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4.Outubro.2014 Tweet Cel Antonio Reis, comandante do CPRs "O crime não é organizado, mas desburocratizado" afirma o Coronel Antonio Barbosa Reis, chefe do Comando de Policiamento Regional sul (CPRs), em entrevista exclusiva ao jornalista Marcel Leal no programa Mesa Pra 2 (quartas, 15h) na rádio Morena FM 98. A conversa começou com o esquema de segurança para as eleições. Mas vários outros assuntos acabaram entrando na entrevista, que gerou muitos comentários dos ouvintes da emissora. Muitos se surpreenderam com a maneira informal e objetiva com que o comandante trata de assuntos nem sempre simples. Confira. Este tipo de eleição dá menos trabalho do que para prefeito e vereadores? Cel. Reis – É problemática. O conflito da eleição não fica apenas na cidade, é muito além. Mas tem menos confusão, menos ação policial, porque também temos menos boca de urna. Quais são as etapas para garantir a segurança na eleição? Temos que primeiro visualizar se está tudo bem. Como nossa ação é direcionada para segurança pública, temos que focar as normas do TRE e as possibilidades de um ferimento alheio baseado nas eleições anteriores. Isso é feito a partir do levantamento naquelas cidades que sinalizam com mais problemas. Ai, enviamos oficiais, como capitão e major, para prevenção. Hoje você tem mais oficiais para trabalhar? Nos grandes eventos assumimos o comando de todas as unidades. Tenho 23 unidades operacionais e tenho todos à disposição. A gente procura mobilizar o menos possível, por questão econômica, mas se for necessário fazemos o remanejamento. Nesta eleição, por exemplo, vamos colocar um major em Una e em Uruçuca, não que sejam cidades mais problemáticas, mas o Setor de Inteligência detectou que poderá haver algum problema. Em Itabuna, qual a seção mais concorrida, que necessita de maior atenção? Não temos nenhuma especifica, mas as do centro são as de maior movimento, pelo fluxo de eleitores. O policiamento não pode ficar dentro das salas de votação. Só podemos ficar a 100 metros, a menos que o presidente da mesa nos solicite. Toda eleição tem uma série de normas, temos que observar todas elas. Inclusive as de segurança. Por isso orientamos o eleitor para ter cuidado com documentos e outros objetos quando for às ruas no domingo. Já houve reunião com os juízes eleitores? Quais as funções da PM no dia das eleições? Já tivemos reunião com os juízes sim. A função da PM é garantir a segurança inclusive das urnas. Somos nós que fazemos a escolta delas e temos um plantão 24 horas a partir da instalação das urnas nas seções. Depois que os mesários abrem, nos afastamos do local. Após o encerramento, fazemos novamente a escolta. Usamos muito o revezamento numa situação dessas. Já houve alguma eleição em que você se preocupou com o resultado? A gente sempre se preocupa, principalmente na fase de comemoração. No momento em que o político se elege, o eleitor comemora com bebida, inclusive e o evento se transforma numa festa popular. O trio está nas ruas e a bebida está junto. Por falar em festa, tem gente que reclama que faz festa particular e a policia não aparece... Festa de rua, popular, quando somos comunicados estamos presentes. Mas as de cunho particular, tem que solicitar e ter o pedido analisado. Se a festa for com lucro, o policial fica do lado de fora garantido a segurança na rua. Não temos obrigação de permanecer dentro do recinto. Já liguei para o 190 para reclamar de perturbação de ordem pública e a PM pediu para ligar para o Ministério Público. Mas como, às 3 horas da manhã? Em Itabuna temos uma atuação muito ativa com relação à poluição sonora. Essas ações são efetivas e consideradas crimes. Mas é preciso se caracterizar o flagrante. Embora exista muito desrespeito, pois a policia vai, o infrator abaixa o som e depois ele volta a aumentar. A lei seca está na ativa, dando resultados? A lei seca não parou. O que ocorre hoje é que a sociedade está mais organizada. O cidadão faz festa e vai para a casa de taxi e isso virou modismo, uma coisa que ajuda a todos. Enquanto autoridade eu fui num evento de taxi e alguém questionou “quem apreenderia meu carro”. Mas o policial não quer apreender o carro de ninguém, nosso objetivo é proteger a vida das pessoas. Quais os bairros problemáticos por causa do crime organizado? Eu tirei de foco o crime organizado. Organizadas são as forças públicas. O crime é desburocratizado. Eles conseguem adquirir armas e drogas no câmbio negro com mais