo menos seis meses, a proteção com BCG recombinante foi superior.
A candidata vacinal reduziu a infecção em 99% dos modelos analisados, enquanto o BCG tradicional reduziu em 90%. Em estudo anterior, os pesquisadores já haviam registrado uma maior resposta da vacina recombinante, além de uma melhora da função pulmonar em modelos animais.
A tecnologia da pesquisa foi patenteada no Brasil, Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Índia, África do Sul e Europa. Os resultados ganharam notoriedade internacional e foram apresentados por Luciana no Fapesp Week, na China, em junho de 2024. E no 7th Global Forum on Tuberculosis vaccines, evento internacional do setor.
Agora, Luciana e equipe estão investigando detalhadamente quais são os mecanismos de proteção envolvidos na vacina BCG recombinante. Mais pesquisas ainda precisam ser realizadas para viabilizar, futuramente, o desenvolvimento de testes em humanos.
Em um primeiro momento, a vacina BCG recombinante com o adjuvante LTAK63 continha também um marcador de resistência a antibióticos. Para retirar o marcador indesejado e tornar a tecnologia viável, os cientistas usaram a técnica de CRISPR-Cas9, editando os genes do BCG, deletando o que produz proteína essencial para a bactéria, a lisina.
Depois, o gene essencial foi introduzido no vetor junto com o LTAK63, transformando-o na única fonte de lisina disponível para o BCG. Assim, o BCG carrega o adjuvante e a tecnologia fica adequada para a realização de testes clínicos.
Muito esforço foi feito para produzir estas notícias. Faça uma doação para repor nossas energias. Qualquer valor é bem vindo. Pode ser via Bradesco, ag 0239, cc 62.947-2, em nome de A Região Editora Ltda, ou pelos botões abaixo para cartão e recorrentes.
