afirma o prefeito de Ilhéus, Jabes Ribeiro, que está no terceiro mandato, e nesses 18 meses se diz
otimista com os resultados alcançados nos setores da Educação e Saúde em seu município. Quando
Ilhéus comemora 468 anos de história, a administração municipal se mostra empenhada em mudar
paradigmas, daí a firme opção em alavancar o turismo ecológico e o de negócios.
"A meu ver, falta muito pouco para chegar a resultados efetivamente positivos", diz Jabes nesta
entrevista aos repórteres Ramiro Aquino e Luiz Conceição, ao comentar a última pesquisa da
Bahiatursa segundo a qual 95% das pessoas que visitaram Ilhéus no ano passado querem retornar à
cidade. O prefeito também comemora os resultados do "Ilhéus Forró", que levaram a Olivença mais de
50 mil pessoas em quatro dias de festa no período junino. Leia os principais trechos da entrevista.
A Região - A história de Ilhéus é muito rica, mas o sr. há 11 anos e meio como prefeito, com
mandato de seis, quatro e o terceiro com um ano e meio, tem falado das grandes dificuldades da
região, do país, a questão dos precatórios etc. Como tem sido administrar Ilhéus e ainda realizar
obras e manter a cidade no patamar em que está?
Jabes Ribeiro - Há diferenças entre a primeira administração, que ocorreu de 1983 a 1988,
quando
vivíamos uma situação econômica diferente. O cacau ainda era uma grande atividade e gerava recursos
fundamentais para o desenvolvimento de Ilhéus e da região. No segundo mandato, iniciado em 1997, já
enfrentamos outra realidade. Com o enfraquecimento da economia regional no que diz respeito ao
cacaufoi fundamental combinar experiência, criatividade e prioridades. Chegamos à conclusão nos
Fóruns Compromisso com Ilhéus, um debate permanente com a sociedade, que era preciso definir
vetores, parâmetros, o onde vamos? Claro que dentro disso trabalhamos um projeto básico, com
planejamento estratégico, no sentido de potencializar nossa vocação turística, trabalhar a idéia de
uma cidade que preservasse sua memória, sua história e cultura mas ao mesmo tempo olhasse para o
futuro, daí a idéia de transformar Ilhéus em uma tecnopólis, uma cidade digital. Creio que nesses
segundo e terceiro mandatos foi a experiência, a parceria, a solidariedade que fizeram com que
avançássemos em vários setores. A cidade vive hoje um momento final dessa transição das dificuldades
da nossa economia mas sabe para onde vai, apesar das dificuldades.
AR - No turismo a gente sabe a vocação que Ilhéus tem, pela belíssima cidade que é, com suas
praias... Mas o turismo ainda não ganhou força como destino final. O que falta para que o turismo
deslanche de vez?
J. R. - É preciso lembrar que a formação de um povo é um agregado de fatos, eventos e
conhecimentos, que fazem história. Antes do meu primeiro mandato, basicamente não era prioridade no
município a exploração de nossa potencialidade turística. O cacau e o ICMS por ele gerado resolviam
tudo. Num momento em que foi fundamental que olhássemos para as possibilidades econômicas, então
começamos a conviver com uma mudança cultural de paradigmas.
AR - E como conseqüência...
J. R. - Pois é. Então, qual o resultado disso? Um processo em que as pessoas estão mudando de
mentalidade, o governo e a iniciativa privada. De modo geral há permanente mudança em função das
experiências. Mas já estamos em um patamar que falta, a meu ver, muito pouco para chegar a
resultados efetivamente positivos. A última pesquisa da Bahiatursa indica que 95% das pessoas que
visitaram Ilhéus querem retornar à cidade, o que é um bom número e indica ser uma cidade aprazível,
agradável. O que é preciso fazer é definir qual estratégia da cidade no tocante ao turismo. Nos
fóruns, chegamos à conclusão de que as nossas praias são lindas, mas é preciso também fazer turismo
de eventos e negócios. Estão aí o Centro de Convenções, e agora o Pavilhão de Feiras, que será
erguido com recursos do Prodetur.
