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10.Outubro.2017

A festa que Hilário perdeu


cd jupara A festa do Troféu Jupará de 1995 foi marcante por vários motivos, alguns alegres, outros tristes. Uma novidade foi o show de encerramento que, pela primeira vez, teve uma atração internacional, o cantor angolano Abel Duerê, além da ótima cantora Márcia Salomon.

Este ano foi marcado pela tragédia e pela conquista. A tragédia foi o assassinato do compositor e cantor Hilário Lima em fevereiro, um crime com requintes de crueldade que chocou todo o sul da Bahia pela violência e motivo fútil.

Hilário morreu sem saber que vencera o Troféu Jupará nem ver suas músicas gravadas em CD, seu maior sonho. Ele entrou no CD Jupará, primeira coletânea e primeiro CD independente do Brasil, com duas faixas, Lua de Prata e A Culpa.

A primeira tem uma história curiosa. Hilário tinha deixado o DAT da música comigo e viajou logo em seguida. Impressionado com a beleza da faixa, eu queria colocar na programação da Morena FM de imediato. O problema é que Hilário não deixou o nome da música.

Como ele ia demorar para voltar, não resisti e batizei a faixa de “Lua de Prata”, baseado na letra. Quando Hilário voltou, a música já tinha estourado na Morena FM e era impossível mudar o nome. Para meu alívio, ele me disse que gostou mais do nome que dei.

Hilário foi assassinado poucos dias antes da festa do Troféu Jupará, que foi dedicada a ele, assim como o primeiro CD Jupará, que nasceu junto com outro “bebê”, a Gravadora e Editora Jupará Records, dedicada aos artistas sulbaianos (grapiúnas).

A AABB de Itabuna lotou para a entrega do troféu, num clima de comoção e emoção à flor da pele. Quando fazia uma homenagem a Hilário, com a família dele no palco, ela começou a chorar e eu também não consegui segurar as lágrimas, pela perda do talento e do amigo.

O público inteiro chorou quando Bidú soltou “Lua de Prata” justamente quando eu falava de Hilário. Foi uma emoção em massa como jamais vi. Mas ainda tinha mais emoção pela frente. Na época, eu não sabia os vencedores até abrir o envelope.

A apuração das cédulas (a votação ainda não era em computador) era feita por Agenor Gasparetto, da Sócio Estatística, que me entregava os envelopes fechados sem revelar o resultado das categorias. Eu só sabia ao abrir e ler o nome.

Naquele ano, a votação foi feita logo no final do verão, por isso se imaginava que o vencedor da categoria Cantor seria alguém com trabalho de agito, como axé, forró ou pop. Eu imaginava Kokó ou Ari PB, que estavam estourados na Morena FM, única rádio que tocava os artistas regionais.

Minha garganta travou ao abrir o envelope e ver nele o nome de Hilário, eleito pelo público o melhor cantor mesmo com uma música lenta e melancólica tocando no verão. Levei um tempo para falar, com a voz cortada, quase sem sair, o nome dele.

Novamente a comoção, com o público inteiro caindo no choro e Bidú soltando a música de novo, o que só aumentou a emoção. Esta foi a festa do Troféu Jupará mais incrível de todas. Quem estava lá não vai esquecer jamais.

Uma coisa que nunca soube se é verdade, pode ser apenas uma lenda, mas me foi passado assim por um amigo dele, é que Hilário, pouco antes de morrer, quando era socorrido em uma ambulância, teria dito “não deixe eu morrer sem ver meu nome no CD Jupará”.

Seja verdade ou não, sinto muito, até hoje, por não poder ter entregue a Hilário o CD Jupará com suas duas músicas. Ele não pode ver o resultado de seu talento no CD, que foi um enorme sucesso e vendeu mais de 10 mil cópias somente na região. Semana que vem, uma disputa resolvida por 1 voto.



A rádio Morena FM 98 completou 30 anos em dezembro de 2017, por isso seu fundador, Marcel Leal, conta aqui a história e as estórias da rádio mais ousada da Bahia.

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