12.Abril.2003
"A cirurgia plástica vaginal desperta interesse"
e é um retoque íntimo que ganha cada vez mais adeptas no eixo Ilhéus/Itabuna. Embora não exista
estatística sobre o aumento deste tipo de intervenção nos hospitais, é possível verificar isso nos
consultórios. O que se sabe, é que em busca desta perfeição estética muitas mulheres têm procurado
os consultórios ginecológicos para se informar sobre a cirurgia íntima.
Trata-se de uma plástica que muda os contornos ou o tamanho da vagina e da vulva (a parte de fora
dos órgãos genitais, que inclui os grandes e pequenos lábios). Esse privilégio não é só da mulheres.
Os homens também andam interessados no assunto. Afinal, existe a possibilidade de aumentar e
engrossar o pênis.
Entre as cirurgias íntimas mais procuradas estão a lipoaspiração no púbis e a diminuição dos
pequenos lábios. Essas cirurgias, que apenas recentemente vêm sendo realizadas com fins estéticos,
sempre foram consideradas "muito doloridas e perigosas".
Hoje as técnicas anestésicas evoluíram muito, como também a aparelhagem dos centros cirúrgicos.
"A possibilidade de se perder o prazer não é nula, mas também não considero um perigo constante,
como há alguns anos atrás", conforta o dr. Alexandre Randow, médico-cirurgião especialista em
Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Bartolomeu Chaves, em Ilhéus.
A Região - O que leva as mulheres a procurar uma cirurgia de alto risco?
Alexandre Randow - O prazer de se sentir bela e desejada. Uma mulher depois que
teve vários filhos por exemplo, de parto natural, vai sentindo que tanto a vulva como a vagina vão
relaxando, perdendo a elasticidade natural. Como todo o resto do corpo, a vagina e a vulva também
envelhecem. Mas o pior é que o marido reclama e ela se sente rejeitada. Esses são os casos comuns.
Há também pacientes que vêm, mais do que em busca da perfeição, pelo aumento do prazer, do orgasmo.
AR - Existe essa possibilidade?
DA - Impossível. Essa cirurgia plástica é apenas estética. Muda-se a forma e não o
conteúdo. Ao contrário, se ocorrer alguma anormalidade a mulher pode perder ou diminuir o prazer
sexual. Essa é uma cirurgia realizada no púbis, lugar extremamente sensível e anatomicamente
correto, pois ele serve como amortecedor do impacto durante o ato sexual. Qualquer alteração ali
pode causar desconforto.
AR - E além disso, existem outros problemas?
DA - Em toda cicatrização a pele fica mais inflexível, perde a elasticidade, fica mais
rígida, e em alguns casos pode reduzir a sensibilidade daquele local. Outro problema que pode
ocorrer é que a entrada do canal vaginal vai sofrer uma redução nessa cirurgia, o tecido vai sofrer
um encurtamento e isso pode provocar dor na hora da penetração.
AR - Sofrer uma cirurgia como esta apenas como valor estético vale a pena?
DA - Depende do grau da necessidade. A diminuição dos pequenos lábios são muito comuns. A
paciente se incomoda. Na maioria das mulheres, os pequenos lábios são diferentes. Um maior que o
outro, por exemplo. Numa mulher jovem isso causa desconforto. Às vezes os lábios são tão volumosos
que a paciente não pode usar calças compridas, principalmente essas justas que estão em moda. Como
também há o outro lado, em que os grandes lábios se tornam flácidos com a chegada da menopausa. A
solução é a lipoescultura, que injeta gordura da própria paciente no local.
AR - Quando o paciente tem que fazer uma lipoaspiração no púbis?
DA - A lipoaspiração é feita em homens e em mulheres. A obesidade localizada nessa
região é muito freqüente. No caso da mulher, essa cirurgia pode até fazer com que ela volte a sentir
o prazer da penetração.
AR - E no caso do homem?
DA - Para melhorar esteticamente a visualização, dando uma impressão de aumento. Mas há
casos que o objetivo é aumentar ou engrossar o pênis. O procedimento é bem simples para os dois
casos. Para aumentar o comprimento, corta-se o ligamento que dá sustentação ao pênis. O aumento não
ultrapassa a 3 centímetros, mas a ereção vai apontar para baixo, o que pode dificultar a penetração.
Já para aumentar o diâmetro se utiliza a lipoescultura, onde injeta gordura ou colágeno embaixo da
pele. Os riscos são grandes, porque pode criar nódulos e até necrose do enxerto, quando o tecido
morre e é preciso retirá-lo. Mas essa parte, quem explica melhor é um urologista.
AR - Essa cirurgia sempre foi reparadora; quais os casos orgânicos mais comuns?
DA - Ela sempre foi muito útil, principalmente no caso da mulher, com problemas de
deformidades graves, como por exemplo, de prolapso. Uma coisa extremamente desagradável. No parto
normal, algumas mulheres podem às vezes sofrer a ruptura perineal. Essa ruptura provoca um aumento
dos gases, que são chamados garrolitas vulvae. Esses gases, que saem durante o ato sexual
normalmente, para algumas pacientes são muitos e freqüentes, o que provoca certo mal-estar. Com isso
ela fica com vergonha e constrangimento, inibindo o ato sexual, sem a menor dúvida.
AR - Existe algum outro caso que seja comum?
DA - Sim. Outro caso triste são pacientes com cistoceles, que é conhecida como "queda da
bixiga", onde a pessoa perde urina involuntariamente quando tosse, espirra e às vezes em lugares
públicos. Tem pacientes mais graves ainda, que apresentam ritoceli, que é um relaxamento da parede
posterior da vagina, que ocasiona além dos gases, dificuldade de evacuar, de urinar.
AR - E como essa cirurgia se transformou em estética?
DA - Tudo vem dos Estados Unidos. Lá esse procedimento já é visto como cosmético, uma
postura que começa a ser implantada por aqui.
AR - Até que ponto mexer na forma é aconselhável?
DA - Como eu já disse, essa cirurgia não aumenta o prazer, mas ela tem a capacidade, como
toda cirurgia plástica, de apresentar uma performance mais agradável ao olhar. Isso dá uma maior
segurança para a paciente. Ela sabe que não tem mais aquele problema. Isso reflete na sua
auto-estima e conseqüentemente essa pessoa pode ter uma sexualidade mais feliz.
AR - Quanto custa uma cirurgia desta?
DA - Cada médico tem o seu preço, mas em média, fora os gastos com hospital e
medicamentos, cerca de R$ 2 mil para o médico particular. Entretanto os convênios geralmente cobrem
esse tipo de cirurgia, principalmente os casos mais graves.
AR - Hoje o pós-operátorio ainda é tão dolorido?
DA - Não, as técnicas de anestesia evoluíram muito. Elas oferecem até 48 horas de
analgesia. Que é o período mais dolorido.
AR - Quanto tempo para a internação e recuperação de um paciente?
DA - Depois de realizados todos os exames pré-operatório e a paciente apresentando todos
os sintomas corretos para sofrer uma cirurgia, ela se interna em um dia para a cirurgia, é operada
no mesmo dia, e no outro dia está saindo do hospital. Mas a recuperação total para voltar a ter
atividades sexuais acontece somente depois de 40 a 60 dias.