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13.Maio.2002

"Mudar para oposição me fez ver os problemas da Bahia"

afirma o deputado Edmon Lucas (PMDB) que, durante seis dos oito anos de mandato legislativo, seguiu a cartilha do carlismo, apoiando o governo do Estado. Como conseqüência, não tinha o direito de contestar, denunciar ou criticar ações do governo. Na Assembléia Legislativa, fazia parte da bancada do silêncio.
       Nos últimos dois anos, seu mandato ganhou nova roupagem. Edmon Lucas deixou de apoiar o governo e garante, em entrevista exclusiva ao A Região, que a mudança lhe deu o poder de ver mais nitidamente os problemas enfrentados pelo povo baiano, além do poder de usar a tribuna do Plenário para cobrar providências do governo.
       Médico, natural de Itajuípe, Edmon Lucas tem sido considerado um dos mais eloqüentes defensores dos direitos dos cidadãos baianos. De todos, e não apenas dos 40 mil que o reelegeram em 1998. Foi eleito pelos jornalistas que fazem cobertura da Assembléia Legislativa como Parlamentar Destaque de 2001.
       O deputado, que lidera os outros 21 deputados da Oposição, acredita que nesta eleição os eleitores vão fazer uso do poder do voto e contribuir para que ocorram mudanças na Bahia. A começar pela vitória da oposição para o governo.

A REGIÃO - O senhor está chegando ao final de mais um mandato. Qual a sua avaliação sobre esses oito anos como deputado estadual?
EDMON LUCAS - Faço uma avaliação altamente positiva, especialmente nestes últimos dois anos, em que passei a fazer oposição ao governo do Estado. E não o fiz com irresponsabilidade, nem para auferir nenhuma vantagem de ordem pessoal. Até porque seria mais fácil fazê-lo do lado do governo, do que do lado das oposições, porque na Bahia quem é forte é o governo, que tem maioria esmagadora na Assembléia Legislativa. Essa mudança permitiu que eu visse melhor os problemas da Bahia e a não ação do governo do Estado. Isso nos ensejou na AL irmos à tribuna e darmos nossa opinião, o que não acontecia enquanto deputado governista, porque seria um contra-senso atacar o governo que apoiávamos. Esses dois anos foram muito mais produtivos em favor daqueles que votaram em mim, especialmente da região do cacau.

AR - Infelizmente as ações dos deputados têm se limitado aos discursos, porque a Assembléia Legislativa não tem votado os projetos dos deputados. O senhor acredita que isso mude até o final desta legislatura?
E. L. - Eu não acredito. Quem tem dado mostra de como poderia ser a independência dos poderes é o Tribunal de Justiça, com seu novo presidente, que tem conseguido melhorar as relações entre os poderes, sendo um poder independente, que tem as suas soluções e evoluções independente do Poder Executivo.

AR - E a Assembléia tem renunciado a essa independência?
E. L. - A Casa Legislativa, que poderia ser um poder inteirado com os outros, se faz um poder altamente homologador dos desejos do governo do Estado. Ao longo desses anos em que estou aqui, essa Casa só tem aprovado projetos do governo do Estado. Temos projetos de deputados - eu mesmo tenho alguns -, que são de grande valia para a melhoria da qualidade de vida do povo baiano e não saíram sequer da Secretaria da Casa para serem avaliados pelas Comissões Temáticas. Se os governistas optaram por ser homologadores, não será agora, em ano de eleição, que vão mudar.

AR - Qual sua avaliação sobre as eleições?
E.L. - Muito positiva. Quem faz governantes, deputados, prefeitos... é o povo. E o povo tem condições de modificar tudo o que está aí. Fizemos recentemente avaliação de dados de eleições recentes e vimos que apenas 30% do povo baiano tem votado no governo que aí está. Assim foi em 90, quando o ex-senador Antonio Carlos ganhou o governo com 3 pontos percentuais. Naquela eleição deixaram de ir às urnas, ou compareceram e votaram em branco ou nulo, 46% do eleitorado. Em 94, Paulo Souto teve 31,95% dos votos válidos, contra 31% das oposições. Houve segundo turno e ele ganhou com apenas 8% dos votos . Em 94, 56% dos eleitores se recusaram a participar da eleição. A eleição de 98 foi completamente atípica, onde o candidato era o deputado Luiz Eduardo Magalhães, que conseguiu fazer uma coligação muito ampla, com quase todos os partidos . Com a sua morte, a coligação foi mantida elegendo César Borges, com 61% dos votos contra 33% dos votos da oposição. Só que deixaram de votar ou votaram em branco ou nulo 56,85% do eleitorado baiano, o que dá 1,3 milhão votos de frente em relação aos dois candidatos.

