14.Dezembro.2002
¨As denúncias contra ex-gestores afastaram a população da Câmara¨
de Itabuna afirma o novo presidente da Casa, Emanoel Acilino. Ele foi eleito na quarta-feira, 11,
para o biênio 2003/2004, ao obter 16 dos 18 votos dos vereadores que estavam no plenário, sendo que
pela 1ª vez na história de Itabuna um representante do Partido dos Trabalhadores é escolhido para a
presidência do Legislativo.
Em seu 2° mandato, o vereador Emanoel Acilino Teotônio da Luz, 53 anos,
casado, natural de Picos, Piauí, é formado em Medicina Veterinária e funcionário licenciado da
Ceplac. Além dos 16 votos dados ao novo presidente, foram registrados um voto em branco, um nulo e
uma abstenção.
O novo presidente prometeu realizar mudanças na estrutura do prédio da Câmara, informatizar as
assessorias de Imprensa, Jurídica e Parlamentar e adotar políticas de moralização, além da
construção de um novo prédio para abrigar o Legislativo.
Vamos trabalhar para que a população volte
a ter respeito por aquela Casa, disse ele. Além de Emanoel Acilino, a nova Mesa Diretora da Câmara
de Itabuna é formada pelos vereadores Ricardo Xavier (vice-presidente), Gegeu Barbosa (1°
secretário) e Roberto de Souza (2º secretário).
Os novos dirigentes da Mesa do Legislativo, que
tomarão posse entre os dias 1º e 3 de janeiro (ainda não definiram qual exatamente será o dia), são
todos de diferentes partidos políticos.
A Região - Que análise o senhor faz da sua eleição para presidente da Câmara?
Emanoel Acilino - Desde o início, quando foi lançada a nossa candidatura à
Presidência, já pensávamos na formação de uma mesa multipartidária, ou seja, composta por
representantes das mais variadas tendências políticas. Isso foi colocado em prática com a inclusão
do vereador Roberto de Souza, do PTB, na nossa chapa. Ocorreu uma situação inédita, pois há muito
tempo não se falava numa eleição com uma única chapa, que poderíamos classificar como de consenso.
AR - O senhor classificaria a sua eleição como inédita na história do Legislativo itabunense?
EA - Sim. Pelo menos nos últimos 20 anos não se tem conhecimento de que uma Mesa da Câmara
tenha
sido eleita com 16 votos. Estamos mais felizes ainda porque pela 1ª vez o Partido dos Trabalhadores
de Itabuna elegeu o presidente da Casa.
AR - O senhor é tido pelos seus adversários como um político radical. Que mudança foi essa?
EA - Nunca existiu radicalismo. O que há é o conceito de austeridade com o dinheiro público,
essa
sempre foi nossa bandeira e disso não abriremos mão. Achamos que muita gente ainda confunde a
exigência de utilização justa dos recursos públicos com o radicalismo, mas sabemos que são coisas
completamente diferentes.
AR - O senhor se elegeu levantando a bandeira da moralidade...
EA - Entendemos que o dinheiro público não é dos vereadores nem do presidente da Câmara, mas
sim da
sociedade itabunense. Por isso é necessário que façamos a prestação de contas e tratemos com rigor
essa questão. Será uma administração transparente, que irá transmitir confiança à comunidade.
AR - O senhor tem idéia de como irá encontrar a situação financeira da Câmara?
EA - É difícil fazer uma previsão da real situação financeira da Câmara, mas nessa semana
vamos
entrar em contato com o atual presidente para avaliarmos a questão dos débitos, tanto com os
funcionários quanto com encargos sociais, ou seja, as dívidas com o INSS, FGTS. Além disso
precisamos saber como andam os débitos com os fornecedores.
AR - E o aspecto físico da Câmara?
EA - É um espaço que necessita de reformas com certa urgência. Durante esses 45 dias que
temos pela
frente período que inclui a data da posse e o recesso vamos promover uma mini-reforma no prédio,
recuperando as instalações elétrica e hidráulica, além de fazer melhorias no plenário da Câmara, que
hoje não oferece as mínimas condições de trabalho.
