Votação inédita na Bahia
Um dois marcos do Troféu Jupará foi dar ao público o poder de eleger os melhores da música, dança, teatro e artes plásticas do sul da Bahia, em votação direta em computadores instalados em Itabuna, Ilhéus e na Uesc. Foi o único a fazer isso.
Sem jurados, que sempre têm alguma tendência ou amizades, os eleitos tinham que se esforçar para ser os melhores. E não bastava ter votos em Itabuna ou só em Ilhéus. Ninguém ganhou assim, nem mesmo os que eram um estouro em uma das cidades.
A votação era feita em computadores da Bitway, rodando um software da InfoWorld, abrigados em estandes da Gávea Design, com apoio da CDL de Itabuna e do DCE da Uesc. Um detalhe é que nunca recebemos um centavo de apoio da prefeitura de Itabuna nem da de Ilhéus. Em 15 anos.
Cada stand tinha duas coletoras de voto e um segurança, ficando aberto no horário comercial, exceto o stand que alugávamos no Shopping Jequitibá, que seguia o horário dele, das 10 às 22h. Por ser interno, era o stand mais bacana e, claro, tinha ar condicionado...
Para concorrer, o artista se inscrevia na Morena FM, onde seu nome era juntado às listagens do Teatro Municipal de Ilhéus, do Centro de Cultura de Itabuna e da Casa dos Artistas de Ilhéus. Em cada edição eram cerca de 300 concorrentes em 16 categorias.
A votação sofreu sabotagem duas vezes. Na primeira, 2006, o então prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, mandou desmontar o stand da Praça Adami e tivemos que improvisar a votação na sede do jornal A Região, mas os artistas da cidade saíram prejudicados.
A segunda foi do mesmo Gomes, em 2008, quando simplesmente proibiu a montagem do stand, prejudicando os artistas locais novamente. Uma prova do sucesso do Jupará era receber votos de 21 cidades, em geral passando de 3 mil em dez dias de coleta.
Um problema comum eram as tentativas, de influenciar a votação, fazendo campanha (que eram proibidas pelo regulamento), pedindo voto a quem estava no stand ou tentando votar duas vezes (o software eliminava as duplicadas, baseado no RG).
Nos 15 anos do Troféu Jupará uns cinco ou seis concorrentes foram desclassificados por isso mas, mesmo que não fossem, nenhum deles teria ganho. Eu fazia a apuração e a Morena FM divulgava o nome dos 3 mais votados em cada categoria, por ordem alfabética.
A revelação do vencedor de cada categoria só era feita na festa de premiação, na AABB, e nem Ramiro Aquino, o apresentador oficial, sabia. Ele anunciava a categoria, chamava uma pessoa de destaque para abrir o envelope e anunciar o vencedor.
Todo este suspense criava um clima bacana, de expectativa. A AABB ficava lotada com os artistas, suas famílias, amigos, convidados da Morena FM, imprensa regional, autoridades e personalidades. De vez em quando alguém soltava um boato se dizendo vencedor.
Claro que pagava mico ao descobrir que tinha perdido. Mas o importante era a valorização não só dos vencedores como dos finalistas. No discurso, sempre fiz questão de reforçar que os finalistas eram vencedores, porque não é qualquer um que consegue ser um dos 3 melhores em alguma coisa.
Um sonho que acabei não realizando foi o de ter vários computadores em forma de totem, colocados em todos os espaços de eventos durante o ano inteiro. A pessoa daria notas ao espetáculo que acabou de ver e, no final do ano, a gente somaria tudo.
O eleitor do Troféu Jupará sempre votou em quem foi melhor não no período da votação, mas durante todo o ano anterior e isso é a coisa que mais me gratifica, porque premia a constância e o conjunto da obra. Semana que vem, muita história das festas de premiação.
A rádio Morena FM 98 completou 30 anos em dezembro de 2017, por isso seu fundador, Marcel Leal, conta aqui a história e as estórias da rádio mais ousada da Bahia.
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