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27 de Novembro de 2004

Humberto Barreto, médico sanitarista
"A hanseníase ainda é um problema de saúde pública"

       afirma o médico Humberto Barreto, formado pela UFBA com especialização em saúde pública pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e mestrado em saúde coletiva pela Universidade Federal da Bahia.
       Barreto explica que a Hanseníase é uma das doenças de pele que mais afetam o brasileiro e pode causar seqüelas irreversíveis. No Brasil, a cada grupo de 10 mil habitantes quatro têm a hanseníase. A proporção é quatro vezes maior que a aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Itabuna apresenta a mesma média nacional.
       Na entrevista que segue, o médico sanitarista explica quais são os sintomas da doença, como é feito o tratamento, o que fazer para combatê-la e a campanha que está sendo realizada neste final de semana.

A Região - Qual é o objetivo da campanha?
       Existem diversos tipos de doenças de pele, como a pitiríase versicolor (pano), a impinge (dermatofitose), a sarna, o piolho, o câncer de pele e a hanseníase. O que nós buscamos é identificar as pessoas acometidas por alguma dessas doenças e encaminhá-las para tratamento. Mas a hanseníase é, sem dúvida, nossa maior preocupação.

AR - É o foco principal da campanha?
       Esta é uma doença que deixa seqüelas irreversíveis, mas o paciente pode se curar. Nossa ação para combatê-la se dá por causa de um compromisso do Brasil com a Organização Mundial de Saúde (OMS), de eliminar a hanseníase até o próximo ano.

AR - Vai ser possível atingir essa meta?
       Apenas dois estados brasileiros conseguiram eliminar a doença, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Outros estados, como São Paulo, Paraná e Distrito Federal, estão próximos desse objetivo. Então, não vai ser possível eliminar a doença até 2005. A hanseníase ainda é um problema de saúde pública.

AR - Qual é o quadro da doença em nível nacional?
       No Brasil, a proporção é de quatro casos de hanseníase a cada grupo de dez mil pessoas. O compromisso é baixar para menos de um caso a cada grupo de dez mil habitantes.

AR - E no estado e em Itabuna, qual é o cenário?
       Itabuna encontra-se na média estadual, mas até o dia 22 de novembro já havíamos registrado 81 casos da doença. A cada ano tem aumentado o número de casos, mas ele acompanha o crescimento populacional. No sul da Bahia os municípios com maior número de notificações são Camacan e Santa Luzia.

AR - Por que a incidência dessa doença ainda é grande?
       Ela está ligada a condições alimentares, higiênicas e à moradia. Como o indivíduo não tem uma boa alimentação ou mora em casa de poucos cômodos, por exemplo, as chances de a doença se propagar são maiores. A hanseníase é transmitida pelas vias áreas, através de contatos íntimos e frequentes com a pessoa infectada. Esse contágio ocorre pela fala, espirro ou tosse. A doença se desenvolve entre dois a cinco anos, que é o período de incubação.

AR - Como a pessoa pode saber se possui ou não a doença?
       A hanseníase se apresenta como uma mancha semelhante a pano ou impinge. A pele fica esbranquiçada ou avermelhada e a pessoa perde a sensibilidade no local afetado. Ou seja, você não sente o toque nem dor nessa região. É o que chamamos de lesões anestésicas.

AR - Quais são as conseqüências mais comuns da hanseníase?
       É importante que a pessoa procure uma unidade de saúde que ofereça atendimento a este tipo de doença, pois a hanseníase pode atingir o nervo e até causar defeitos físicos. Esses defeitos ocorrem em partes como o pé, a mão ou a visão. Quanto mais cedo for o diagnóstico, mais rápida será a cura e menores as sequelas.

AR - Como é feito o tratamento?
       Aplicação de dois medicamentos, quando em menor nível, ou três medicamentos quando for hanseníase contagiosa. Nos casos precoces, o tratamento é feito em seis meses. Se a doença estiver avançada, será de doze meses. O método é o da poliquimioterapia, que consiste na ingestão de antibióticos pelo período indicado.

AR - Esses remédios apresentam efeitos colaterais?
       São antibióticos fortes e a absorção do remédio é feita pelos rins e fígado. Por isso, antes do medicamento o paciente passa por exames para constatar se não possui algum problema nos rins ou no fígado e, ainda, para saber se não possui diabetes.

AR - O atendimento é gratuito?
       Não só o atendimento como todo o tratamento. Os medicamentos são distribuídos pela OMS, através do Ministério da Saúde e dos municípios. Hoje, um grande número de profissionais está capacitado para identificar e atender pacientes com hanseníase.

AR - Onde a pessoa suspeita pode buscar atenção médica?
       Em Itabuna, em qualquer unidade básica de Saúde ou da Família. Fora isso, temos as seis unidades-referência para o tratamento, que são o antigo Sesp e as UBS dos bairros Califórnia, Santo Antônio, Lomanto, São Caetano e Isolina Guimarães. Itabuna tem hoje uma rede capacitada para este trabalho.

AR - Como o senhor avalia o nível de esclarecimento da população sobre a doença?
       Nós precisamos de campanhas de divulgação sobre os sintomas da doença e as formas de tratamento e cura. Quando ocorrem campanhas como esta ou os veículos de comunicação abordam este tema, cresce o número de atendimentos.

AR - Por que é baixo o índice de pacientes que abandonam o tratamento?
       O medicamento tem dose supervisionada. Se o paciente falta ao tratamento, uma equipe vai à sua procura. Isso colabora para a eficácia e o baixo índice de abandono. Temos 123 pacientes em tratamento e os resultados fizeram com que Itabuna ganhasse prêmio por causa da política de atenção e combate à hanseníase.

AR - E como a população vê o paciente? Ainda é estigmatizado?
       A rejeição aos doentes e seus familiares foi minimizada. Isso colaborou para aumentar a busca espontânea por tratamento. O preconceito diminuiu porque também se evitou o avanço de casos mais graves da doença, que são as incapacidades e os defeitos físicos.

AR - Existe tratamento especial para os casos mais graves?
       Depende do sistema imunológico do paciente. Quem tem um sistema com baixa resistência pode ter muitas lesões, principalmente se não for diagnosticado logo no início. É comum que pessoas cheguem com problemas na visão, uma das conseqüências da doença. Os casos mais graves, que afetam o nervo e causam defeitos físicos nos membros, vão para o serviço de fisioterapia. Uma das sequelas mais danosas é o pé dormente, em que a pessoa até se fura e não sente porque perdeu a sensibilidade nesta parte do corpo. O importante é saber que a doença tem cura e, se o diagnóstico for feito no início, não apresentará seqüelas.

 

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