"Golpe da delegacia" vem se espalhando

Uma modalidade de crime vem fazendo um número cada vez maior de vítimas, o "sextortion", ou "extorsão sexual", caracterizado quando o criminoso pede dinheiro para não divulgar fotos e vídeos íntimos da vítima. O advogado criminalista Renan Farah explica o "golpe da novinha", também chamado de "golpe da falsa delegacia".

“Uma pessoa usa uma conta falsa e se faz passar por uma bela mulher. Ela aciona as vítimas pelas redes sociais, como Instagram e Facebook, e estabelece um relacionamento virtual que rapidamente evolui para a troca de fotos íntimas. Quando a vítima envia imagens íntimas que permitem identificá-la, o estelionatário entra em ação”.

A suposta mulher bloqueia a vítima e um falsário entra em contato, se identificando como pai da menina ou delegado de polícia. O golpista informa que a moça é menor e pede dinheiro para que a vítima não seja exposta à família, ao empregador, à polícia e à imprensa.

“Quando o golpista se apresenta como delegado, envia um vídeo com um trecho da suposta denúncia da mãe da moça. Todo o cenário é montado de forma a levar a vítima crer que se trata de uma delegacia. Tem banner, uniforme e carteiras funcionais falsificadas. Em alguns casos, enviam documentos falsificados com o timbre da corporação".

"Assustados, muitos homens não percebem os indícios de fraude e costumam pagar as quantias exigidas para não serem expostos”, completa Farah. O criminalista explica que, para muitas vítimas, o que pesa é a falsa acusação de ter cometido um crime de pedofilia.

“É importante ressaltar que não há, nesse golpe, a possibilidade de a vítima ter cometido o crime, uma vez que o perfil falso é administrado por um criminoso que, muitas vezes, é homem e está preso. Em nenhum momento as vítimas são informadas de que a suposta mulher é menor de idade, eles acreditam que estão conversando com uma mulher maior de idade, mas ficam apavorados de serem falsamente acusados e acabam cedendo às chantagens”.

Abalo psicológico

Uma das vítimas conta que só percebeu que havia sido vítima de um golpe dois dias depois, ao consultar um advogado. Antes, pagou R$ 10 mil aos criminosos. Mas diz que o prejuízo financeiro foi menor que os psíquicos provocados pela chantagem. “Eles colocam tanta pressão que abalam o nosso psicológico e fazem a gente pensar até em suicídio”.

O advogado explica que esse golpe teve um crescimento em 2021, provocado pelo prolongado isolamento social. “A quarentena deixou muita gente carente e as relações virtuais se intensificaram. Tudo isso transformou a internet em um terreno fértil para ação dos criminosos”.

Segundo Farah, a maior dificuldade de coibir esse tipo de crime é a vergonha da vítima, que a impede de denunciar. “Minha orientação é para que as pessoas desconfiem de relações com estranhos que rapidamente evoluem para a troca de nudes. Elas também devem evitar ao máximo ter esse tipo de relação virtual com desconhecidos".

Fui vítima, o que fazer?

O criminalista orienta as vítimas a bloquear os golpistas e não ceder à chantagem. “Se a pessoa for comprometida, o ideal é que abra o jogo para a companheira, porque muitos estelionatários costumam enviar os vídeos mesmo que tenham recebido alguma quantia”.

Outra orientação é procurar um advogado de confiança e registrar o crime. “Sempre que perceber que está sendo coagido, ameaçado e não estiver seguro de procurar as autoridades policiais, procure um advogado da sua confiança. Nesse caso as vítimas não procuram porque têm certeza de que estão sendo autores do crime de pedofilia".

"Essa é a principal estratégia dos golpistas, fazer a vítima se sentir culpada e pensar que está sendo beneficiada ao ceder à extorsão”, afirma. Farah explica que o advogado da vítima pode ingressar com o requerimento de instauração de inquérito policial.

“Nesse documento é possível juntar provas de forma ordenada, narrar os fatos com a versão da vítima e depois passar a participar do inquérito como assistente da acusação. A polícia tem condições de identificar, por meio de investigações e perícias criminais, os autores do golpe”.

Em uma dessas ações, no final de agosto, policiais do Rio Grande do Sul fizeram uma operação para coibir o golpe, cumprindo 16 mandados judiciais. Em três presídios, a polícia encontrou um roteiro que explicava como abordar e extorquir as vítimas. Seis pessoas foram presas.

17:15  |  


Muito esforço foi feito para produzir estas notícias. Faça uma doação para repor nossas energias. Qualquer valor é bem vindo. Pode ser via Bradesco, ag 0239, cc 62.947-2, em nome de A Região Editora Ltda, ou pelos botões abaixo para cartão e recorrentes.

     


morena fm