afirma o deputado Edmon Lucas (PMDB) que, durante seis dos oito anos de mandato legislativo,
seguiu a cartilha do carlismo, apoiando o governo do Estado. Como conseqüência, não tinha o direito
de contestar, denunciar ou criticar ações do governo. Na Assembléia Legislativa, fazia parte da
bancada do silêncio.
Nos últimos dois anos, seu mandato ganhou nova roupagem. Edmon Lucas deixou de apoiar o governo e
garante, em entrevista exclusiva ao A Região, que a mudança lhe deu o poder de ver mais nitidamente
os problemas enfrentados pelo povo baiano, além do poder de usar a tribuna do Plenário para cobrar
providências do governo.
Médico, natural de Itajuípe, Edmon Lucas tem sido considerado um dos mais eloqüentes defensores dos
direitos dos cidadãos baianos. De todos, e não apenas dos 40 mil que o reelegeram em 1998. Foi
eleito pelos jornalistas que fazem cobertura da Assembléia Legislativa como Parlamentar Destaque de
2001.
O deputado, que lidera os outros 21 deputados da Oposição, acredita que nesta eleição os eleitores
vão fazer uso do poder do voto e contribuir para que ocorram mudanças na Bahia. A começar pela
vitória da oposição para o governo.
A REGIÃO - O senhor está chegando ao final de mais um mandato. Qual a sua avaliação sobre esses
oito anos como deputado estadual?
EDMON LUCAS - Faço uma avaliação altamente positiva, especialmente nestes últimos dois anos, em que
passei a fazer oposição ao governo do Estado. E não o fiz com irresponsabilidade, nem para auferir
nenhuma vantagem de ordem pessoal. Até porque seria mais fácil fazê-lo do lado do governo, do que do
lado das oposições, porque na Bahia quem é forte é o governo, que tem maioria esmagadora na
Assembléia Legislativa. Essa mudança permitiu que eu visse melhor os problemas da Bahia e a não ação
do governo do Estado. Isso nos ensejou na AL irmos à tribuna e darmos nossa opinião, o que não
acontecia enquanto deputado governista, porque seria um contra-senso atacar o governo que
apoiávamos. Esses dois anos foram muito mais produtivos em favor daqueles que votaram em mim,
especialmente da região do cacau.
AR - Infelizmente as ações dos deputados têm se limitado aos discursos, porque a Assembléia
Legislativa não tem votado os projetos dos deputados. O senhor acredita que isso mude até o final
desta legislatura?
E. L. - Eu não acredito. Quem tem dado mostra de como poderia ser a independência dos poderes é o
Tribunal de Justiça, com seu novo presidente, que tem conseguido melhorar as relações entre os
poderes, sendo um poder independente, que tem as suas soluções e evoluções independente do Poder
Executivo.
AR - E a Assembléia tem renunciado a essa independência?
E. L. - A Casa Legislativa, que poderia ser um poder inteirado com os outros, se faz um poder
altamente homologador dos desejos do governo do Estado. Ao longo desses anos em que estou aqui, essa
Casa só tem aprovado projetos do governo do Estado. Temos projetos de deputados - eu mesmo tenho
alguns -, que são de grande valia para a melhoria da qualidade de vida do povo baiano e não saíram
sequer da Secretaria da Casa para serem avaliados pelas Comissões Temáticas. Se os governistas
optaram por ser homologadores, não será agora, em ano de eleição, que vão mudar.
AR - Qual sua avaliação sobre as eleições?
E.L. - Muito positiva. Quem faz governantes, deputados, prefeitos... é o povo. E o povo tem
condições de modificar tudo o que está aí. Fizemos recentemente avaliação de dados de eleições
recentes e vimos que apenas 30% do povo baiano tem votado no governo que aí está. Assim foi em 90,
quando o ex-senador Antonio Carlos ganhou o governo com 3 pontos percentuais. Naquela eleição
deixaram de ir às urnas, ou compareceram e votaram em branco ou nulo, 46% do eleitorado. Em 94,
Paulo Souto teve 31,95% dos votos válidos, contra 31% das oposições. Houve segundo turno e ele
ganhou com apenas 8% dos votos . Em 94, 56% dos eleitores se recusaram a participar da eleição. A
eleição de 98 foi completamente atípica, onde o candidato era o deputado Luiz Eduardo Magalhães, que
conseguiu fazer uma coligação muito ampla, com quase todos os partidos . Com a sua morte, a
coligação foi mantida elegendo César Borges, com 61% dos votos contra 33% dos votos da oposição. Só
que deixaram de votar ou votaram em branco ou nulo 56,85% do eleitorado baiano, o que dá 1,3 milhão
votos de frente em relação aos dois candidatos.
