17.Maio.2003
"Tenho uma magoa muito grande por não ser respeitado pela Uesc"
afirma Adelindo Kfoury Silveira, um dos historiadores mais requisitado do sul da Bahia. Além de ser
autor de 12 livros e de mais de mil crônicas e contos publicados no Brasil e no exterior, Kfoury já
foi diretor de rádios e jornais em Itabuna e, nesta entrevista exclusiva ao A Região, reclama da
maneira como é tratado por parte dos acadêmicos, lançando um desafio aos "cérebros" da Universidade
Estadual de Santa Cruz.
Autor do livro ?Itabuna, Minha Terra?, a obra mais completa sobre a história de Itabuna, e ganhador
de três prêmios literários, Adelindo afirma que é discriminado pela universidade por não ter cursado
história. "Tenho sido informado que alguns catedráticos, que se julgam com a reserva de mercado, não
aceitam meu trabalho por eu não ser portador de licenciatura em história. Mas me submeto a qualquer
banca examinadora e provo que tudo que publiquei são fatos verdadeiros".
Além de escritor-historiador, Adelindo exerceu cargos importantes e figura como membro do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia, Sócio Titular da Associação Brasileira de Relações Públicas e Sócio
Efetivo da Associação Baiana de Imprensa.
A Região - A comunidade considera o senhor a maior autoridade na história de Itabuna. Por que
a comunidade acadêmica não reconhece o seu trabalho?
Adelindo Kfoury - Por paradoxal que pareça não tenho tido muitas oportunidades de divulgar a
história de Itabuna que, de certa forma, está ?obstaculada? porque a minha universidade ? Uesc ? não
me reconhece como historiador regional e não divulga o meu trabalho.
AR - Como assim?
AK - Sou convidado para conceder entrevistas nas Tvs, rádios e jornais, que utilizam o meu
material para elaboração de reportagens sobre a história de Itabuna, mas nunca fui procurado pela
Universidade Estadual de Santa Cruz para ao menos participar de um debate. O mais interessante é que
a universidade não me reconhece, no entanto sou procurado, através de telefone, exaustivamente por
estudantes da instituição.
AR - O senhor é uma fonte de pesquisa para os alunos da Uesc?
AK - Exatamente. As consultas ocorrem com muita freqüência. É uma situação curiosa essa, pois
a universidade não me aceita oficialmente por acreditar que não faço parte do rol dos escritores
regionais, mas indiretamente tem as informações que repasso como verdadeiras. Acho que a Uesc
deveria ter mais respeito comigo. Sou um cidadão que tem 12 livros lançados, já ganhei três prêmios
literários, tenho cerca de mil crônicas e contos publicados nos jornais tanto no Brasil quanto no
exterior.
AR - Senhor faz idéia do por quê dessa discriminação?
AK - Acredito que são basicamente duas razões. A primeira, por eu ser itabunense e a segunda
porque não tenho licenciatura em história, como se somente o diploma do curso desse autenticidade
aos fatos históricos. Não alisei os bancos da universidade durante as aulas dessa disciplina nem
estraguei os fundos das calças para estudar História - embora tenha curso universitário -, mas
gastei muitas solas de sapato caminhando para obter a história de Itabuna, consumi muitas horas da
minha vida pesquisando os acontecimentos da cidade, o que muitos por aí nunca fizeram.
AR - O senhor esperava o tratamento que tem recebido dos acadêmicos da Uesc?
AK - Nunca imaginei que a minha universidade iria me tratar de tal maneira. Eu cheguei a
acreditar que, publicado o livro ?Itabuna, Minha Terra?, a universidade o absorvesse para o seu
currículo, mas infelizmente tenho sido informado que alguns catedráticos, que se julgam com reserva
de mercado, não aceitam meu trabalho porque - repito - não tenho licenciatura em história.
AR - Eles têm receio de concorrer com o senhor...
AK - Respeito aqueles que têm licenciatura em história, é absolutamente correta essa
exigência, mas tenho convicção que esse requisito não tira a autenticidade do meu trabalho. Tenho
uma mágoa muito grande da maneira como me tratam, mas isso não diminui meu entusiasmo. É tanto que
investi do meu próprio bolso para oferecer a Itabuna a sua verdadeira história. A Editus - editora
da Uesc - nunca quis publicar um único livro meu.
AR - Mas fora da Uesc a receptividade ao ?Itabuna, Minha Terra? é muito boa...
AK - A receptividade tem superado as nossas expectativas. Além das vendas avulsas, estou
muito contente porque vários colégios de Itabuna adotaram a obra em sua grade curricular. Mas, além
disso, eu queria que o livro fosse disseminado na Uesc, isso não aconteceu.
AR - Diante dessa falta de reconhecimento, o senhor se submeteria a testes elaborados por
acadêmicos da Uesc?
AK - Desafio que venham todos os catedráticos de história dos quadros da universidade,
munidos de documentos, que eles dizem possuir, sobre a história de Itabuna, que eu aceito me
submeter a uma banca examinadora. Sei que responderei todas as perguntas sobre a história de
Itabuna, porque pesquiso a praticamente 50 anos, conheço tudo, cada milímetro da cidade. Conheço a
história de cada rua de Itabuna. Então falo com absoluta convicção que tudo que escrevi é verdadeiro
e tenho como provar.
AR - Mudando um pouco o foco da conversa. O senhor acaba de escrever o ?Auto de Itabuna?...
AK - A peça o ?Auto de Itabuna? é uma síntese do livro que conta a história da cidade numa
linguagem de fácil absorção por parte de qualquer tipo de público. É um trabalho interativo, onde as
pessoas participarão, pois alguns personagens entrarão em cena a partir do público. Estamos criando
um ambiente em que os espectadores se sintam parte dos fatos históricos. A peça é encerrada com a
sessão solene da fundação da cidade de Itabuna. Ali o público estará participando da reunião,
vibrando, indicando nomes, e depois entra a banda de música, como ocorreu na sessão real da
emancipação de Itabuna.
AR - Então a peça é uma adaptação do livro para o teatro?
AK - Sim. É um resumo do livro, cujo objetivo principal é atingir o maior número de pessoas.
Além disso, a obra é uma forma de doar para Itabuna o que quase todas as cidades brasileiras têm,
que é um auto, instrumento importante para a cultura de cada uma delas.
AR - O que mais o povo pode esperar desse trabalho?
AK - É uma experiência nova, com grandes surpresas para o público. A peça é uma forma de
fazer com que todos entendam a história de Itabuna.
AR - Quando será lançado esse espetáculo? Será apresentação única?
AK - Ainda não sei. Isso vai depender agora da Fundação Jupará (de Ecologia e Cultura), que
se comprometeu a finalizar e levar o trabalho para o público. Com o ?Auto de Itabuna?, esperamos
levar a história desta cidade a toda a população, principalmente aos jovens.