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10.Maio.2014 Tweet Rafael Andrade, médico especialista “O número de crianças com diabetes pode se transformar em uma epidemia” no futuro próximo, em âmbito mundial. A obesidade infantil, os famosos fast foods e a falta de atividades físicas são apontados como alguns dos vilões. O médico Rafael Andrade, especialista em retinopatia diabética, diz que o Diabetes é uma doença típica do adulto mas, devido à mudança no estilo de vida, a doença pode sim virar epidemia. O médico é coordenador do Mutirão do Diabetes em Itabuna, um dos maiores eventos de prevenção à doença no estado, e conta que o aumento dos casos e as complicações fazem do diabetes a principal causa de cegueira, amputação e insuficiência renal. Nossa equipe conversou com o médico, que alertou, inclusive, para outras complicações graves, como as neuropatias, as cardiovasculares e a diminuição da expectativa de vida em 10 anos. O número de crianças com a doença tem crescido mesmo? É verdade, infelizmente e assustadoramente, devido à mudança do nosso estilo de vida. Precisamos tomar muito cuidado, principalmente com a obesidade infantil e os famosos “fast foods”. Bons eram os tempos em que podíamos jogar bola na rua, mas até isto tiraram de nossos filhos. Qual a importância do Diabetes no cenário mundial? A Federal Internacional do Diabetes ou IDF estima que o número de pessoas com Diabetes em todo o mundo chegue a 400 milhões em 2025. Deste total, 80% viverão em países pobres. Na maior parte deles há pouco ou nenhum acesso a tratamentos que podem ajudar no controle do Diabetes e até mesmo a salvar a vida de quem tem a doença. A cada dez segundos uma pessoa morre no mundo em consequência das complicações do Diabetes. São 3,2 milhões de mortes por ano. No Brasil estima-se que existam cerca de 13 milhões de portadores da doença mas apenas 7 são diagnosticados. Metade desconhece que tem, sendo que nos países subdesenvolvidos, essa estimativa chega a 80%. Que é retinopatia diabética e como ela surge? É a complicação mais grave do diabetes nos olhos. Com a evolução, os vasos sanguíneos que nutrem a retina (fundo de olho) vão enfraquecendo, deixando vazar o líquido ou sangue, além de infarto da retina. Muitas vezes de forma silenciosa. Nas fases finais, quando não tratados, os pacientes desenvolvem hemorragias extensas e descolamento de retina, inutilizando a visão. Quais os sintomas mais comuns? O principal sintoma é a visão embaçada que, mesmo com óculos, não melhora. Na maioria das vezes a pessoa já está com o olho comprometido. Na maioria das vezes não existe sintoma mesmo em casos mais avançados. Por isso é fundamental a avaliação do fundo de olho por um oftalmologista experiente. Diferente da catarata, a cegueira decorrente da retinopatia diabética é irreversível. Ela tem cura ou pode ser evitada? A retinopatia diabética incapacita para o trabalho pessoas com idade entre 20 e 65 anos. Mas, se for detectada precocemente e com tratamento adequado, os riscos da cegueira podem ser reduzidos em mais de 80%. É importante que todo paciente diabético faça exame de fundo de olho, pois 21% dos pacientes diabéticos do tipo 2 já tem algum grau da doença e cerca de 5% tem retinopatia com indicação de tratamento. Outros 2% são legalmente cegos. O Brasil tem hoje mais de 240 mil cegos por Diabetes. O paciente diabético tem 25 vezes mais chances de ficar cego que o não diabético. O tratamento é caro? Já é possível tratamento com laser pelo SUS, apesar da dificuldade de acesso, e nas Campanhas do Mutirão do Diabético que realizamos aqui há 10 anos, com acesso livre. O que é mais difícil na região é a realização de cirurgias vitreorretinianas, importantes nos casos mais complexos. O custo do processo é alto e falta subsídio pelo SUS. Daí a importância das campanhas de detecção e tratamento precoces, para que não os deixemos chegar nesta fase, onde somos mais desassistidos e os custos bem maiores. . Qual a estatística, no Mutirão, de portadores da retinopatia na região? Analisando os dados dos pacientes diabéticos atendidos no Mutirão entre 2004 e 2010, a prevalência de retinopatia variou entre 27,6% em 2004 a 17,69% em 2010 (em todos os anos a forma leve foi a mais frequente). A presença de maculopatia, que geralmente leva à baixa visão associada, ocorreu em 24,6% dos casos. O número de pacientes encaminhados para fotocoagulação a laser diminuiu ao longo dos anos, passando de 14,1% em 2004 para 8,48% em 2010. Quanto mais ampliado o projeto de atendimento ao longo dos anos, no Mutirão do Diabético, mais diminui a média de tempo de diabetes e o número de pacientes que realizavam o exame de fundo de olho pela primeira vez, com isso aumentando o acesso destes pacientes. Com relação ao diabetes, existem dois tipos. Qual a diferença? A classificação do diabetes inclui, basicamente, o tipo 1 (insulino dependente) e o 2 (insulino independente), que pode, posteriormente, necessitar de insulina. Há outros tipos de diabetes, como os secundários ao etilismo, desnutrição, drogas ou endocrinopatias. O diabetes tipo 1 geralmente se instala na criança ou no jovem, associado a grande prevalência de retinopatia e cegueira em uma faixa etária produtiva. Já o 2 é mais frequente, sendo responsável por cerca de 90% dos casos e ocorre em uma faixa etária adulta ou mais avançada. Excesso de peso, má alimentação, histórico familiar... quais os outros vilões? O Diabetes é uma doença multifatorial e vem se alastrando de forma assustadora em todo o mundo. Nos dias atuais, em todas as idades, devido ao nosso estilo de vida “moderno”, onde a obesidade, má alimentação, sedentarismo e estresse são a regra. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, até 2030, o diabetes atinja 366 milhões de pessoas no mundo. O diabético precisa ser acompanhado por um médico endocrinologista e deve se submeter a exames de sangue periodicamente, como forma de controlar seu nível glicêmico. Com base nos resultados, o médico fará a prescrição individualizada de medicamentos e de alimentação, pois o organismo de cada pessoa responde de forma diferente aos diversos grupos de alimentos. Por isso, é necessário o acompanhamento de um nutricionista. Então é possível evitar esse mal? O diabetes tipo 2 é uma doença possível de ser prevenida. Só que, dos cerca de 13 milhões de brasileiros portadores do Diabetes, 50% desconhece a doença e só um terço procura atendimento. Estudos internacionais e nacionais mostram que, com alimentação adequada e atividade física regular, provavelmente 80% dos diabéticos deixariam de ser. Com isto, a importância das campanhas como o Mutirão diabético de Itabuna, de grande abrangência, com o envolvimento social intenso e participação da imprensa com todo o seu poder disseminador de informações e esperança, talvez sejamos capazes de mudar um pouco essa historia. Apesar da luta ser dura contra não só a doença, mas com outros fatores como a injustiça social, desinformação, falta de acesso ao serviço médico e medicamentos, entre outros fatores, podemos fazer progresso. |
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