20.Setembro.2014

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Alfredo Melo, engenheiro civil

“Acumular é o problema de quem gera energia”
explica o engenheiro Alfredo Melo, que não apenas prega o uso de energias alternativas, como faz isso na prática em sua casa, que praticamente não paga nada de energia elétrica. “Eu acabo tendo crédito junto à Coelba. Minha conta desceu de R$ 400 para quase zero”.
      Alfredo Melo tem um sistema de energia solar, um gerador eólico e um sistema de aquecimento de água por simples exposição à luz do sol. Para falar sobre a casa sustentável ele esteve no programa Mesa Pra 2 desta semana, na Morena FM (quartas, 15h), com o jornalista Marcel Leal.
      Ele diz que tinha conhecimento de eletrônica e energia, que é uma necessidade dos primórdios da natureza. “A economia nos leva a um paradoxo: ou a gente começa a fazer energia atômica ou vamos começar a fazer um dano enorme ao meio ambiente. Ou começa a fazer alguma coisa alternativa”.

Marcel – Economicamente, por enquanto, tem que ser hidrelétrica, porque o custo de energia eólica ou solar é muito alto...
       Alfredo - É para o futuro. 12 países no mundo fazem bomba atômica e 6 fazem célula solar. Estranho, não é? Como é que se gasta tanto dinheiro em tecnologia para produzir bomba atômica?

A gente fala que energia alternativa é mais para o futuro, mas tem que começar agora. Existem países que são bem mais avançados nisso, não?
       A Alemanha, por necessidade, avançou. Em 2030 vai fechar todas as usinas atômicas. O Japão fechou na marra, mas já está reabrindo. Na fusão do urânio se produz césio e outros elementos radioativos que levam 600 anos para decompor. É assustador que o resíduo vai ficar armazenado em algum lugar.

Existe uma cidade na Alemanha, Freiburg. Lá, por lei, para construir uma casa ou prédio, parte da energia tem que ser solar e tem que reaproveitar a água. No centro é proibindo entrar carro, só bonde elétrico. Como é confortável, o cara deixa o carro em casa. Aqui, ninguém deixa.
       Como eles estão avançados! Foi preciso eles tomarem atitudes. E quanto tempo vamos precisar queimar combustível fóssil? Uma manilha de cana moída faz uma garapa e faz o álcool para o carro que anda 10 km por litro.
      Pega-se energia do sol do ano passado (que fez a cana crescer), mas de qualquer forma você está queimando combustível.

Existe uma nova forma de corrida, a Formula E, com carros elétricos que vão a 200 km/h. Um brasileiro, Luca de Grazzi, ganhou a primeira corrida. O carro elétrico chega antes do que o de energia solar em todas as casas?
       As indústrias de automóveis do mundo inteiro tem um mercado. Os governos cobram o imposto que facilita esse mercado e as industrias produtoras ou distribuidoras de petróleo. Mas de repente podemos ficar na mão. Existe todo um mecanismo para funcionar.
      Nos primórdios os carros eram elétricos. E foi uma alternativa da época, com alguns modelos que funcionavam, inclusive o Ford, que teve um modelo que funcionava a energia. A dificuldade era armazenar na bateria.
      Os chineses desenvolveram bem a bateria de lítio. Inclusive hoje o processo é segredo de estado. Os japoneses tentaram fazer uma parceria, porque quem melhor desenvolveu o carro elétrico foi o japonês, mas a bateria foi o chinês.

Você já andou em carro elétrico?
       Ainda não. Mas a maioria das pessoas já andou e nem sabe. Aqueles carros de bate bate em parquinhos é elétrico. Seria bom se todos os carros que batessem fossem iguais ao do parque, porque bate e não tem nada (risos).

Existem diferenças grandes de carros à combusão e os elátricos. Quais são?
       Os motores são nas rodas, não tem carburador, nem transmissão. Não precisa de radiador e toda a bateria do carro é um lastro.
      Vai chegar um ponto em que a pessoa vai comprar as peças e montar um carro, e isso quebra a corrente das multinacionais. Por isso a tecnologia atrasou e os governos cobram impostos até de 50%. Um carro que custa 50 mil entrega metade ao governo.

