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20.Junho.2015 Tweet Ronaldo Abude, presidente da ACI “Temos que implantar valores como respeito e coragem” na ACI, afirma Ronaldo Abude, novo presidente da Associação Comercial e Empresarial de Itabuna. Atuante no comercio agropecuário, ele é de Salvador, mas estudou Economia em Cruz da Almas. Chegou a Itabuna em 1985 a convite de uma empresa quando ainda era recém formado. Em 1995 Ronaldo instalou sua empresa, a Módulo Rural, que já tem 20 anos. Ele falou sobre a conjuntura do comércio e da necessidade de todos trabalharem em prol da cidade e dos planos de gestão. A entrevista foi a Marcel Leal no programa Mesa Pra 2 (quartas, 15h), da Morena FM. ML - Você acredita que Itabuna ainda se vira bem mesmo enfrentando uma crise nacional? RA - Itabuna é uma cidade muito interessante. Quando cheguei aqui em 86, foi o ano da maior produção de cacau da historia e tinha uma economia pujante. E não estava em sintonia com o que acontecia no país. Alguns anos depois, com a crise da vassoura de bruxa, a coisa se inverteu. O município não só declinou no desenvolvimento econômico, mas a própria beleza da cidade, a cultura, que caiu muito e não acompanhou outras cidades. Itabuna tem suas características próprias, mas necessita de algumas mudanças importantes para que volte a se desenvolver. Na ACI, quando você entrou já pensando em ir para a diretoria? Entrei a principio a convite de um colega. Depois me desmotivei, cometi um erro, porque me afastei. Depois, na presidência de Eduardo Fontes, ele me convidou novamente e percebi o erro que tinha cometido. Se a gente não encontra um ambiente favorável na associação comercial, a gente tem que lutar para que haja mudança. Mudei o comportamento e tive a vontade de sair do lado opositor e ir para a linha de frente, realizar os objetivos que entendo serem importantes. Luiz disse que a entidade precisava retomar o protagonismo. Você acha que houve avanços? Eu diria que deu um pontapé inicial. Existem muitas coisas para se fazer e não estamos satisfeitos com a participação de nós, empresários. Eles têm que ter uma participação mais ativa. Recentemente assistimos uma palestra que mostrava que 90% do PIB de nossa cidade está nas mãos do comercio, da indústria e dos serviços. Soube que você ficou impressionado com o Espirito Santo em Ação. O que é isso? Conheci o Espírito Santo em Ação no ultimo fórum empresarial no hotel Transamérica. Fui convidado pelo Luis Wagner e fiquei impressionado com a capacidade e as realizações do Espírito Santo, que enfrentava um problema sério de segurança e corrupção. Houve um trabalho bem aliado com o governo do estado, prefeituras, ministério público. Eles são parceiros. Você acha que um esquema igual a esse é possível na Bahia? A gente tem tendência de achar que o que deu certo em outra região teríamos problema de não dar certo aqui. Existem diferenças culturais, mas entendo que temos um papel importante nesse processo. Não é fácil, mas um dos nossos grandes objetivos na ACI é o de ir buscar modelos que deram certo. O que não pode é se acomodar. Você pretende dar à ACI um papel mais ativo para discutir problemas locais? Tenho alguns propósitos na ACI, mas diria que o principal não tem nada a ver com questão estatutária, mas mudança de cultura. Essa vai ser minha briga contínua. Precisamos fazer o dever de casa e iniciar pela associação, pelos empresários e até quem não faz parte dela. Temos que implantar alguns valores como o compromisso, o respeito e a coragem. Temos que buscar parcerias e nossos direitos dentro da lei. O que a ACI e a Câmara podem contribuir com a nossa cidade? O que a ACI e o Ministério Publico podem contribuir? Precisamos ter objetivos comuns - e esse objetivo tem que Itabuna. O que você vê de mais problemático no comércio hoje? Eu vejo que as instituições que cuidam do comércio e do serviço precisam ter planejamento estratégico. Não param para planejar, não tem código de ética, não existem princípios. Quando falei que devemos fazer o dever de casa, nós, empresários, temos que planejar. Também é preciso ter energia para tomar ações necessárias. Não adianta transformar a associação num muro de lamentações. Temos que ter metas, ações para sensibilizar a sociedade para ficar do nosso lado. Você já tem uma ideia de que problemas devem ser abordados primeiro? Temos propósito de trabalhar com pesquisa, olhando o lado do empresário e da comunidade. Se temos problema com a violência, temos