Pagando o preço
Se tem uma coisa que deu trabalho foi selecionar e comprar os equipamentos da Morena FM. Buscando o melhor que havia no mercado, comprei toca-discos profissionais (é, eu queria já começar com CD, mas eles não existiam no Brasil) e a antena sem problemas..
A negociação das mesas de som levou um dia inteiro, conseguindo baixar o preço bastante, depois ampliando o prazo de pagamento. A negociação foi na Scala, de Flávio Schermann, filho do Carlos, aquele engenheiro que projetou a rádio.
Depois de um dia de muito café e muita negociação, ao fechar o pedido, Flávio parou e se deu conta do que eu tinha conseguido. “Pô, baiano, nunca mais vou vender nada para você!” Nunca mais teve que vender, porque seu equipamento é sensacional e funciona como novo até hoje.
Acabamos amigos e era um papo certo sempre que eu ia a São Paulo ou o encontrava em congressos de rádio. Infelizmente, perdi esse amigo quando ele tinha por volta de 40 anos, infartado. Ficou a lembrança da amizade e seu legado de qualidade na Scala.
Fiz uma ótima negociação também com o transmissor mas, apesar do equipamento da WTK ser excelente, a empresa não era. Esperei seis meses pelo transmissor (e descobri que passaram outra rádio na frente só porque era de São Paulo) e fui surpreendido com uma nova exigência.
Já tinha pago todas as parcelas e me exigiram mais uma para liberar o transmissor. Paguei e fui surpreendido de novo, com a exigência de outra parcela extra. Desta vez, mandei um engenheiro entregar em mãos, só depois que visse o equipamento já dentro do caminhão.
Depois que a rádio entrou no ar, descobrir que tinham sabotado o transmissor. Toda madrugada ele desligava e eu tinha que ir até a rádio trocar um fusível e religar. Quando cansei, trouxe o projetista dele, Janjão. Ele praticamente desmontou e montou de novo. Resolveu.
Por sinal, o processador de áudio e o excitador de FM escolhidos foram os dele, que têm a mesma qualidade dos americanos e europeus. Já os comerciais de rádio, na época, eram tocados a partir de toca-fitas de rolo.
Mas a Morena FM já começaria com a nova tecnologia de então, as casseteiras IBC, do gente boa Ildevan, outro engenheiro que eu tive o prazer de conhecer. Elas usavam fitas cassete, mas garantiam uma qualidade e praticidade muito maior que a de um toca-fitas comum.
O resto dos equipamentos foi comprado sem nenhum outro problema, incluindo aí cabos especiais, equalizador paramétrico, banco de efeitos, microfones, reverb, entre outros. Porém, assim que começamos a usar tudo isso (ainda em testes, fora do ar) percebemos um problema.
O transformador da Coelba não era suficiente para a carga. Na época estatal, a empresa se recusou a trocar o transformador por um maior, até que a convenci fazendo uma coisa bem simples: liguei todo o equipamento e derrubei a energia da rua toda. Aí, entenderam...
Com a chegada dos equipamentos, a gente já podia treinar a primeira turma de locutores, que ia quebrar um tabu na cidade (e valer uma briga com a direção do sindicato dos radialistas da época). Uma briga que valeu a pena no final. Te conto semana que vem.
A rádio Morena FM 98 completou 30 anos em dezembro de 2017, por isso seu fundador, Marcel Leal, conta aqui a história e as estórias da rádio mais ousada da Bahia.
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