facilidade, o que parece uma organização, que não existe. Aqui em Itabuna se foca muito nos grupos A e B, mas não existe uma organização. O que dificulta as ações de segurança é a fotografia dos bairros. Tem bairros onde só podemos entrar de moto ou cavalo. Quanto mais um bairro é de difícil acesso, mais ele é problemático. O fato dessas quadrilhas não ter “chefões” complica? Os chefinhos complicam mais, pois quando se tira um o outro já assume. Estive em Porto Seguro e lá existem algumas facções que se acham donas. Só que, quando se tira uma, já tem outra. As ações de policia sozinhas não bastam. É preciso ter ações sociais e educativas nas áreas mais periféricas. Se tem algo que pode tirar os jovens das drogas é o esporte, com quadras, professores, unidos à ação da policia. Em alguns casos, em outros estados, os policiais tem sacado a arma rápido demais ao enfrentar qualquer resistência. Aqui o treinamento é diferente, não? A arma para conter manifestação é a não letal, como o gás lacrimogênio, arma de choque. Você não pode conter a ação de uma pessoa que reage à prisão com uma arma letal. Esse seria o último recurso, para defender a própria vida. Mas é preciso se analisar cada caso. Se um policial franzino se bater com um de 90 quilos é preciso ter preparo, assim como se encontrar com um cheio de adrenalina é preciso analisar a situação. A nossa Rondesp já está com 50 policiais e todos são bem treinados. Voce tem horas vagas para o descanso? (risos) Quando se fala de policial, de comando, a impressão é de uma pessoa sizuda, que não se relaciona com ninguém. Eu tenho raras horas vagas. Moro em Ilhéus e, quando eu consigo passar um final de semana com minha esposa, é uma alegria. Mas não podemos tomar um uísque, porque podemos ser chamados a qualquer momento. Eu gosto mesmo é de praia, afinal nasci em Ilhéus. Agora, na função de policial é obrigação nossa ficar mais reservado. Itabuna tem dado sorte com nossos comandos policiais... Sem dúvida, somos privilegiados. Temos no interior talvez o maior contingente. Temos cavalaria, canil e homens treinados. Por questões técnicas, teremos duas bases do GRAER, para helicóptero, uma em Lençóis e outra em Porto Seguro. Itabuna fica no meio e bem coberta. Qual sua visão sobre desmilitarização da policia e a junção da Militar com a Civil? Eu acho que uma policia só não é provável. Mas o trabalho integrado é essencial e já existe de uns três anos pra cá. Eu e o delegado Moises (diretor da Civil para o interior) discutimos muito isso. E acho fundamental que não se desmilitarize. Num regime como aconteceu no Brasil, a palavra militar assusta. Entendem às vezes que o militar é mal educado, grosseiro, violento e isso não tem nada a ver. A PM, de uns 20 anos pra cá, é totalmente diferente. A sociedade é outra e a policia é uma fatia da sociedade. Se você vem de uma sociedade violenta, ela se comporta com violência. É preciso entender que quanto mais valorizar a ação policial, mas segurança teremos. Nós temos 32 mil homens na ativa. Acredita que as leis foram abrandadas para beneficiar bandidos? Não chego a esse ponto, mas acho que, no momento em que você tenta andar antes de engatinhar, vai cair. Acho que as leis alcançaram certo nível antes da sociedade. Temos que ultrapassar algumas fases. Não estamos preparados para assumir essa abertura de direitos humanos, a democracia irrestrita. Na verdade, democracia é liberdade com responsabilidade. Sem ela vira bagunça. É preciso respeitar o direito do outro, o vizinho. As leis avançaram antes da sociedade... Certa vez estava em Salvador, numa blitz, pedi à minha equipe que usasse expressões como “boa noite”, “muito obrigado”, “por favor”, porque o policial não pode ser mal educado. Eu ouvi um oficial dar boa noite a um motorista e pedir os documentos. Em seguida eu só ouvi o pipoco no meio da testa e o sargento caiu morto. As pessoas que estão do outro lado não vêem essas coisas. Você tem visto muitas armas fabricadas fora do Brasil apreendidas? Aqui tem muitas armas pesadas, tem fuzis israelenses, AK... Aqui a gente ver de tudo. Em Ilhéus apreendemos dois fuzis de uma vez só, israelenses. Voltando para a eleição, o que o cidadão não deve fazer? Poderia dizer para não criar confusão (risos). Basicamente a bebida alcoólica está suspensa e a boca de urna, que toda eleição tem, é proibida, A gente pede ao cidadão que maneire, aja de forma tranquila. Não pode exagerar, senão complica seu dever de cidadão. |
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