8.Março.2003
"Os projetos do IESB salvam a Mata Atlântica"
na Costa do Cacau, onde estão situados 80% da floresta viva. O projeto, de iniciativa do Instituto
de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia (IESB), atua junto a mais de 200 propriedades rurais
para conservação e preservação da Mata Atlântica.
Esse trabalho está sendo realizado há 9 anos e é resultado de muitas pesquisas. Os gastos para a
sua implantação foram crescendo gradativamente. No ano passado o instituto conseguiu investimentos
na ordem de US$ 600 mil.
Segundo o secretário-executivo do IESB, o professor de mestrado de Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente da Uesc, Rui Barbosa da Rocha, esse trabalho de conscientização, através do desenvolvimento
de práticas agrícolas sustentáveis, vem protegendo as áreas ambientais, mantendo a sobrevivência das
espécies, e principalmente "introduzindo a conservação da fauna e flora da Mata Atlântica como parte
do cotidiano desta população".
A Região - Qual a metodologia de trabalho para a execução desse projeto?
Rui Rocha - Nós atacamos três vertentes: educação ambiental, econômica e políticas públicas. Na
educação ambiental, por exemplo em Una, contamos com apoio da Prefeitura e da Secretaria da
Educação. Orientamos os professores da localidade, trabalhamos e visitamos in loco, pois contamos
com 45 funcionários, desde pesquisadores extensionistas a técnicos de campo. Esses profissionais
saem pesquisando e detectando as principais necessidades e carências. Com esse contato frente a
frente fica fácil orientar e conscientizar a população para a conservação e desenvolvimento de
práticas agrícolas sustentáveis. Nesta região o cacau continua sendo a maior cultura e também uma
cultura de preservação.
AR - Esse exemplo de Una se repete em todas as localidades da Costa do Cacau?
RR - Sim, essa metodologia de educação ambiental é utilizada em Canavieiras, Una, Comandatuba,
Olivença, Ilhéus, Serra Grande e Itacaré. Também nos preocupamos muito com o eco-turismo. Um
conceito de turismo voltado para a Natureza, oferecendo palestras, oficinas de planejamento, cursos
para professores...
AR - O IESB também atua com as cooperativas locais?
RR - Realmente. Temos um trabalho de parceria muito interessante e gratificante, pois é uma
grande troca de informações. Damos apoio técnico para a Coperuna e a Cabruna. Só aí são certa de 100
proprietários rurais.
AR - E na Região Norte?
RR - Temos um projeto maravilhoso: o Floresta Viva. Nós pagamos, com o apoio da iniciativa
privada, 45 agricultores por serviços ambientais de conservação da floresta. Eles recebem R$ 100,00
por mês, além de assistência técnica constante. Com isso impedimos o desmatamento, mantemos as
trilhas limpas, evitamos queimadas e introduzimos novas culturas agro-florestais como o açaí,
piaçava, cupuaçu, pimenta-do-reino, além do cacau. Essa diversidade abre espaço para o agricultor
ter outras opções de renda e também não ficar vulnerável a uma cultura.
AR - E o Eco-Parque do Una, também está sob a tutela do Instituto?
RR - O Parque de Una tem uma história interessante. Quando o IESB começou a atuar aqui na
região, descobrimos que não existia nenhum documento onde constasse quantos hectares o parque
possuía. Não se sabia onde começava e onde terminava. Tivemos que realizar uma estudo topográfico.
Hoje sabemos que ele tem 14 mil hectares, é uma das 25 maiores áreas biológicas do mundo. A sua
fauna e flora são riquíssimas. Temos espécies únicas, como o mico-leão-da-cara-dourada.
AR - Eu já estive umas quatro vezes no Eco-Parque de Una e o mico-leão não apareceu. Ele é assim tão
tímido?
RR - É! É difícil! Nós já recebemos mais de 14 mil pessoas visitando o parque e poucos tiveram o
privilégio de vê-lo. Mas o parque é muito mais importante que isso. A flora, além de belíssima é
muito rica e só existe aqui. Construímos uma passarela no parque justamente para apreciar a
floresta. Realmente é um dos maiores hotspots do mundo.
AR - Quais os principais apoios financeiros que o IESB tem para manter os projetos?
RR - Contamos com o Conservation International, que fez o mapeamento e é o financiador das 25
áreas de maior importância biológica do mundo, entre elas a Mata Atlântica. Também contamos com a
USAID - Agência Americana para o Desenvolvimento, a Fundação Ford, o Governo da Bahia através da
Secretaria de Cultura e Turísmo, o Ministério do Meio Ambiente e o apoio de empresas privadas locais
e de fora.
AR - Falamos de cultura ambiental e da parte econômica, mas como atua o IESB nas políticas públicas?
RR - Temos sempre recebido muito apoio dos governos Federal e Estadual. Um exemplo é o
desmatamento, onde áreas enormes eram devastadas. Graças a Deus houve uma queda acentuada na
retirada de madeira aqui da região. Ainda sofremos com as retiradas ilegais, mas estamos sempre
cobrando, e como estudamos e estamos sempre em contato com a região, ficamos sabendo rapidamente de
retiradas clandestinas e as denunciamos. Outro ponto importante, e que tem mudado muito ultimamente,
são os assentamentos. Antes eles eram realizados em áreas de floresta, hoje o governo está adotando
uma política de seleção de novas áreas abertas e cultivadas. Damos apoio técnico e cultural às
famílias.
AR - E a Ceplac, como atua com o IESB?
RR - Recebemos apoio e realizamos a maioria dos projetos com mais de 30 instituições só aqui da
região. A Uesc e a Ceplac são colaboradores importantíssimos. Só que a Ceplac é um organismo que já
teve o seu fator histórico e regional. Hoje ela necessita se incorporar a esse novo quadro
ambiental. Precisa criar instrumentos para atender ao desenvolvimento mais abrangente que a região
está incorporando. Se envolver mais com as culturas alternativas, como plantas tropicais, cultivo e
replantio de madeiras. O IESB tem realizado vários trabalhos com a Ceplac, todos positivos. Torcemos
para que ela consiga repensar os seus objetivos e se transformar num organismo de desenvolvimento
voltado para a conservação da biodiversidade.
AR - Como os agricultores podem participar dos projetos, incluindo o Floresta Viva?
RR - O IESB tem três escritórios. Um em Una, outro em Itacaré e um em Ilhéus. Os interessados têm
que se cadastrar em um desses escritórios e podem ter mais informações pelo telefone (73) 634-2179.