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juliana soledade
26.Maio.2018

Greve ou guerra


Desliguei o rádio hoje - tenho um costume de escutar AM -, parei de ver as notícias nos portais mais conhecidos da internet, e tentei me tornar alheia do que acontecia ao meu redor. Tentei de todas as formas não me sentir picada pelo mosquito do desespero.

 
Por onde passei, filas quilométricas de carros, motos e caminhonetes, estas na maioria dos casos, cheias de galões na carroceria. Homens, mulheres, frentistas e donos de postos agindo como irracionais ou talvez, até como doentes mentais. Uma inflação desproporcional do preço do combustível que foi comprado antes da greve e já estava sendo vendido por um valor com margem de lucro. Agora, com um ganho excessivo em cima dos enraivecidos de plantão, afinal, “farinha pouca, o meu pirão primeiro”.

 
Nos postos, buzinas, gritos e muita baixaria por aqueles que estavam com os ânimos exaltados, e se alguém furasse a fila, a confusão era ainda maior. Por instantes cheguei até a pensar se o combustível era um alimento em extinção. Não resisti e liguei o rádio: "estoquem carne, água mineral e gás de cozinha porque já está em falta", três minutos de arritmia cardíaca, um suspiro demorado e um pedido de desfibrilador. Ora, estamos numa guerra declarada e eu não sei?

 
Nos grupos do demoníaco whatsapp informações malucas e repletas de fake news, fotos de prateleiras vazias, anúncios de vôos cancelados (e eu comecei a pensar desesperadamente na minha viagem para realizar um concurso em 15 dias), hospitais sem oxigênio e medicação (minha vó tem uma cirurgia delicada no sábado, aproveitei para unir o sagrado em oração). Somos individualistas e neste momento está mais do que provado.

 
Todos enfurnados no pânico do apocalipse, vomitando ansiedades, destilando ódio, sem aprender, ainda, que o governo arrecada impostos para pagar as despesas. Que ao mesmo tempo em que somos contra o alto preço dos carros e do combustível não forçamos a barra para acabar, por exemplo, com a aposentadoria da elite do funcionalismo. Parecemos gostar de um Estado gordo e deficitário.

 
Começa a chover por aqui, um acidente próximo do meu trabalho, os agentes de trânsitos não chegam e eu tentando não me contaminar... Só tentando, porque no fundo acredito que um dia teremos um país digno, sem tanto imposto para alimentar desnecessariamente a máquina pública de forma irresponsável e que a desigualdade social possa diminuir. Está chegando o dia em que saberemos o que é falência do Estado da pior forma possível.



Coluna da escritora Juliana Soledade.

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