que buscar solução para a violência. Quando a gente recebe a visita de políticos, eles procuram saber quais os principais problemas. Mas não temos dados do PIB, do IDH, de violência, nada. Nosso objetivo nesse inicio de trabalho é buscar isso. Estamos buscando parcerias com o Sebrae e o professor Gasparetto, de trazer dados reais. É fundamental isso. Nas reuniões, como você sente o comércio neste momento? Mais uma vez por intuição, percebemos que essa crise com aumento de juros, restrição ao crédito, tem afetado o comércio. Temos dados de outras regiões que falam em 30% de redução em relação ao ano passado, mas temos dados reais para a região. Com relação ao consumo de chocolate na Páscoa no Brasil, houve redução de 30%. As industrias se queixam de não conseguir vender seus produtos acabados por conta da diminuição do consumo do chocolate. Pela primeira vez em 30 anos as indústrias não estão comprando cacau. Eles estão adiando as compras e aumentando exigências de qualidade, como fumaça zero... É, eles exigem fumaça zero, cacau fermentado. Como não tem um prêmio por produzir um cacau de qualidade, então não se fermenta o cacau como devia. Além disso, estão começando a solicitar certificação de algumas fazendas. Tudo isso está acontecendo em função da queda do consumo de cacau no Brasil. Apesar disso, o preço do cacau ainda está melhor. Poderia estar melhor se não houvesse o deságio, que na bolsa está em torno de 500 dólares. O cacau, apesar de não ser o maior sustentáculo, ainda influencia muito nas vendas? É, porque com o aumento da produção e do preço, a quantidade de recursos na economia tende a ser bem maior, mas com o dado de que cacau não representa muito no PIB. Talvez o reflexo ainda não seja tão grande, mas existe aquela cadeia produtiva que acaba influenciando de forma importante. Quais são suas principais metas na ACI? A principal meta é o resgate da credibilidade da Associação Comercial. E não estou fazendo nenhuma critica a gestões anteriores. Mas temos poucos empresários participando. Pelo histórico a ACI já teve cerca de 700 sócios, hoje são 110, dos quais 68 ficaram aptos para votar. Eu não culpo os empresários individualmente. Existe uma tendência de todo líder colocar a culpa nos liderados que não participam, não se aglutinam, não frequentam reuniões, mas temos também que nos colocar como culpados. Os associados têm que ter uma contraprestação, se sentir motivados, e entender que estão de fato bem representados. Temos que nos colocar como culpados, saber quais nossos erros, porque não estamos conseguindo influenciar o empresariado. Por isso quero primeiro arrumar a casa. Além do centro, Itabuna tem comércio forte no São Caetano. A ACI pretende ir até lá? Acho que falta ir atrás de muita coisa. O próprio shopping não era sócio, fomos atrás e estão interessados em participar. Temos muitas campanhas voltadas para a Cinquentenário e não se consegue atender os interesses do comércio como um todo. A ACI não é só do comércio, é da industria e dos prestadores de Serviço. Fui à Trifiil, que não era associada, e conseguimos trazer para nosso quadro. As pequenas empresas também não podem ficar de fora. Vamos tentar aglutinar uma maior quantidade possível. Você acha que dá para dar um pulo de desenvolvimento? É de fundamental importância a mobilização para que as coisas aconteçam. Eu vejo um desrespeito para com a região. Prometem, não cumprem e não se sentem constrangidos em não fazer. Talvez por culpa nossa, que não exigimos. Empresários dizem que não foram ouvidos, o poder publico diz que os empresários não os procuraram. Na reforma mal feita da Cinquentenário nenhum empresário reclamou... Você tocou num ponto importante. Existe tendência de achar que a maioria da população é de pessoas más, mas tenho a consciência que 80% a 90% são boas. E essa maioria não gosta do enfrentamento, de brigar, se acomodam. Então esse valor coragem eu carrego dentro de mim e tenho certeza que esse grupo do bem pode se impor. Ai talvez essas mudanças sejam mais fáceis de acontecer. Por isso tenho interesse em trazer para a associação empresas que tenham compromissos e queiram se impor. Toda instituição tem que ter autonomia e sem isso ela é frágil. Se tem medo de retaliação, ela é fraca. Não pode haver dentro da instituição a oposição partidária, mas temos que ter posicionamento político. Por isso as relações com o poder público têm que ser melhoradas. |
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