diz ex-secretário de Agricultura, Comércio, Indústria e Turismo de Itabuna, Dadvidson Magalhães,
que deixou o cargo em abril para concorrer a uma vaga na Assembléia Legislativa de deputado
estadual.
Aos 41 anos, casado, três filhos, e há 11 atuando como professor de História do Pensamento
Econômico e Formação Econômica do Brasil, na Uesc, o candidato do Partido Comunista do Brasil (PC
do B) se diz amadurecido.
Ex-vereador de Itabuna, durante dois mandatos (1989-l996); 2º suplente de deputado estadual, em
1998; e ex-candidato a prefeito, em 1996, o ex-secretário Davidson Magalhães considera que foi
satisfatória sua experiência à frente da pasta.
A criação da Agência Municipal de Emprego e Desenvolvimento (A.M.E.) e programas como o de
modernização das feiras livres, que começa a ser executado; de geração de emprego e de qualificação
de mão-de-obra, que atendeu a mais de três mil pessoas; o Auto-Credi; revitalização do comércio; e o
diagnóstico sócio-econômico são por ele comemorados.
A seguir, a entrevista concedido ao repórter Luiz Conceição.
A Região - O por quê da manutenção da candidatura do sr. a deputado estadual?
Davidson Magalhães - A minha candidatura surgiu naturalmente em função de ter sido vereador de
Itabuna por dois mandatos, e da experiência que adquiri no Legislativo; de minha atuação no
movimento social, onde organizei diversos sindicatos e fui um dos coordenadores da luta pela
estadualização da extinta Fespi. Também participei de lutas pela reforma agrária na região, com a
criação de sindicatos e reorganização de outros. Então, tudo isso, somado à experiência
administrativa, com um ano e quatro meses como secretário de Agricultura, Indústria, Comércio e
Turismo, e ainda à participação no meio político, com a vitória da frente democrática que derrotou o
autoritarismo e elegeu Geraldo Simões, tudo isso, me credencia a ser candidato.
AR - Também pesa a pouca representação regional?
D. M. - Não temos, em verdade, uma representação popular, vinda dos movimentos sociais. Temos
candidatos até progressistas. Mas não temos aqueles vindos do movimento ou que tenham ajudado a
organizar os movimentos sociais, do setor estudantil até à luta pela reforma agrária. Creio que a
região sente a necessidade de ter uma representação que faça ecoar no parlamento a luta social que
está do lado de fora. É um espaço a ser ocupado e a sociedade precisa disto.
AR - Aos 41 anos de idade o sr. se considera uma pessoa madura politicamente ?
D. M. - Evidentemente que tenho amadurecido. Toda essa experiência, já que passei por diversos
cargos e sou professor da Uesc há 11 anos, dá amadurecimento. Também me torna ainda mais convicto
nas posições políticas e quanto aos ideais que abracei desde os 17 anos, que foram o de construir um
governo socialista; que o homem não seja explorado pelo homem; e que não tenha apenas a igualdade
formal perante a lei, mas igualdade de condições. O amadurecimento não implica na negação das
convicções. Ao contrário, esse tempo todo que já passei, reforça as convicções de ter um mundo
diferente e isso também busco no espaço político regional.
AR - Qual será a principal plataforma de sua campanha para a Assembléia?
D.M. - Dois aspectos considero importante para chegar lá. Além da luta em defesa do
desenvolvimento regional, precisamos conceber uma política que leve em consideração o bi-polo
Itabuna e Ilhéus, fora da Região Metropolitana de Salvador, onde hoje se insere Feira de Santana. É
um segundo bi-polo da Bahia. Cuidar do bi-polo não implica em olhar somente as duas maiores cidades,
mas analisar a importância do ponto de vista econômico, populacional, estratégico e logístico. Há
que se ter um projeto abrangente.
AR - As duas cidades devem trabalhar integradas?
D. M. - Devem, sim. Um crescimento isoladamente de Ilhéus ou de Itabuna implica em deslocamento
populacional, migração, como já ocorreu. Então precisamos conceber um projeto que leve em conta o
bi-polo, já que são cidades com economias complementares. E, a partir daí, levar em consideração
todo o conjunto de cidades regionais que também sofrem com a falta de proposta de desenvolvimento.
Na minha opinião, o governo age de forma irresponsável. Primeiro no programa de recuperação do
cacau, já que desde 1994 que se discute isso. Ou seja, começamos a pensar na recuperação da lavoura
do cacau no século passado e nada resolveu.
AR - Falta vontade política?
D. M. - Grande parte das representações regionais estão associadas ao governo do estado. São
covardes e não têm posição política firme na mobilização do conjunto das forças sociais da região,
no tocante a projeto de desenvolvimento. Projeto esse que deve levar em consideração a importância
da recuperação da lavoura cacaueira, em outros moldes e que cuide da pequena produção. Também que
reestruture as relações de produção e diversos outros aspectos, com a criação de outros
equipamentos, como central de abastecimento, em Itabuna; posto alfandegado, em llhéus, pela
característica de cada uma das cidades. Itabuna se caracteriza como centro logístico, com uma
economia de serviços. Ilhéus tem o turismo e o pólo de informática ainda não consolidado, mas que é
alternativa tecnológica avançada para o conjunto da região.
AR - Como incluir a Uesc no seu projeto de desenvolvimento?