AR - Faltam equipamentos para isso...
J. R. - A partir de tais equipamentos vai se poder fixar o turista em Ilhéus com a exploração
dos turismos cultural e ecológico. O governo já reergueu o Teatro Municipal, a Casa de Jorge Amado,
o Vesúvio recuperado, com novo visual, o Quarteirão Jorge Amado reurbanizado, o Memorial da Cultura
Negra que vamos inaugurar no Dia da Cidade, o Bataclan com inauguração prevista para agosto.
AR - Também existem outros locais...
J. R. - É... a lagoa Encantada, Olivença, Rio de Engenho, que são possibilidades reais. Creio
que ao lado disso também devemos trabalhar a preservação do patrimônio natural, daí o exemplo da
Universidade Livre do Mar e da Mata (Maramata), fundamental para o incremento do turismo sustentado.
Quem tem manguezais, praias, Mata Atlântica, rios e um acervo natural belo, como Ilhéus tem, precisa
defender o seu rico patrimônio natural adotando os mecanismos necessários para a geração de emprego
e renda. Veja o São em Olivença, teve um resultado sensacional em sua segunda edição, sem nenhuma
dúvida.
AR - O trade tem se envolvido?
J. R. - Sem dúvida. Mas o que é preciso é uma combinação. O dono do hotel, da pousada, quem
trabalha nessa área precisa participar do processo de potencialização do evento São João. O que não
dá para pensar é que o prefeito seja o agente de viagem, o operador do turismo e ainda tenha de
criar as condições básicas para que a cidade seja agradável e aprazível para o turismo.
AR - O sr. foi empurrado para uma aliança com o governo estadual por conta das dificuldades
que já falamos no início desta entrevista?
J. R. - Não, existiram outros componentes políticos. Eu era do PSDB, que tinha aliança
nacional com o PFL. Fui à época ao presidente Fernando Henrique Cardoso e perguntei se tinha
interesse de fortalecer o PSDB baiano e se seria positivo para o PSDB fazer a aliança com o PFL na
Bahia. Estavam na audiência os deputados federais Mário Negromonte e João Leão e o então líder do
Governo, Arthur Virgílio. 'Vocês me ajudam construindo a aliança na Bahia', respondeu o presidente.
Então teve todo um processo político, e claro, ao lado disso precisávamos de parcerias para o
desenvolvimento da cidade e da região.
AR - Havia outro ponto?
J. R. - Outro ponto fundamental foi o bom relacionamento com o deputado Luís Eduardo
Magalhães. Um político jovem, de minha geração, com uma visão de futuro.
AR - Que avaliação o sr. faz dessa questão do voto regional nas eleições de 6 de outubro?
J. R. - É ficção. O que precisa é mudar o sistema eleitoral. Só vamos ter uma representação
política à altura de nossas necessidades quando tivermos o voto distrital. Não podemos mais
continuar indefinidamente discutindo o voto regional. Em 1998 fiz um esforço terrível para apoiar
candidatos a deputados federal e estadual de Ilhéus e perdemos. Você olha o mapa eleitoral de Ilhéus
e Itabuna e vê a quantidade de votos pulverizados. É uma questão cultural. A solução é o voto
distrital que viabiliza a eleição de representantes completamente vinculados à região, diminui ação
do poder econômico e fortalece a representatividade política.
AR - Parece ser o sr. o único político a apostar na mudança da legislação eleitoral com a
introdução do voto distritral. É possivel se caminhar para isto?
J. R. - Se nós não fizermos a alteração do sistema político, a situação é de degradação da
atividade partidária, cada vez mais. O cidadão não vota no programa do partido, mas no político,
seja ele qual for, e muitas vezes com influência do poder econômico. Então creio que é uma questão
de vontade política e não digo nem mudar o sistema de governo, que pode não ser assim tão simples.