AR - E as outras metas?
EA - A longo prazo teremos que promover modificações na Lei Orgânica do Município e revisar o
nosso
Regimento Interno, pois estão com muitos pontos obsoletos, com artigos e leis ultrapassados. Em
Ilhéus isso já foi feito recentemente e nós precisamos realizar essas mudanças em uma boa parte das
leis. Também é nosso objetivo informatizar as assessorias de Imprensa, Jurídica e Parlamentar, além
de adotar medidas com a intenção de melhorar as condições de trabalho dos funcionários.
AR - Voltando à questão da dívida. O rombo chega a 2 milhões de reais como se especulam?
EA - Insisto em não poder falar em valores porque ainda não temos em mãos as informações da
contabilidade, mas tão logo tomemos conhecimento da real situação iremos divulgar esses dados para a
imprensa e para a população.
AR - E com relação à precariedade do prédio da Câmara?
EA - Vamos tentar junto ao Executivo a possibilidade de desapropriar uma área no bairro São
Caetano, próximo ao Centro Administrativo. Nessa área vamos construir, em parceria com a Prefeitura
de Itabuna, um novo prédio, sendo essa a minha principal luta para que a Câmara funcione de maneira
adequada.
AR - Nos últimos anos a relação Câmara e sociedade foi muito distante. Isso mudará com a sua
eleição?
EA - É notável que a Câmara está muito desgastada perante a comunidade, o que ocorreu por
causa das
denúncias de desmandos divulgadas pela imprensa nos últimos anos. Vamos moralizar a Câmara com um
trabalho sério, árduo, com a preocupação de informar a comunidade sobre as realizações de cada
vereador. Será estabelecida uma relação mais próxima com a sociedade civil organizada, convidando as
entidades para participar dos trabalhos realizados na Casa. Ressalto que os desmandos constatados em
algumas gestões anteriores fizeram com que a sociedade se mantivesse à distância do Legislativo,
pois foi reforçada a imagem de que todos os políticos são iguais.
AR - Mas nem em votação de projeto polêmico há presença da população?
EA - Nem durante a votação do Orçamento Municipal, que considero ser a lei mais importante da
cidade. Por conta dos fatores mencionados acima, mesmo convidada a participar das decisões, como
determinam as leis orgânica do município e de responsabilidade fiscal, a sociedade praticamente não
participa. Isso, repito, em função desse descrédito que existe. Mas iremos tentar reverter essa
situação.
AR - Qual a avaliação que o senhor faz das administrações da Câmara nos últimos seis anos?
EA - A Câmara de Vereadores passou por grandes turbulências, foram alguns períodos marcados
por
atrasos de pagamentos dos salários de funcionários, aposentados e pensionistas e fornecedores. Mas
chamamos a atenção que isso ocorreu principalmente nos anos em que a Prefeitura de Itabuna foi
administrada pelo senhor Fernando Gomes. Não quero isentar os ex-presidentes da Câmara, mas informar
que o ex-prefeito teve a sua parcela de culpa para que em determinada época o Legislativo ficasse no
estado de caos.
AR - Mas o que tem a ver a administração do ex-prefeito com as mazelas no Legislativo?
EA - Numa política de retaliação, o ex-prefeito por muitas vezes deixou de repassar os
recursos que
a Câmara tinha assegurados pela lei. Em outras, só repassou menos da metade dos recursos quando
deveria disponibilizar mais de R$ 200 mil só liberava R$ 70 mil mensais o que também prejudicou a
imagem dos ex-presidentes da Casa.
AR - O senhor faz parte do grupo político do atual prefeito. Como será a relação Legislativo
e
Executivo?
EA - Será como determina a Constituição Federal. O Poder Legislativo irá funcionar sem
atritos com o
Executivo e Judiciário, mas com muita independência.