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1.Julho.2023

Uma paixão pela princesa do mar


Eu sempre morei em Itabuna, mas minha ligação com Ilhéus é tão umbilical quanto possível. Para mim, meu lar sempre foi Italhéus, metrópole imaginária que tem um comércio incrível e as praias mais bacanas. Minha alma é cheia de boas lembranças de Ilhéus.

Vem desde pequeno, quando meu pai levava a gente para comer no Chinaê, no Pontal, na volta da praia. Adorava a carne de sol com farofa esverdeada. Ou o acarajé ali perto. Nossa praia, naquela época não era a dos milionários. O point era o Cururupe, onde se podia nadar no rio e no mar na mesma manhã. Ou pular da ponte...

Outro lugar onde passei muitos verões foi Olivença, onde meu avô tinha uma casa, ali no começo da ladeira. Também era na Batuba que eu acampava, desviando dos caras que viviam me oferecendo maconha. Sempre detestei o cheiro, que para mim é igual ao de estrume no pasto.

Outro passeio bacana para o eu moleque era o balneário Tororomba, com aquelas piscinas misteriosamente escuras, a cachoeira e a bica do padre, atrás dele. Era passeio para o dia todo, com direito a almoçar caranguejos no restaurante e brincar com os amigos.

Mais adolescente, adorava ficar na praia da Soares Lopes, que na época tinha a água bem perto da avenida. Parava o carro embaixo de uma das muitas amendoeiras e ia curtir o mar. Ou paquerar na calçada. Mas imperdível mesmo era ficar para ver a lua nascendo no oceano durante o verão, no fim do dia. Grande e linda.

No fim da tarde o programa era comer um kibe no Vesúvio e tomar sorvete no Ponto Chic. Ali perto tem esse mirante aí da foto. Tenho uma paixão antiga por essa vista da avenida, juntando a catedral, a Soares Lopes e a praia numa memória visual completa. Até hoje passo por ali.

Já adulto outras duas paixões combinavam com Ilhéus. Uma era falar com rádio PX e a avenida era perfeita para fazer contato com pexizeiros da Europa. Lembro de dois contatos, um em Genova e o outro, incrível, com um cara de Macau, na China, que, como muitos moradores de lá, falava portuguès.

A outra paixão era voar. Pego avião desde bebê e só fiquei mais de seis meses sem embarcar de 2019 para cá. Levei essa paixão um pouco adiante e fiz curso de pilotagem, com o teórico e as primeiras aulas práticas em São Paulo, mas a maioria dos voos no Aeroclube de Ilhéus, com direito a ver aquele litoral maravilhoso do alto.

Ilhéus também era palco das grandes peças nacionais de teatro, como Lobo de Ray Ban, e do Festival Nacional de Teatro, promovido por Bruno Susmaga e Hermilo. Ali foram revelados, por exemplo, Jackson Costa e Oswaldinho Mil. O teatro recebia peças o tempo todo e a cidade fervilhava com grandes shows. Como perdemos isso? Não sei.

Sempre amei e pensei em Ilhéus, a maioria das vezes decepcionado com a falta de capacidade de quem manda em transformar a cidade em um destino turístico verdadeiro. Ela tem história, culinária, praias, matas, rios, cachoeira, lagoa, uma baía incrível, mas nunca soube explorar nada disso.

Um dia, atormentado com esse descaso, me juntei com dois amigos, Afonso Zeni, da loja e site Costa do Cacau; e João Vissirini, pousadeiro e especialista em turismo. Montamos o I Forum de Turismo de Ilhéus, reunindo 70 pessoas envolvidas com o setor, de receptivo a cabaneiro, e debatemos o que ela precisava para crescer.

Saímos de lá com uma tonelada de críticas e sugestões. Passamos três meses tomando muito café e transformando tudo isso num projeto técnico, factível, com metas definidas. Entregamos a todos, inclusive ao prefeito Jabes Ribeiro, secretários e vereadores. Ninguém se mexeu e nosso trabalho foi à toa.

Ilhéus também me deu muitos amigos, alguns dos quais se reuniam no Café da Gorda para trocar ideias, fuxicar, falar dos outros e de política, sempre uma diversão imensa. Sim, eu sei que ela emagreceu e adoro minha amiga, mas para mim o nome não muda, porque tem uma ligação afetiva com esses encontros de amigos.

Pena que Ilhéus não é como na visão que eu, Afonso e Vissirini tínhamos para ela. Moderna, receptiva, com as atrações turísticas bem formatadas, receptivos de turistas com atendimento bilingue, mapas, guias, wi-fi. Os points sinalizados, com histórico de cada casarão, cais completo na lagoa, trilhas educativas na mata, etc.

Mas isso não muda meu amor e minha ligação com a parte lhéus de minha Italhéus. Torço para que ela encontre um prefeito e secretários com cultura, que tenham viajado bastante, mostrem disposição para copiar o que viram de melhor em outras cidades e coloquem o turismo como prioridade 1. Beijos, Ilhéus.

# O editorial de A Região, por Marcel Leal.

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