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morena fm
11.Agosto.2017

Treinando a equipe


Existem brigas que a gente não quer, mas é obrigado a topar. Foi assim com a primeira turma de locutores da Morena FM, formada do zero, com pessoas treinadas de acordo com o projeto que eu tinha, inédito na Bahia e, em parte, no Brasil.

A diretoria do sindicato dos radialistas de Itabuna da época não entendia o novo patamar de qualidade que eu queria para a rádio. Eles exigiram que eu só contratasse quem já trabalhava em emissoras da cidade.

O problema é que quase todos eram de AM, que tem um estilo completamente diferente do FM. Os poucos que já tinham trabalhado em FM, em Itabuna e Ilhéus, não tinham sido treinados e estavam presos num estilo que não combinava com o projeto.

Por isso, peitei o sindicato e abri inscrições para quem quisesse trabalhar em rádio mas nunca o tinha feito. Desta seleção, treinamos uns 15 que mostravam jeito para a função.

Aliás, outro problema foi como treinar esse pessoal, que nunca tinha usado um equipamento profissional nem feito locução.

Eu tinha conhecido Cézar Rosa, pioneiro do FM em São Paulo e um dos melhores locutores do país, e lembrei que ele dava aulas de rádio no Senai. Liguei para Cezar, mas ele ia sair de férias com a esposa para algum lugar do Nordeste, não me lembro qual.

Mas lembro de com o mudei seu destino... Convenci Cézar que valia mais a pena ele conhecer Ilhéus e Itacaré.

“Deixo meu carro contigo e arrumo hospedagem. Voce passeia pela manhã e treina meu pessoal pela tarde. Passa umas férias bacanas e ainda ganha”.

Mais do que um amigo e “patrono” da Morena FM, Cézar não só formou uma equipe de qualidade, como nos deu o estilo de locução da rádio. Suas lições são usadas até hoje, assim como as vinhetas que gravou para nos ajudar naquele início.

Como os estúdios ainda estavam sendo montados, instalamos um pranchão em cima de cavaletes, os toca-discos e as casseteiras em cima, o microfone num pedestal e treinamos. Foram duas semanas de treino, de absorção do estilo e das técnicas de Cézar.

Um vizinho, que tinha poder naqueles anos, não sabia direito o que é uma rádio e achava que o barulho que fazíamos continuaria depois. Chegou a reclamar que seu cachorro “se incomodava” com a movimentação e ameaçou impedir a rádio de ser inaugurada. Obviamente, perdeu.

O treinamento não foi restrito aos locutores. A maneira de fazer rádio da Morena FM exigiu um padrão também no atendimento ao público e aos clientes, uma documentação que não existia na época (as rádios eram muito informais). Um caso inusitado aconteceu com os móveis.

Construída com vários empréstimos junto aos bancos Econômico e Itaú, depois de mobiliar a rádio toda, inclusive com móveis específicos, como as cadeiras dos estúdios, descobri que não tinha dinheiro para os móveis da minha sala.

Ia receber os clientes em pé...

Ao saber disso, Nilsinho Franco me ligou para oferecer os móveis “de um escritório que fechei e estão encostados em Salvador”. Recusei, explicando que não ia ter como pagar tão cedo. Foi a mesma coisa que falar com as pedras do Rio Cachoeira.

Quando cheguei na Morena FM dei de cara com a caminhonete descarregando os móveis, caríssimos, na minha sala. Em cima, um Nilsinho sorridente disse “voce paga quando puder essa p*. Nem adianta recusar, já é seu”. Levei uma eternidade para pagar os móveis. Já a amizade é “priceless”.



A rádio Morena FM 98 completou 30 anos em dezembro de 2017, por isso seu fundador, Marcel Leal, conta aqui a história e as estórias da rádio mais ousada da Bahia.

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