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26.Abril.2003

"Safra temporã deve superar as expectativas do produtor"

aposta o engenheiro-agrônomo, chefe do escritório da Ceplac de Itajuípe, Mariosvaldo Moraes Macedo. De acordo com o que observou nas fazendas da região, a safra temporã poderá ser de 30 a 50% maior que do ano passado. O equilíbrio do tempo tem ajudado o cacau clonado na bilração que já começou a sair, ou seja, a planta começou a frutificar.
       Para ele, o clima esta apropriado e são evidentes os sinais de uma boa colheita de cacau. Mariosvaldo está realmente otimista: "os cacauicultores que conseguiram fazer um bom manejo serão os mais beneficiados e já estamos recomendando a aplicação de fungicidas".
       Como coordenador do Grupo de Intercâmbio de Plantas entre os Produtores, ele tem uma avaliação mais precisa, uma vez que com bastante freqüência tem feito análises in loco. "Hoje a região tem cerca de 25 mil áreas de plantio de cacau e temos visitado o maior número possível de áreas". Com uma visão mais abrangente da região, o agrônomo acredita que os produtores terão uma safra temporã surpreendente.

A Região - A quantidade de chuvas tem colaborado para um boa safra temporã?
Mariosvaldo Macedo - Para o cacau clonado e também para os cacaueiros velhos esse período está ótimo. Tem chovido muito mas também tem feito muito sol. O cacaueiro velho, que já tinha a área folheada formada com uma boa interação com o sistema radicular, foi beneficiado. Não perdeu tantas flores e houve uma boa frutificação. De fevereiro a março os cacaueiros aqui da região já estavam com uma bilração intensa. Bonito de se ver.

AR - E para os fungos da vassoura-de-bruxa e da podridão parda, essas condições climáticas estão boas?
PM - Não. Tem regiões mais úmidas, onde choveu mais, o sol não foi tão intenso e a incidência da doença foi maior. Estamos orientando os cacauicultores a fazer aplicações de fungicidas, como o Cobre Sandoz ou qualquer outro similar, para a proteção dos frutos.

AR - O agricultor tem um gasto elevado com esses produtos químicos. Como está a linha de financiamento para eles?
PM - Lastimável. Os financiamentos para a área cacaueira estão reduzidos. Uma parcela de no máximo 10% dos agricultores consegue crédito. E mesmo para esta parcela reduzida é com muita dificuldade que se obtém crédito. Então o cacaueicultor, que vem tentando recuperar a economia na região, tem se esforçado muito. Mesmo sem recursos, dá gosto visitar as áreas e ver o trabalho dessa gente na recuperação do plantio.

AR - E o cacau clonado, nesta safra o agricultor vai sentir que valeu a pena a clonagem?
PM - Vai. No período de agosto a dezembro, como o calor foi muito forte, houve uma floração. Em janeiro, boa parte dela caiu. Entre os meses de fevereiro a março a bilração estava novamente intensa quando eu visitei as áreas. Algumas praticamente dobraram a floração. Por isso estamos tão otimistas com relação a esta safra. Nesse exato momento estamos reavaliando essa nova tecnologia. Técnicos do Ceplac estão voltados para a classificação e acompanhamento do desenvolvimento do cacau clonado.

AR - Qual o volume de chuva perfeito para o plantio do cacau?
PM - O ideal é chover de 1.500 a 2.500 mililitros, distribuídos anualmente. Mas o manejo é muito importante também. O material genético se desenvolve mais se beneficiado, porque o fruto foi escolhido. O agricultor que não tem recursos e ainda está lutando contra a praga da podridão parda e da vassoura-de-bruxa terá bastante dificuldade para conseguir lucratividade nesta próxima safra temporã. Infelizmente, será o menos beneficiado.

AR - Como está o seqüenciamento do DNA do fungo da vassoura-de-bruxa?
PM - O genoma do fungo Crinipellis perniciosa, causador da vassoura-de-bruxa nos cacaueiros brasileiros, já está com 5 milhões dos cerca de 23 milhões de pares de bases seqüenciados. Já foram identificados 1.800 genes de um número total estimado entre 5 e 6 mil. Nenhum fungo teve ainda o genoma inteiramente seqüenciado até aqui. É um trabalho difícil mas estamos caminhando na direção certa.

AR - Quantos cacaueiros estão afetados por esse fungo?
PM - A vassoura-de-bruxa afeta hoje 100% das fazendas brasileiras em que se planta cacau. Entre 1991 e 2001 a produção nacional caiu de 375 mil para 120 mil toneladas anuais. O Brasil, que respondia por 14,8% da safra mundial da fruta e era o segundo maior produtor mundial, hoje ocupa a sexta posição, com 4,5% do mercado, mas está recuperando lentamente seu espaço. Atualmente o maior produtor é a Costa do Marfim. E por apresentar clima propício ao cultivo, o Estado da Bahia concentra 85% dos cacaueiros brasileiros.

AR - Quantas instituições estão envolvidas com o seqüenciamento desse fungo?
PM - O seqüenciamento do fungo envolve quatro instituições: a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Centro de Recursos Genéticos e Tecnologia da Embrapa (Cenargen) e a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), além do Cepec. A coordenação é de Gonçalo Guimarães, da Unicamp. Já foram investidos no projeto quase dois milhões de reais. Mais da metade do financiamento veio do governo da Bahia e o restante dos recursos foi fornecido pelo CNPq.

AR - O senhor é o coordenador do Grupo de Intercâmbio de Plantas entre Produtores, o que é?
PM - O objetivo é que toda planta geneticamente boa e produtiva deve ser plantada em todas as áreas de cacau. Assim, todas as plantas altamente produtivas renderão bons frutos e por conseqüência uma boa safra.

AR - Existe alguma muda que já deu resultado?
PM - O SJ02, uma super-planta. Só para se ter uma idéia, de um único pé foram colhidos 22 quilos de cacau.

AR - Quantos agricultores já foram beneficiados com esse intercâmbio?
PM - Nós já redistribuímos, não só o SJ02 como outras espécies, para mais de 2 mil fazendas em todos os municípios da Região Cacaueira. O objetivo é que todos os agricultores da região tenham acesso a mudas de plantas e permutem estas mudas com outros agricultores, se ajudando mutualmente.

AR - Quando o Brasil poderá voltar a ser segundo maior produtor?
PM - Quando alcançarmos maior sincronia entre os agricultores. Cada área de cacau tem que possuir o mesmo fruto, com qualidade e quantidade para pensarmos em uma liderança.

 

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