Mas com o voto distrital vai melhorar a representatividade política. Tem que ser uma decisão de
todos. Esse negócio de voto regional há muito que vem sendo falado pela imprensa e tenho lutado por
isso, votando, e dessa vez por exemplo, cheguei à conclusão que não dá. Fiz em Ilhéus uma aliança
apoiando o deputado Fábio Souto para federal, com o presidente da Câmara de Vereadores, Joabs
Ribeiro, para estadual. A idéia do voto regional parece legítima mas para mim só com o voto
distrital.
AR - Prefeito, a região carece de maior representação no governo do Estado. É possível com a
mudança que o sr. Defende, se chegar a ter um secretário no governo?
J. R. - Acho que fui o último secretário de Estado dessa região, em 1988; já teve o Ubaldo
Dantas,
no passado, e outros nomes. Alguns dizem que quando a região era economicamente rica, era até pior.
Porque se achava que a riqueza do cacau atendia a tudo e não precisava de representação política.
Com a adoção do voto distrital, melhoraremos a representação política e teremos mais força para
ocupar espaço no primeiro escalão do governo do Estado.
AR - O sr. elegeu como premissas do segundo mandato o Planejamento Estratégico e o Fórum
Compromisso com Ilhéus. O Programa Prefeitura Cidadã é o ápice do seu projeto?
J. R. - Temos defendido a idéia básica de que para administrar uma prefeitura é preciso que
se
tenha instrumentos básicos do administrador de uma empresa privada. Planejamento Estratégico, não
gastar mais do que arrecada, ajuste fiscal, lei de responsabilidade etc. Então montamos essa
estratégia que tem funcionado. Educação e Saúde em Ilhéus merecem destaque. Hoje em Educação,
participamos do Programa Escola Campeã, junto com outras 51 cidades, e em quatro anos vamos ter
Ilhéus como referência de educação pública para o Brasil.
AR - O seu governo conseguiu baixar a evasão e a repetência escolar...
J. R. - Pois é, e fizemos muito mais. Na semana passada enviamos à Câmara de Vereadores um
projeto de lei que dá absoluta autonomia pedagógica, administrativa e financeira para as escolas. Só
é possível uma educação de qualidade quando a escola tiver responsabilidade. A escola é o diretor, o
professor, os pais, os alunos e a comunidade, que é o centro das decisões. Em matéria de educação
sentimos os avanços que estão ocorrendo. Na saúde, os níveis de resposta da população são
satisfatórios. Conseguimos baixar a mortalidade infantil, que em 1997 estava na faixa de 39,8 óbitos
por mil nascidos vivos e baixamos para 18,7. Isso é resultado de programas como médico em sua casa,
saúde da família, incentivo ao combate à desnutrição, aleitamento materno etc. Nos distritos, há
médicos atendendo durante a semana, com ações preventivas. Nossa tese é que os hospitais são
importantíssimos e devem ser apoiados, mas precisamos de hospitais de ponta. Queremos evitar que o
doente vá para o hospital e isso tem ocorrido em Ilhéus.
AR - O seu governo também investiu muito em serviços de saúde, como a policlínica, as
unidades básicas de saúde...
J. R. - É verdade, e também aumentamos o número de agentes comunTemos defendido a idéia
básica de que para administrar uma prefeitura é preciso que se
tenha instrumentos básicos do administrador de uma empresa privada. Planejamento Estratégico, não
gastar mais do que arrecada, ajuste fiscal, lei de responsabilidade etc. Então montamos essa
estratégia que tem funcionado. Educação e Saúde em Ilhéus merecem destaque. Hoje em Educação,
participamos do Programa Escola Campeã, junto com outras 51 cidades, e em quatro anos vamos ter
Ilhéus como referência de educação pública para o Brasil.itários, a partir da
municipalização da sáude. Agora estamos desenvolvendo um programa de odontologia pública. Quando
assumimos, tínhamos oito odontológos e hoje são mais de 50. Já autorizamos a construção da primeira
Clínica Odontológica Pública, que vai funcionar em três turnos cuidando da saúde bucal da população.
E muito mais do que isso, faremos ações preventivas nas escolas. Em Saúde e Educação estamos
otimistas com relação aos resultados.