AR - Mas esses números mostram o desinteresse dos eleitores. Isso não é ruim?
E. L. - Claro, e esperamos que neste ano esses eleitores dêem uma destinação diferente aos seus votos. Que votem nos candidatos da oposição, permitindo a nossa vitória. Em uma democracia é importante a alternância do poder. Por isso é extremamente importante que o povo da Bahia, que é quem pode mudar o quadro político que a Bahia se encontra há 10 anos, vote nos candidatos da oposição. Temos três nomes com capacidade para administrar a Bahia.

AR - Três candidaturas não atrapalham?
E. L. - A unidade que estava sendo costurada pelas lideranças e pelos partido de oposição na Bahia caiu em virtude da verticalização determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Mas não é tão ruim como parece. Iremos com três candidatos e com a proposta, que está sendo costurada, de que tenhamos somente dois candidatos ao Senado, competindo igual com os candidatos ao senado do lado do governo.

AR - O voto regional vem sendo debatido. Qual sua avaliação sobre isso?
E. L. - Acho que é muito interessante. Mas é importante que as pessoas que vivem na região e são eleitores, e que são formadores de opinião, tenham consciência disso. Nós temos, por exemplo, na macrorregião do cacau, quatro deputados: Renato Costa, Antonio Vieira, Junior Dapé e eu. Temos ainda no Baixo Sul o deputado Osvaldo Souza. Isso é muito pouco, mesmo porque temos uma densidade eleitoral perto de 1,2 milhão de votos e poderíamos eleger uma bancada muito maior, que poderia lutar pela cacauicultura. Só tenho uma preocupação: outras regiões votam maciçamente nos seus candidatos e eles, em determinado momento, resolvem seus problemas. Mas isso só vai acontecer quando tivermos o voto distrital. Por enquanto todos os candidatos têm inserção em toda a região do Estado. Esta é a regra do jogo e não podemos mudar.

AR - E o cacau? A cultura ainda tem chances de sobreviver?
E.L. - Não tenho nenhuma dúvida. O PMDB e o PSDB fizeram uma ação conjunta trazendo o presidente da República à região do cacau, onde foi assinada autorização para liberação de recursos para renovação da cacauicultura baiana. Temos notado, porém, que alguns políticos têm buscado travar esses recursos só com uma intenção política. Porque esse recurso está carimbado pelo PMDB e PSDB. E aqueles que ficaram ao longo do tempo dizendo que eram os grandes patrocinadores do desenvolvimento baiano, e em especial da cacauicultura, que eram os deputados e o líder maior do PFL baiano, o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, têm tentado emperrar o programa.

AR - E o boicote denunciado pelo senhor e pelo deputado Renato Costa foi solucionado?
E. L. - Sim. Temos conseguido aos poucos resolver isso. Conseguimos, recentemente, contestar as ações que estavam barrando as avaliações das propostas que estavam sendo estudadas na Ceplac, para que elas fossem avaliadas com mais rapidez e encaminhadas ao Banco do Brasil. O próprio ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, já assimila que o cacau baiano será novamente exportado, em torno de 300 mil toneladas em 2005 a 2006. Isso é quase o dobro do que era exportado antes da vassoura de bruxa, das condições climáticas e do preço internacional - que foram as causas mais importantes para o desgaste da cacauicultura. Os eleitores dessa região precisam ter a consciência de que, só a partir de governantes comprometidos com essa causa poderão fazer com que a cacauicultura seja impulsionada.

 

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