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Luiz Thadeu
27.Julho.2024

Alcântara: arte, cultura, memórias e amores


Sábado, 20/07, a convite do poeta-escritor-agitador-cultural Paulo Melo, nas primeiras horas do dia atravessei a baía de São Marco, na lancha Bahia Star, e desembarquei em um outro mundo, em Alcântara. Fui para a solenidade de fundação da ALCAF, Academia Alcantarense de Letras, Ciências, Artes e Filosofia.

Embora tão perto da Ilha do Amor, meu lugar predileto no mundo, há anos não ia a Alcântara. Quando estudante de Agronomia era para lá que fugia, sempre que podia, acompanhado de alguma jovem, para desfrutar da calmaria do lugar, suas praias, sua comida - na época a palavra gastronomia não era usual; e de seu povo acolhedor. Alcântara era minha Arembepe, a refúgio de hippies na Bahia. Ou seria meu Nirvana?

Alcântara foi a primeira cidade maranhense tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, em 1948, como cidade-monumento. Cercada por praias, ilhas desertas, serena e tranquila, Alcântara pode se orgulhar de ser também a mais importante cidade histórica da Amazônia. Seu casario colonial preservado e imponente e o silêncio de suas ruínas guardam reminiscências de um passado glorioso, tempo de riqueza, de fausto, de famílias nobres e numerosa população escrava.

Os atrativos começam logo na descida da lancha, no Porto do Jacaré e subindo a ladeira de pedras, que conduz ao coração da cidade: o largo onde se encontram as ruínas da Igreja da Matriz, a antiga cadeia e o pelourinho, ícones máximos das sociedades coloniais e escravagistas brasileiras. Além de igrejas coloniais, fontes e museus. Todo o centro antigo pode ser visitado a pé. Tão importante quanto apreciar os monumentos é ouvir dos moradores, ou guias turísticos locais, as histórias/estórias que tornam Alcântara ainda mais encantadora.

Tenho memórias afetivas com a cidade, a maioria ligadas a prazeres libidinosos. Com testosterona saindo pelas orelhas, era na calmaria de Alcântara, especialmente em noites de lua cheia, que a natureza ficava mais exuberante e excitante. Me conecto com Deus, através da música, literatura, sexo e da natureza, não necessariamente nesta ordem.

No sábado, ao desembarcar no cais da cidade, rebobinei a memória, e quantas coisas boas se apossaram de mim. O tempo se encarrega de carregar as coisas para frente, a memória em trazê-las de volta. Lembrei de minhas amigas. Por ande andará Iraci, jovem catarinense, que conheci em um congresso da UNE, em Belém, e que desviou seu caminho para acompanhar-me até o paraíso de Alcântara. Não tive mais notícias dela.

Lembrei de Angela, baiana de Cruz das Almas, morena esguia, sorriso fácil, onde a alegria fez morada, que conheci no centro de São Luís. Ela veio a SL para coletar material para sua tese de mestrado. Que fim levou Sheila, vinda de Imperatriz, que optou por morar na Ilha do Amor, pois era apaixonada pelo mar.

Tive a impressão de que Alcântara estacionou no tempo. Mesmo tendo uma base Espacial - algo impensável para aquela época, pouca coisa mudou. O mormaço das tardes, as ruas com calçamento de pedras, as casa sem grades nas portas e janelas, cachorros dormindo nos monumentos históricos, seus moradores sem pressa, os doces de espécies, o som das caixeiras.

Vi nativos debruçados nas janelas a espiarem os transeuntes, que vem de longe para admirar as beleza da terceira mais antiga cidade do Maranhão. Sábios, aprenderam que na sequência do agora que se vive o hoje.

Devem pensar “pra que pressa, se tudo lá na frente vai acabar mesmo”? Enquanto o mundo se preocupa quem será o próximo presidente dos Estados Unidos, ou com a subida do dólar, os locais estão a desfrutar da mansidão do lugar.

Depois de viajar por esse mundão de meu Deus, visitar mais de 600 cidades em 151 países em todos os continentes, arrisco a dizer que Alcântara é uma das esquina do mundo. Lá se encontram o passado e futuro.

Nesta ida à Alcântara tive o privilégio de testemunhar o nascimento de mais uma Academia de Letras em nosso estado. A ALCAF é a 55ª. Me alegra presenciar o renascimento do momento cultural que reposiciona o Maranhão no cenário de artes e cultura nacional.

Caro leitor, amiga leitora, caso você ainda não conheça Alcântara, coloque na sua agenda. Certamente, você vai se encantará.

 

Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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