entrevista
9.Maio.2015



Juliana Soledade, escritora

“Falta incentivo à leitura e escrita nas escolas”
juliana soledade afirma a escritora grapiuna Juliana Soledade, que está terminando duas pós-graduações mas continua dedicando boa parte de seu tempo, e seu carinho, à literatura. Autora de um livro lançado em várias partes do Brasil com muito sucesso, ela está terminando mais um.
      Juliana conversou com o jornalista Marcel Leal no programa Mesa Pra 2 (quartas, 15h), da rádio Morena FM, abordando a literatura, a dificuldade de apoio para a cultura no sul da Bahia, a postura dos artistas e sua trajetória. Confira.

ML - Quando você se interessou a escrever para os outros?
       JS - Eu tinha 15 anos, escrevia e guardava. Um dia um professor me disse que eu tinha texto e faltava me aperfeiçoar. Ele me incentivou muito e saiu o meu primeiro livro, que ainda tenho guardado sem publicar. Depois disso, fiquei com vergonha e sem coragem de continuar.
      Aos 18 anos, comecei a publicar num blog, o Irreverência Baiana, que funciona até hoje. Houve alguns elogios e veio a ideia de escrever “Despedida de mim”.

Você acha que ajuda, para quem é tímida, escrever em blog?
       Eu nunca fui vergonhosa, sempre quis aparecer. A minha vergonha era saber se eu estava escrevendo direito, minha grafia, minha pontuação, mas nunca tive medo de realizar um bom trabalho. Aquele livro tratava dos sete pecados pela ótica da filosofia.

E como você chegou mesmo ao livro atual?
       Eu tinha um amigo que lia meus textos e foi um grande incentivador. Um dia esse amigo reuniu alguns dos meus textos e enviou para a editora Record, no Rio. Fui chamada para entrevista.
      Um dos livros foi bem acolhido e não foi publicado por motivos outros. Eu passei seis meses escrevendo sobre despedidas e não tinha noção de que resultaria num livro. Como a editora gostou, busquei por conta própria meu caminho e fui parar na Editora Litterarum.
      Eu fiz uma tiragem de 500 livros para o lançamento e hoje já chega a 1.500.

Você teve algum patrocínio?
       Na primeira tiragem, consegui por causa de um projeto que fiz com a Usina de Ideias. O lançamento durou 10 dias no shopping.
      Foi um sistema muito bom, porque nos 10 metros tinham passagens e ilustrações do livro em totens, o que chamou a atenção. Investimos, acreditamos e foi a chave para o sucesso.

Você fez o livro baseado só em despedidas?
       Sim, todo o cotidiano. A gente passa a vida toda se despedindo, desde o ventre a mãe até a morte. A proposta do livro é apresentar uma prosa poética. Falo desde o nascimento, fases de escolas, até chegar ao estagio que é a morte.
      Um dos textos, com quatro linhas, diz que “a música parou no altar. O cálice secou, do mesmo modo que os olhos, vazios, contidos de fartura. O abraço disse adeus, a aliança caiu, o coração estraçalhou-se, ele a matou e disse adeus”. Era um casamento que acabou. Eu passei por dois casamentos e um deles durou apenas 45 dias.

Nessa situação de despedida você se inspirou em você ou em observação?
       A maioria foi experiência cotidiana. Por exemplo, a morte é tão cotidiana... Mas quando morre alguém próximo, a gente nunca está pronto. O livro também traz em algumas passagens que o adeus é libertador.
      As vezes precisamos dar um adeus bem dado para se libertar. É um passarinho que sai da gaiola. O fim nem sempre é doloroso. Agora tem alguns fins em que dá para chorar.

Você já está escrevendo outro livro?
       Sim, ainda não tem titulo, mas são reencontros de casais, na maioria das vezes, e tratamos a égide do amor, os reencontros de casais que por algum motivo se separaram. Eu faço a união deles. Eu sou tão boazinha, não? (risos)

Vai ser um tema mais sensual?
       Não é erótico, mas trabalha na linha da sensualidade. E como se trata de casais, é bom jogar um pouco de pimenta no meio, mexer bem para o reencontro dar certo. Eu sempre falo que a linha entre o imaginário, a fantasia e a realidade é um estalo de dedos. Então por que não fazer esses casais felizes?

Como você gosta de escrever? Costuma se isolar, tem seu cantinho especial?
       A rotina de escrita vai do momento, como definir um tema para escrever. Meu tipo de escrita é “x”, então vou escrever sobre esse “x”. Não tenho um local exato. Não prendo minha imaginação. Meu tipo de escrita é muito cotidiano, eu escuto muito e, quando sai, sai alguma coisa.

