A revolução digital
Na semana passada contei sobre o Allegro e nesta vou lembrar como a Morena FM se tornou a primeira emissora da América Latina a só usar músicas digitais ou, como a gente falava na época, a se tornar 100% laser, uma referência aos CDs.
Eu conheci o CD em 1985, em Londres, assistindo o lançamento do primeiro aparelho, pela Sony. Era um modelo portátil. Na verdade, nem tanto, porque usava seis pilhas daquelas grandes, pesava pra caramba e o disco pulava toda hora.
Mas, quando coloquei o fone de ouvido e apertei play, foi como se tivesse passado toda a minha vida surdo e só então começava a ouvir. O primeiro CD que coloquei foi um do Phil Collins que eu curtia muito em LP e cassette. No CD, comecei a ouvir instrumentos que não sabia que estavam lá.
Comprei o aparelho e todos os CDs que existiam (não passavam de 20, todos bancados pela Sony para promover o toca-CDs). Justamente por isso, esperava inaugurar a Morena FM usando só CDs. O que eu não sabia é que dois anos depois, em 1987, o CD ainda seria inexistente por aqui.
Mesmo decepcionado, usei meu toca-CD para transmitir um especial sobre os Beatle de 4 horas, todo digital. Deve ter sido o primeiro CD a tocar no rádio brasileiro. Não sei. Mas sei que o primeiro programa regular de rádio em CD foi o Expresso 98, da sua Morena FM.
Ele só foi possível porque fui a um congresso de rádio em Blumenal e lá encontrei o pessoal da TM Century, uma empresa dos EUA que fornecia lançamentos em primeira-mão através de um esquema pago mensalmente, em dólares, e caro.
Os caras só tinham 5 rádios no Brasil assinando o serviço e não queriam mais nenhuma. A sorte foi que uma delas desistiu e eu usei todo mundo que conhecia para pressionar a TM a me aceitar como cliente. O que selou o negócio foi o espanto deles com o tipo de material que eu queria.
Eles forneciam os lançamentos em LPs e não acreditaram quando disse que queria em CD, até porque não existia toca-CD à venda no Brasil, nem mesmo caseiro. Tive que importar dois dos EUA para tocar os 5 CDs que recebia toda semana com as músicas, todas inéditas no mundo.
Tendo esse material eu finalmente pude lançar o primeiro programa do Brasil 100% laser, o Expresso 98, com duas horas, onde a gente tocava as 24 melhores. Isso foi em dezembro de 1990. No dia seguinte a gente passava a usar o material no Expresso Mix, espalhado pela programação.
A partir de 1991 a indústria nacional passou a lançar todos os discos também em CD e a Morena FM começou a trocar todo o seu acervo de LPs por CDs. Levou meses mas, em setembro, a 98 se tornou a primeira rádio das Américas a só tocar música digital.
Levou dois anos para aparecer outra, a Manchete FM, de São Paulo, que estreou sua fase digital com um acervo de 400 CDs. A esta altura a gente já tinha mais de 8 mil. Também em 1991, outro marco, ao ser a primeira a usar comerciais exclusivamente digitais. Ou seja, a primeira com programação 100% digital.
O pioneirismo da Morena FM com o som digital, uma década antes do resto do país acompanhar, chamou a atenção da mídia especializada nos Estados Unidos, que fez matérias com a Morena FM. Essas matérias me renderam um convite especial.
A TM Century, ao saber como usávamos o material deles, me convidou para visitar rádios de lá e explicar como fazíamos. A primeira rádio que visitei, a Kiss FM, então a maior de Los Angeles, me trouxe uma surpresa. Conto na semana que vem.
A rádio Morena FM 98 completou 30 anos em dezembro de 2017, por isso seu fundador, Marcel Leal, conta aqui a história e as estórias da rádio mais ousada da Bahia.
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