A gente tinha o biodiesel desenvolvido na Ceplac. Existia um ônibus eu via muito uma Parati que rodava com biodiesel, muito antes de alguém falar nisso.
       A produção de biodisel exige que se use o metanol e o metanol é altamente tóxico. Na Uesc tem um equipamento experimental para isso. De vez em quando eles colocam um carro aqui na cidade. Daqui a uns 15 anos o carro elétrico é que será bem popular. Para uso urbano.

Vamos falar de sua casa, o que você usa energia alternativa?
       Eu procuro ter uma casa sustentável. Eu tenho um gerador eólico experimental de 400 watts, apenas porque eu precisava fazer para sentir como funciona. Mas a energia vem dos painéis solares.

Você consegue acumular, guardar, essa energia?
       Acumular energia é o grande problema. As hidrelétricas acumulam energia potencial gravitacional. Mas qualquer energia pode ser guardada em bateria. Se pode transformar em continua, em alternada e vice-versa.
      Eu armazeno na Coelba, sou um micro fornecedor e tenho contrato com ela. Toda a energia que necessito eu consumo imediatamente e o excedente eu entrego à Coelba. Eu fico com crédito e posso usar em até 36 meses. Eu posso usar essa energia em qualquer outro município.
      Se eu aumentar a quantidade de placas em meu telhado, eu vou ter ainda mais excedente. Eu posso compensar em outro endereço meu ou usar em outras coisas. É uma solução ecológica. No futuro meu telhado será meu posto de combustível do meu carro elétrico...

Como você fez esse contrato com a Coelba?
       A Resolução 482 da Aneel me dá o direito de usar e eu sou a primeira energia integrada á rede no interior da Bahia. Apareceram mais duas, em Juazeiro e a região metropolitana de Salvador também tem três. A do Estádio Pituaçu é a grande.

Na prática, o que você faz com essa energia solar em casa?
       Eu uso no consumo geral e ela supre tudo. Eu pago taxa mínima à Coelba. Eu tenho microondas, freezer, ferro de passar, geladeira e só não uso no chuveiro porque eu uso aquecimento termo solar.

O que é isso?
       A água tem a capacidade de guardar calor, e muito. Durante o dia ela vai por um canal, que sai de um reservatório hermeticamente fechado e vai até a placa termo solar, onde se transforma a energia do sol em calor.
      A água passa por ali, volta a cair no reservatório e vai para o termo sifão, que usa a capacidade que a água tem de produzir calor. Na primeria vez que a água desce, recebe um pouco de temperatura. No final do dia ela ferve.

O calor da água aguenta passar a noite inteira?
       Se for hermeticamente fechado, sim. É preciso ter um temperador para não ficar muito quente. E é muito gostoso tomar um banho com água solar. Ela não tem o cheiro criado pela resistência do chuveiro com o cloro da água.

Mesmo chovendo você produz energia solar?
       Sim. Quem descobriu o fenômeno da luz e melhor explicou isso foi Albert Einstein, há 107 anos. Por acidente, alguém começou a medir a temperatura em várias cores que se formam na luz e o termômetro descobriu uma radiação que não é visível aos olhos humanos. Então, mesmo nublado, várias faixas dessa luz geram energia.

Quantos painéis você usa em sua casa?
       Eu tenho oito painéis de 2x1 metro. Quando eu comprar um carro elétrico, meu posto vai ser o meu telhado. Mas não adianta você pagar mais para fazer uma coisa sustentável. Se você tem duas opções de preço igual e uma não emite carbono, essa é a correta.
      Eu tenho um carro que roda com GNV, o Gás Natural Veicular. Eu gasto apenas 10 centavos por cada quilômetro rodado com esse gás e 33 centavos usando a gasolina.

Qual o custo de colocar 8 placas no telhado mais o sistema?
       Eu gastei R$ 12 mil entre o conversor e as placas. Se minha conta de luz é de R$ 200, em 60 meses já paguei o sistema. E a garantia que a fabrica me dá é de 25 anos.

Tem como misturar com energia eólica?
       Tem sim, meu gerador é pequeno, de 400 wats. Mas existem de 1.600 watts, significando que, se ele rodar uma hora na potência máxima, você vai ter 1.600/watts. A energia eólica pode ser ligada no mesmo captador da solar.