Já sentiu algum tipo de dificuldade como escritora?
       Não, eu sempre digo que a vida foi feliz comigo. As portas sempre foram abertas. Não sei se isso se deu pelo produto competente que apresento. Como atingi a marca de 1500 copias, acredito que ninguém vai chegar a isso sem ter um produto competente.
      Por conta disso, há uma identificação. Minha margem diária de acesso no blog atingiu 60 mil pessoas lendo e sabendo quem é Juliana Soledade. Quando comecei com a divulgação desse livro, fiz sete estados e nove lançamentos.
      O ultimo vai ser na Chapada Diamantina, no final do mês. Retorno a Salvador, onde fiz no final de março. Houve procura, pedidos e pessoas que comentaram muito. E fiz em Curitiba, Santa Catarina, Minas, Brasília, São Paulo, Salvador, Aracaju.

E como foi a receptividade em cada lugar?
       Imagine você chegar num auditório montado pela livraria sem conhecer ninguém e de repente ser reconhecida. Alguém que você nem conhece cita um texto seu. É muito bom tudo isso. No Morumbi, em São Paulo, houve fila e tive uma vendagem positiva, assim como em Curitiba.
      Tem muita pessoa mandando emails, deixando recados e tudo isso se torna uma escuta literária. Tem gente que fala que escrevi algo que ela vivencia e de repente estou ouvindo a história de vida dessa pessoa.

Em Itabuna existe artista com conteúdo mas que não batalha, outros que não tem, batalham. Voce faz as duas coisas.
       De inicio é muito fechado. A gente tem uma fundação de cultura, mas lá é muito difícil conseguir alguma coisa. Eu nem bati na porta. Eu busquei outros meios. Existe também gente competentíssima que não leva projetos para a frente. Lançou em Itabuna e acha que está bom.
      Eu não penso dessa maneira. Passei um ano vendo lançamentos em Itabuna e via tudo muito monótono. Um coquetel, uma notinha no jornal e acabou.

Vários artistas não divulgam o trabalho e, quando o fazem, é na véspera.
       No meu caso dei minha cara a tapa. Fui para televisão, radio e jornal. As pessoas já me conhecem porque corri atrás. Não achei que seria justo me dedicar tanto para nada. Por conta de meu esforço, tive portas abertas.

Você pensa em publicar aquele primeiro livro?
       No futuro sim. Sou muito certinha em questão de projetos. Meu segundo livro, “Reencontros”, está pronto, mas não tem data ainda. Tenho outro, “O diário de um réu”. Eu comecei a escrever a partir de um assassinato aqui em Itabuna.
      Tenho acompanhado o preso desde o momento do flagrante e, quinzenalmente, estou com ele para saber como é a vida de um preso. Não é poesia, é uma literatura poética onde coloco a realidade nua e crua, mas de maneira branda.

Você acha que falta a escola incentivar a ler e escrever?
       Eu tenho uma filha de oito anos e uma das minhas criticas na escola é essa falta de incentivo à escrita e à leitura. O aluno chega ao vestibular e o peso é da redação, que pode comprometer o resultado. Se isso não for estimulado no primário, vai chegar lá adiante sem saber de muita coisa.

Que outros projetos pensa para o futuro? Uma adaptação para cinema, por exemplo?
       Ainda não pensei nisso. Mas estou conversando com um produtor teatral para transformar um conto em peça. Eu acredito que até o final do ano a gente já está produzindo. Mas não temos mais teatro em Itabuna. Já tivemos cinco cinemas, o Teatrinho ABC, Centro de Cultura e hoje não temos nada.

Você já pensou em participar de algum concurso literário?
       Já participei de alguns. Fiquei em terceiro lugar em um. Em outro fui premiada com o conto “Quando a máscara cai”, na Bienal de São Paulo. Sempre que surge eu participo, a depender do edital. Existem certas exigências que nos limitam, uma página a mais ou a menos, por exemplo.

No ano passado tivemos a Felita...
       Eu participei, mas minha restrição foi quanto à forma como foi feita, em dezembro, quando as escolas e faculdades estavam de férias. A divulgação foi baixíssima. Algumas participações nacionais não vieram, como Leonardo Boff. Eu fiquei muito frustrada por ele não ter vindo. Mas a ideia foi muito positiva.

O que você gosta de ler?
       Não sou muito fã de romances. Gosto de contos de João Carrascosa, Manoel de Barros, Jorge Luis Borges, Adélia Prado, tanto que faço citação dela num livro e gosto do trabalho na linha de contos. Tem Rubem Fonseca. Sou apaixonada pela escrita dele.

Onde podemos encontrar seu livro?
       Em Itabuna está disponível na livraria Nobel, na rua Paulino Vieira, na livraria saraiva.com.br, no meu site, reverenciabaiana.com e na Livraria Cultura, na região Sul.


 
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