15.Março.2003
"A Policia Federal apreendeu 24 quilos de cocaína"
nos dois primeiros meses deste ano, e tenta diminuir a escalada da violência nos municípios do Sul,
Extremo-Sul e parte do Sudoeste da Bahia. A droga, que segundo o delegado da Polícia Federal em
Ilhéus, Samuel Rodrigues Martins de Oliveira, seria distribuída no Sul da Bahia e multiplicada por
cinco, é o resultado de um intenso combate ao tráfico na região.
O tráfico e o consumo de drogas são, assim como ocorre nas cidades de médio e grande porte do país,
os principais responsáveis pelo crescimento da violência na região, aponta o delegado. Apesar do
número limitado de agentes - são apenas 42 para atender a 67 municípios - a rede organizada pelo
delegado vem provar, que com eficiência, esforço e competência é possível "controlar" o grande mal
deste século: as drogas.
A Região - Como estão as operações da PF na região?
Samuel Martins - Eu vim do Rio de Janeiro há seis anos. Quando cheguei, constatei que o
consumo de droga aqui é maior, proporcionalmente, ao do Rio. O número de agentes para atender um
raio de mais de 1.500 quilômetros é muito pequeno. Até dois anos atrás éramos somente 2 delegados,
hoje temos 4, mas o número de agentes permanece o mesmo. Por isso é preciso ter muita habilidade
para trabalhar e administrar todas as adversidades.
AR - Como o senhor conseguiu apreender toda essa droga?
SM - Quando deparamos com esse número reduzido de agentes resolvemos, utilizando a mesma
estratégia dos traficantes, nos organizar e criar uma rede de informações. Por exemplo, o traficante
que compra a droga para distribuir aqui no Sul da Bahia tem contato freqüente com traficantes de
Roraima, Acre, Rio, São Paulo, Foz de Iguaçu.
AR - Por que este contato?
SM - A cocaína vem da Colômbia e entra no Brasil por estados vizinhos, enquanto a maconha vem
do Sul, do Paraguai. Então, quando essa droga é comprada em determinado local, os traficantes - veja
bem, eu estou falando dos grandes! - imediatamente se comunicam e criam uma rede de apoio para o
trânsito da "mercadoria". Ou seja, sabem que um veículo "x" está levando a droga de um ponto a
outro. Se eles sabem, nós também temos que saber.
AR - Como combater uma rede tão organizada?
SM - Criamos uma rede de informações com os policiais de todos os estados e nossos
informantes, que atuam com os traficantes. Eles passam a informação e nós a cruzamos com as outras,
independente de ser verdadeira ou falsa. Os nossos agentes trabalham 24 horas por dia. Se há
possibilidade de um carregamento passar por aqui, nós vamos saber. Não damos trégua.
AR - Os traficantes já devem estar a par deste tipo de atuação por aqui?
SM - Sim, tanto que diminuiu muito o tráfico. Antigamente as rodovias que cortam o Sul da
Bahia eram rota constante. Hoje ainda é, mas para passar por aqui eles pensam duas vezes. Fora isso,
fazemos blitz constantemente e em lugares variados.
AR - Qual foi o maior carregamento apreendido, de uma só vez, até hoje?
SM - Dez quilos de cocaína pura. No comércio ela pularia para 50 quilos. Isso foi no dia 24
de fevereiro, o que significa que a droga ia ser distribuída aqui na região para abastecer o
carnaval. Nós recebemos a informação que talvez um carro assim, assado, estaria levando um
carregamento pequeno. Interceptamos o veículo em Ipiaú. Lá não conseguimos achar nada. Os documentos
do veículo estava regulares, mas insistimos. Trouxemos o carro para Itabuna e mandamos vistoriar. A
droga estava bem acoplada num lugar especial, localizada somente quando se retirou todo o forro do
veículo.
AR - Fora os informantes, quem mais ajuda a PF na coleta de informações?
SM - É inegável que as polícias Civil, Militar e Rodoviária ajudam demais, além do Exército,
Marinha e Aeronáutica. Mas também recebemos denúncias anônimas através do telefone (73) 231-8333. As
pessoas podem e devem ligar, não é preciso se identificar.
AR - O senhor comentou que ficou impressionado com o número de consumidores de drogas...
SM - A droga aqui, em certos lugares, é livre. Fumar maconha é normal para determinadas
pessoas. Exemplo claro é Itacaré. Lá os próprios comerciantes dão cobertura e reclamam se a polícia
atua com mais rigor. Para eles, isso faz parte dos negócios.
AR - Qual a droga que mais se consome?
SM - Não há estatística, mas há um consumo muito grande de lança-perfume e maconha. A
cocaína é um pouco menor, acredito. Drogas mais pesadas como o crack, heroína, são menos consumidas
na região.
AR - A PF tem descoberto diversas plantações de maconha na região. A que se deve isso?
SM - Ao trabalho conjunto com as outras polícias e às investigações realizadas diariamente. A
tarefa de encontrar essas plantações é complexa, mas gera resultados.
AR - Lança-perfume, além de ser droga é contrabando, não é?
SM - Ela é tudo isso e pior, mata. No carnaval, aqui em Ilhéus, um garoto de 15 anos, filho
de um funcionário da Polícia Civil, morreu cheirando lança. Segundo os familiares e amigos da
vítima, ele não era viciado, nunca havia se drogado antes. Ele só estava brincando e teve um ataque
cardíaco. Provavelmente a droga, de péssima procedência, levou a vida do menino.
AR - Fora o combate às drogas, o que mais dá trabalho à PF?
SM - Crimes eleitorais. Exige muita perspicácia e se perde muito tempo. Começa no período das
eleições, vem um caso toda hora. Geralmente de pessoas muito humildes que mal sabem escrever o seu
próprio nome. Os adversários políticos orientam essas pessoas, mas quando começa o processo
propriamente dito, com apuração e investigação, se descobre - na grande maioria das vezes - de que
tudo é mentira. Isso dá muito trabalho, porque cada caso tem que ser visto, analisado e muito bem
investigado. Tratamos também de sonegação de INSS, que é da nossa competência, como também
fiscalizamos a entrada e permanência de estrangeiros.
AR - Tem muito caso de estrangeiro com o visto de permanência ilegal?
SM - O estrangeiro, principalmente o europeu, vem para cá, se apaixona e não que voltar mais
para o seu País. A costa toda é vistoriada por nossos agentes. Barra Grande, Porto Seguro, Olivença,
Itacaré. É um universo muito grande, mas conseguimos manter um controle razoável para esse tipo de
crime. Porque a permanência ilegal num país é crime, sim.
AR - É muito difícil conseguir o visto de permanência?
SM - É. Existe muita burocracia. As pessoas geralmente optam por casar com um brasileiro ou
brasileira para conseguir ficar por aqui.
AR - Se a Polícia Federal descobre que o casamento aconteceu só por interesse o que acontece?
SM - Em qualquer dúvida o casamento é automaticamente desfeito e o estrangeiro deportado.