Construindo a Morena
Construir o prédio onde você vai trabalhar é uma coisa gratificante, mas tem horas que a gente se irrita, e muito. Toda sexta eu perguntava ao mestre de obras se tinha material suficiente para o fim de semana (foi feita em empreitada). “Claro, seu Marcel, tem sim”.
Claro que não tinha. No domingo ele invariavelmente me ligava, às 6 horas, para dizer que o cimento tinha acabado. Ainda bem que o comércio do São Caetano já abria aos domingos naquela época. Mesmo assim, perdi muitas horas de sono.
A casa em si era um projeto fácil, com alguns detalhes importantes para uma rádio, como separar as tubulações de água (no piso), elétrica (na parede) e de dados (pelo teto), para que nenhuma interferisse nas outras. E ter um disjuntor para cada coisa.
Difícil foi comprar fora uma tonelada de cobre para fazer um aterramento separado para cada estúdio, para a torre, para o transmissor, para a casa. Fazer a base da torre também foi trabalhoso. O buraco tinha 3x3x3 metros e as sapatas são enormes.
Por falar em torre, um dos ajudantes de pedreiro que trabalharam nela acabou empregado pela rádio e está até hoje. É Eduardo, Piuí, nosso encarregado de serviços gerais. A gente pensou em cimentar ele na base da torre, mas a chance passou (rs).
Uma atenção especial foi dada aos três estúdios, que têm paredes e teto duplos para evitar interferência de sons externos, dutos para interligar os equipamentos e portas feitas sob medida, à prova de som... e pesadas como sua consciência.
Depois de pronta a casa, foi a vez de encontrar quem pudesse projetar e montar os estúdios, mesmo sem ter ainda os equipamentos. Muita gente indicou e contratei Luiz Roberto Marcondes, que fez estúdios para a Jovem Pan e a Transamérica, em São Paulo.
Sujeito de ótimo humor, competente e eficiente, Luiz desenhou e construiu as mesas sob medida, com materiais de alta qualidade e um acabamento muito bonito. Durante a montagem era comum a gente passar o tempo contando piadas, no meio do barulho da serra elétrica e furadeira.
30 anos depois, as mesas continuam tão perfeitas quanto antes. Aliás, tudo na Morena FM foi pensado para durar e para não dar nenhum problema ao longo dos anos. Foi assim com o layout da casa, os estúdios, equipamentos, torre, antena, sistema elétrico.
Por falar em torre, ela é outro diferencial da Morena FM, porque, ao invés de feita em ferro ou aço normal, como era comum na época, foi encomendada à Sociedade Técnica Paulista em aço galvanizado a quente. Isso garante que nunca precisa manutenção.
Tarefa difícil foi conseguir subir o rolo do cabo de transmissão, importado dos EUA, grosso e extremamente pesado, já que a rádio tem na entrada uma ladeira íngreme. Até hoje o rolo está lá, lembrando nossa história e o trabalho que deu.
Se a casa foi relativamente tranquila, a compra dos equipamentos foi uma odisséia e receber alguns deles, uma guerra. Na lista de qualquer empresa do sudeste, ser uma rádio do interior da Bahia te coloca no fim das prioridades. Te conto semana que vem.
A rádio Morena FM 98 completou 30 anos em dezembro de 2017, por isso seu fundador, Marcel Leal, conta aqui a história e as estórias da rádio mais ousada da Bahia.
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