Mortes de bebês podem ser evitadas
Duas em cada três mortes de bebês poderiam ser evitadas no Brasil, segundo o Observatório de Saúde na Infância. O Brasil registra por ano 22,9 mil mortes de bebês de até 1 ano que poderiam ser evitadas se houvesse tratamento para doenças como diarreia.
A avaliação indica que duas em cada três mortes de bebês desta faixa etária poderiam ser evitadas com ações como vacinação, amamentação e acesso à atenção básica. A pesquisadora Patricia Boccolini lembrou que, em 2019, o Brasil perdeu o selo de erradicação de sarampo por causa da queda na cobertura vacinal.
“A gente vem observando o aumento no número de casos, muitos deles evoluem para hospitalização”, disse em entrevista à EBC. Patricia, que é vinculada ao Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão (Nippis), informou que, em três anos, foram contabilizadas mais de 1,6 mil internações decorrentes de sarampo.
Um número deste tamanho não era registrado desde o início dos anos 2000. Em igual período, foram 26 óbitos de crianças abaixo de 5 anos por causa da doença. “A gente já estava há anos sem ter uma morte sequer por sarampo no Brasil”, completou.
O estudo do Observa Infância, que identifica as causas de mortes evitáveis entre os bebês, utilizou o cruzamento de grandes bases de dados próprias, do Programa Nacional de Imunização (PNI) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade, ambos do Ministério da Saúde.
“Nosso trabalho é perguntar a essas bases aquilo que a sociedade não pode ignorar: o que mata as nossas crianças? O que podemos fazer para evitar essas mortes?”, destacou Patrícia. Segundo a pesquisadora, foi possível concluir que há muita desigualdade na cobertura vacinal do país.
“Essa desigualdade está relacionada, principalmente, com o acesso à atenção básica. Onde a atenção básica não chega, a queda da cobertura vacinal é mais acentuada”, apontou. “À medida que a cobertura vacinal vem caindo nos últimos anos, onde tem uma melhor estrutura de atenção primária, esse número cai menos".
"É fundamental a atenção primária de saúde para manter a cobertura vacinal”, completou o pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz, Cristiano Boccolini, que também participa do estudo.
O pesquisador acrescenta que mais da metade dos bebês mortos por ano poderiam ter sido salvos por um pré-natal adequado e uma boa atenção das gestantes no pós-parto. Cristiano defendeu ainda o fortalecimento de políticas públicas para promover a amamentação na primeira hora de vida e exclusivo nos seis primeiros meses.
"Porque há uma relação direta com a prevenção de grande parte dos óbitos infantis", explica. “No estudo que eu fui coordenador, do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil, a gente observou que 62% das mães conseguiram alimentar os filhos na primeira hora de vida em 2019. Isso está aquém dos 80% ideais".
Cristiano destacou ainda a questão das propagandas que exaltam fórmulas que substituem o aleitamento materno. “Tem um consumo excessivo de fórmulas infantis. A gente tem a indústria convencendo os médicos e as famílias a usarem fórmulas infantis, ao invés de amamentarem os seus bebês".
"Aquelas mães que conseguem manter o aleitamento tem um segundo gargalo, que é a licença maternidade, que hoje está em quatro meses. As empresas do governo federal e alguns governos estaduais adotam o conceito de empresa cidadã que estende a licença maternidade por seis meses".
"Mas a pessoa precisa estar em trabalho formal, o que não é o caso da maioria das mães”, disse, destacando a importância do fortalecimento da rede de apoio às mães na atenção primária.
O trabalho indicou também que, entre 2018 e 2020, o Rio de Janeiro foi o município com maior número absoluto de óbitos (20) por diarreia entre bebês de até 1 ano, seguido de Belém (19), Manaus (14); Fortaleza e São Paulo (13).
Na mesma faixa etária, a capital fluminense ficou em segundo lugar (62) entre os municípios com maior número absoluto de mortes por pneumonia, atrás apenas de São Paulo (99). “Com a ampliação dessa Atenção Básica à Saúde a gente conseguiria reduzir bastante essas mortes”, afirmou o pesquisador.
“A gente está na semana de campanha do sarampo e é importante frisar que os pais levem as crianças para vacinar. A gente está vindo de anos sucessivos de queda e precisa resgatar. A campanha é um bom momento para lembrar que quem tomou a primeira dose precisa tomar a segunda". Com Abr.
Muito esforço foi feito para produzir estas notícias. Faça uma doação para repor nossas energias. Qualquer valor é bem vindo. Pode ser via Bradesco, ag 0239, cc 62.947-2, em nome de A Região Editora Ltda, ou pelos botões abaixo para cartão e recorrentes.