AR - Mas esses números mostram o desinteresse dos eleitores. Isso não é ruim?
E. L. - Claro, e esperamos que neste ano esses eleitores dêem uma destinação diferente aos seus
votos. Que votem nos candidatos da oposição, permitindo a nossa vitória. Em uma democracia é
importante a alternância do poder. Por isso é extremamente importante que o povo da Bahia, que é
quem pode mudar o quadro político que a Bahia se encontra há 10 anos, vote nos candidatos da
oposição. Temos três nomes com capacidade para administrar a Bahia.
AR - Três candidaturas não atrapalham?
E. L. - A unidade que estava sendo costurada pelas lideranças e pelos partido de oposição na Bahia
caiu em virtude da verticalização determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Mas não é tão ruim
como parece. Iremos com três candidatos e com a proposta, que está sendo costurada, de que tenhamos
somente dois candidatos ao Senado, competindo igual com os candidatos ao senado do lado do governo.
AR - O voto regional vem sendo debatido. Qual sua avaliação sobre isso?
E. L. - Acho que é muito interessante. Mas é importante que as pessoas que vivem na região e são
eleitores, e que são formadores de opinião, tenham consciência disso. Nós temos, por exemplo, na
macrorregião do cacau, quatro deputados: Renato Costa, Antonio Vieira, Junior Dapé e eu. Temos ainda
no Baixo Sul o deputado Osvaldo Souza. Isso é muito pouco, mesmo porque temos uma densidade
eleitoral perto de 1,2 milhão de votos e poderíamos eleger uma bancada muito maior, que poderia
lutar pela cacauicultura. Só tenho uma preocupação: outras regiões votam maciçamente nos seus
candidatos e eles, em determinado momento, resolvem seus problemas. Mas isso só vai acontecer quando
tivermos o voto distrital. Por enquanto todos os candidatos têm inserção em toda a região do Estado.
Esta é a regra do jogo e não podemos mudar.
AR - E o cacau? A cultura ainda tem chances de sobreviver?
E.L. - Não tenho nenhuma dúvida. O PMDB e o PSDB fizeram uma ação conjunta trazendo o presidente
da República à região do cacau, onde foi assinada autorização para liberação de recursos para
renovação da cacauicultura baiana. Temos notado, porém, que alguns políticos têm buscado travar
esses recursos só com uma intenção política. Porque esse recurso está carimbado pelo PMDB e PSDB. E
aqueles que ficaram ao longo do tempo dizendo que eram os grandes patrocinadores do desenvolvimento
baiano, e em especial da cacauicultura, que eram os deputados e o líder maior do PFL baiano, o
ex-senador Antônio Carlos Magalhães, têm tentado emperrar o programa.
AR - E o boicote denunciado pelo senhor e pelo deputado Renato Costa foi solucionado?
E. L. - Sim. Temos conseguido aos poucos resolver isso. Conseguimos, recentemente, contestar as
ações que estavam barrando as avaliações das propostas que estavam sendo estudadas na Ceplac, para
que elas fossem avaliadas com mais rapidez e encaminhadas ao Banco do Brasil. O próprio ministro da
Agricultura, Pratini de Moraes, já assimila que o cacau baiano será novamente exportado, em torno
de 300 mil toneladas em 2005 a 2006. Isso é quase o dobro do que era exportado antes da vassoura de
bruxa, das condições climáticas e do preço internacional - que foram as causas mais importantes
para o desgaste da cacauicultura. Os eleitores dessa região precisam ter a consciência de que, só a
partir de governantes comprometidos com essa causa poderão fazer com que a cacauicultura seja
impulsionada.