A arte do troféu Jupará
As festas do Troféu Jupará tinham, além dos próprios artistas, outras duas atrações, estatueta e decoração. A primeira foi criada pelo artista plástico Osmundinho Teixeira e teve cinco versões ao longo dos 15 anos do evento.De comum em todas o macaco jupará estilizado e a base em madeira nativa da região. Mas o fundo foi mudando até chegar ao último, para mim o mais bonito, em argila escura. Osmundinho sempre teve liberdade para mudar a estatueta.
Isso porque não faz sentido você contratar um artista e limitar o que ele deve fazer. Se gosta do trabalho, tem que confiar. E o talento de Osmundinho, mais famoso pelos santos, que fazem sucesso até no exterior, é inegável, além de ser um amigo das artes.
Osmundinho nunca cobrou pela criação e o Jupará só precisava bancar o material. Assim como ele, tive a ajuda de outra voluntária muito especial, Lucimar Del Pomo. Nos primeiros anos do Jupará eu fazia tudo sozinho, do planejamento a bater prego na decoração.
Em 1998, Lucimar me perguntou se eu precisava de ajuda. “E como!” A partir daí ela cuidou da decoração da AABB de Itabuna, interna e externa, além de preparar o camarim, que só tinha uma exigência: tinha que ser tão bom quanto o feito para artistas nacionais.
Para mim todo bom artista é igual, seja de Itabuna ou São Paulo, famoso ou desconhecido, iniciante ou veterano. Na Morena FM os regionais sempre tiveram o mesmo espaço e tratamento dos nacionais, por isso até no camarim tinha que ser assim.
A decoração, desde o primeiro ano, foi feita em cima de coisas do sul da Bahia, em especial nossa tradição das fazendas de cacau. Em alguns anos chegamos a cobrir todo o chão da AABB com folhas de cacau, replicando o piso das roças.
Nas mesas, invariavelmente tinha uma muda de cacau que os convidados podiam levar para casa e se tornar “fazendeiros”. Conseguidas na Ceplac, a ideia era que as mudas incentivassem quem não é fazendeiro a ajudar a manter a cultura cacaueira no quintal.
No palco, um enorme painel com temas da região e um jupará no meio foi a marca da festa em todos os anos. Na última, em 2010, o cenário ganhou um legítimo jegue de roça com caçuás e uma trabalhadora quebrando cacau na entrada.
Teve um ano, 2005, em que o Troféu Jupará ganhou um show de “efeitos especiais” inesperado, uma chuva intensa, com direito a muitos raios, relâmpagos e trovoadas. Eu, que adoro isso, me senti abençoado, como se Deus estivesse dando um espetáculo para nossos convidados.
Confesso que, ao sair de casa nessa chuva, quase sem enxergar as ruas, alagadas, pensava que seria a única pessoa na AABB, além do mestre de cerimônia oficial, Ramiro Aquino. Mas a AABB lotou como sempre e a chuva só acrescentou magia à noite.
De negativo só a ausência de Candinha Dórea, participante assídua da festa, que estava com gripe, justamente no ano em que lhe conferi um Troféu Jupará Especial por sua dedicação à cultura regional. Aos 91 anos, ainda trabalhava pelo setor. O troféu foi recebido pela neta Cláudia Dórea.
Ah, sim, lembrei que tinha prometido contar sobre uma disputa resolvida por 1 voto. Aconteceu em 1997, quando Fabiano Carillo, um dos artistas mais completos do país, venceu na categoria Cantor com apenas um voto sobre David, vocalista da Farol Blues Band, que estava estourada por aqui.
Mas a vingança veio no ano seguinte, quando David venceu por 2 votos sobre Fabiano. Ficar entre os três preferidos da população nunca foi fácil, ser o primeiro ainda mais. Na semana que vem vou contar sobre os convidados ilustres, os shows da noite e as homenagens especiais.
A rádio Morena FM 98 completou 30 anos em dezembro de 2017, por isso seu fundador, Marcel Leal, conta aqui a história e as estórias da rádio mais ousada da Bahia.
Tweet |