AR - O governo também tem compromissos com a cultura?
J. R. - Faz parte do meu compromisso de vida. Sou amante da cultura, da arte, literatura...
AR - Como está o projeto do museu?
J. R. - A idéia é transformar o Palácio Paranaguá em Museu da Cidade, ali no centro histórico
de Ilhéus. O Museu do Cacau está disperso e vou recuperar isto. Por que parte de seu acervo está em
Salvador? É um caminho que para alguns não dá voto, mas dá consistência e confiança, compromisso com
a juventude, com o presente e com o futuro, compromissos que são fundamentais na vida.
AR - Mas o sr. também tem compromissos com o pessoal dos morros e da área rural?
J. R. - É, desenvolvemos o programa Pead de combate ao desemprego, não descuidamos da
assistência às áreas que mais sofrem e o programa Viva o Morro sempre está no orçamento. Faço um
parêntese para lembrar que há 20 anos, quando chovia mais forte em Ilhéus era uma tragédia. Hoje, a
situação mudou completamente. Sempre subi os morros e vou continuar. Lá há dignidade dentro da
realidade em que vivemos. Mas tem a passarela, contenção, acesso para carros, escadarias drenantes,
a pracinha, as pessoas observam os benefícios. Estamos vivemos um momento difícil no país e esse
tipo de programa dá dignidade.
AR - O sr. também passou a ouvir mais a comunidade?
J. R. - Dentro do Fórum Compromisso com Ilhéus chegamos à conclusão que não dá para fazer
administração, por mais que queiramos, distantes do povo. Adotamos a democracia direta que significa
governo e povo discutindo, e aí criamos o programa Prefeitura-Cidadã, que tem tido o reconhecimento
e aprovação da comunidade.
AR - Dois bairros já o aprovaram: a Urbis e o Nelson Costa...
J. R. - Pois é. A população mobilizada participa, acredita e confia. Há melhorias no nível de
segurança, já que há o envolvimento do governo do Estado com as polícias militar, civil, bombeiros,
Embasa etc. As decisões são tomadas pela população, depois de feito um diagnóstico. Sinceramente
estou vibrando porque sinto que há participação popular e essa sintonia é fundamental.
AR - Como o sr. analisa a questão da segurança em Ilhéus?
J. R. - Segurança é um problema sério que não está ligada apenas à repressão, mas a uma
realidade social que precisa mudar nesse País. Não dá para ter tanta gente desempregada e uma
economia que não privilegia as pequena e microempresas. Não dá para ter uma economia em que se acaba
dedicando todo esforço à política monetária quando é preciso desenvolver o país. Quantas pessoas
estão surgindo para entrar no mercado de trabalho? É muito difícil e os prefeitos sofrem muito. Falo
em nome dos colegas, é uma loucura.
AR - Uma novidade durante sua gestão foi a Lei de Responsabilidade Fiscal. Alguns políticos
gostaram outros não, um partido tentou derrubar judicialmente. Em que a lei atrapalhou ou ajudou?
J. R. - Não atrapalhou em nada, já que é uma lei muito importante. É preciso lembrar que o
ideal é que houvesse por parte dos gestores esse compromisso, espontâneo, de ajuste fiscal. A lei é
recente, mas desde 1997 que executamos o ajuste fiscal em Ilhéus, mesmo enfrentando problemas com
precatórios. Fizemos um ajuste duro e muitas vezes temos que dizer não para garantir o equilíbrio
das contas públicas. Tem um custo político, mas o resultado está na organização da cidade e na
recuperação da credibilidade.
AR - Com o ajuste fiscal o sr. conseguiu elevar a receita própria do município?
J. R. - Temos uma dificuldade. As pessoas dessa região de modo geral não tinham o hábito de
pagar os tributos municipais porque o ICMS do cacau resolvia tudo e havia um certo cumplicidade: os
governos não cobravam e as pessoas não pagavam e isso mudou. Com a LRF, passa a ser uma necessidade
e uma obrigação que se melhorem as receitas próprias e esse é um processo que tem que se
incrementar.