D. M. - Um polo universitário na região do cacau é fundamental. O crescimento da Uesc passa a ser
estratégico. Duas instituições jogaram papel importante no desenvolvimento regional: a Ceplac, que
foi esvaziada administrativamente pela irresponsabilidade do governo federal e a política neoliberal
de Fernando Henrique Cardoso, com o apoio do carlismo na Bahia. O órgão cedeu quadros importantes
para região e o que temos chamado de "Intelligentsia" passou pela sua estrutura. Agora, temos a
Uesc, que nasceu da Ceplac e de seus recursos. Essa universidade tem um papel muito grande. Por si
só, a Uesc já é a terceira geradora de receita na região, depois das prefeituras de Ilhéus e
Itabuna, só pelo seu orçamento...
AR - Ocupa papel que foi da Ceplac há algum tempo...
D. M. - É está ocupando mas sobre outro aspecto que é o da formação da ciência e tecnologia, da
elaboração de projeto de desenvolvimento a partir de toda a massa crítica que está ali sendo
formada. A Uesc tem esse papel dinâmico. Veja que os quadros que formou estão na administração
pública, mudando para melhor o perfil regional.
AR - A consolidação da Uesc é decisiva?
D. M. - É decisiva, não passa pela dispersão e sim pela consolidação do seu campus, e criação de
novos cursos. Agora estamos na etapa do amadurecimento da pesquisa e da extensão, vamos ter que
avançar muito. Professores estão se reciclando em uma luta pela melhoria da qualidade técnica.
Particularmente passei por um mestrado de Economia e achei importantíssimo. Há colegas fazendo
doutorado. Então, a massa crítica está em um processo de aperfeiçoamento decisivo.
AR - Não falta maior suporte do governo estadual?
D. M. - O governo do Estado não tem políticas para a educacão, agrária e industrial. O projeto
neoliberal é repetido na Bahia. Você cria modismos sem melhorar a qualidade de vida da população. A
Uesc foi uma luta histórica. Se conseguiu a gratuidade no governo democrático e não no governo
Antônio Carlos. O próximo passo é consolidá-la no aspecto da qualidade, e estamos nessa fase. O
governo entende que melhoria de qualidade de ensino é aspecto físico e temos um orçamento
estrangulado, o que faz a Universidade perder doutores, assim como gera prejuízos aos programas de
qualificação, extensão etc. Defendo uma universidade mais vinculada ao movimento social. O desafio
da Uesc é ter feed-bakc (interagir) com a Região Cacaueira.
AR - A participação como secretário da pasta econômica do governo de Itabuna lhe deu mais
experiência em relação ao legislador que o sr. foi?
D. M - São duas experiências que se complementam. Como legislador se apresenta e discute
propostas, formula leis e mobiliza a sociedade. Mas o cargo executivo é questão técnica e, como sou
da área da Economia, pude colocar em prática o que ensino em teoria na sala de aula. Pela
experiência política, demos agilidade à solução dos problemas.
AR - Pojetos importantes foram elaborados?
D. M. - Em um ano criamos medidas de curto prazo, alavancando o setor comercial com feiras
(Fecita, Feira de Automóveis etc.); entramos em um programa que vai mudar a cidade, com medidas
estruturais. Ou seja, não se pode trabalhar com amadorismo, improvisação. Daí que o diagnóstico
sócio-econômico vai nortear a cidade e seu crescimento, inclusive trouxemos a universidade para
dentro da administração pública, no caso da Ufba. Com a A.M.E., mobilizamos parte das escolas de
Administração e Economia, da Uesc, através de professores e estudantes para criar a massa política e
permitir o desenvolvimento econômico vinculado à capacitação profissional e a consultoria, com a
revitalização de núcleos como o pólo de confecções e calçados, apoio à economia informal etc.
AR - Como o sr. define sua candidatura?
D. M. - Eu sou o candidato do movimento social. O que é isso? É o candidato popular, não populista,
que vai se eleger não pelo clientelismo, o dinheiro, mas pela história, pelo que as pessoas conhecem
de nossa luta, da prática política clara, sem tergiversar, nunca mudei de partido. Meu partido é o
PC do B, é um só, e todos conhecem qual é minha linha e coerência ideológica e política, e mais
recentemente pela prática administrativa. Sou conhecido no movimento sindical, no Legislativo de
Itabuna e mais recentemente no Executivo. Há um perfil que as pessoas identificam e o grande legado
da candidatura é o que sou.
AR - Mas o sr. não se acha candidato só de Itabuna?
D. M. - Minha candidatura é do Estado da Bahia. Ninguém se elege em uma cidade só para poder
representá-la. Minha base eleitoral é Itabuna e disso todo mundo sabe. Agora sou candidato da
região, já que quando lutamos pela estadualização da Uesc, foi uma mobilização regional. Ajudei a
organizar o Sindicacau, os sindicato dos trabalhadores rurais e dos professores de Ilhéus. Então,
fizemos parte das lutas regionais. Quem é oposição em Ilhéus? Há quem se diga oposição e apoie os
mesmo candidatos do grupo carlista.
O PC do B é oposição à prefeitura e ao prefeito de Ilhéus pelo seu apoio ao carlismo e,
coerentemente somos oposição ao neoliberalsimo em Ilhéus, na Bahia e no Brasil. Também tenho apoios
em Salvador e outras regiões do estado, de onde vieram muitos dos meus alunos. Estaremos na
Assembléia Legislativa defendendo os interesses da Bahia e, particularmente da região Sul do
Estado.