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18.Janeiro.2003

''Nosso desafio é baixar para 1% o índice''

afirma a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Itabuna - órgão subordinado à Secretaria Municipal de Saúde, Moema Farias de Oliveira, se referindo à incidência de dengue, não descartando a ocorrência de uma epidemia no município nem a entrada do tipo três do vírus da doença. Ela afirma que nenhum município que tenha o índice de infestação de larvas do mosquito Aedes aegypti acima de 1% (caso de Itabuna que registra 3.31%) pode se considerar fora do surto da doença.
       Moema, que está há dois anos no cargo, avalia que as ações desenvolvidas pelo município nesse período têm surtido efeito, pois o índice de infestação caiu de 18% em 2001 para 3.31% em dezembro do ano passado, quando foi concluído o último ciclo de trabalho de 2002.

       A coordenadora, que juntamente com sua equipe ajudou a instituir o Dia de Saneamento Domiciliar com objetivo de estimular os moradores a manter limpos seus quintais e terraços para eliminar potenciais criadouros do Aedes aegypti, diz que o grande desafio do município é baixar o índice de infestação para menos de 1%, percentual considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde. Para atingir a meta, ela conta com um total de 800 pessoas em praticamente todos os setores da administração municipal.

A Região - Como estão os trabalhos de combate à dengue em Itabuna?
Moema Farias de Oliveira - Iniciamos o ano de 2003 com a capacitação dos profissionais que trabalham diretamente nas ações de campo. Nós estamos contando com um total de 800 pessoas entre agentes comunitários de saúde, agentes da dengue, servidores do Departamento de Parques e Jardins, garis e o pessoal responsável pela limpeza do cemitério de Itabuna. Este contigente está realizando um trabalho intensivo junto à comunidade e esperamos que o índice de infestação predial de larvas do Aedes aegypti mosquito transmissor da dengue continue caindo em Itabuna.

AR - E as outras ações desenvolvidas pelo município?
MFO - Elaboramos o Plano Municipal de Combate à Dengue em que destacamos 10 componentes, entre os quais o acompanhamento dos trabalhos desenvolvidos pelas nossas equipes, a divulgação da campanha pela mídia, distribuição de panfletos e a implantação do Dia de Saneamento Domiciliar. Este último talvez seja o mais importante instrumento de combate à dengue, porque envolve diretamento as pessoas e as ações são realizadas todos os sábados como mini-mutirões.

AR - Como é feito o trabalho de campo?
MFO - Os agentes de combate à dengue em visita aos domicílios estão identificando e investido contra os focos do Aedes aegypi, quando estes são encontrados. Já os agentes comunitários começam a trabalhar dentro de uma nova metodologia, com a distribuição de um guia (panfleto com informações sobre os objetos que devem ser eliminados para evitar o risco da proliferação do mosquito transmissor da dengue) na comunidade.

AR - Como isso irá funcionar?
MFO - Ficaremos com um guia e entregaremos um outro ao morador para que em toda a visita realizada pela nossa equipe o agente comunitário, acompanhado pelo morador da casa, verifique todos os espaços da residência, ou seja, as áreas internas e externas para identificar possíveis criadouros do Aedes aegypi. Nesse material também orientamos as famílias com dicas para que seja evitada a manutenção de criadouros do mosquito.

AR - Quais as principais dificuldades que os agentes encontram para realizar o trabalho?
MFO - Principalmente o alto índice de pendência. Isso ocorre por causa da enorme quantidade de residências fechadas, pois muitas estão sem moradores e em outras as pessoas saem para trabalhar e não deixam ninguém para atender o agente. Felizmente em Itabuna não existe um percentual de recusa elevado, o que tem facilitado o trabalho de prevenção e combate. A nossa maior dificuldade é com relação às residências que não são habitadas, porque elas estão sempre fechadas.

AR - O número de casos de dengue cresceu em 2002 em comparação ao ano anterior. Por que isso aconteceu?
MFO - Parece um contra-senso quando comparamos o ano de 2001 com o de 2002. Enquanto no ano passado se registrou uma redução considerável do índice de infestação de larvas do mosquito, com queda de 6.7 para 3.31% (números sempre fechados em dezembro com a conclusão do último ciclo), o total de casos de dengue foi quatro vezes maior. A questão do aumento de registro de casos é explicada da seguinte forma: até 2001 as pessoas não davam muita importância para a dengue, mas com a notícia de epidemia em outros estados, elas começaram a se preocupar mais, deixando de se automedicar e buscando o atendimento médico.

AR - As pessoas se preocuparam mais em notificar às autoridades...
MFO - É verdade. E isso só aconteceu porque as pessoas ficaram apavoradas com as epidemias ocorridas em estados como o Rio de Janeiro e São Paulo. A Baixada Santista, em São Paulo, para citar um bom exemplo, registrou o maior número de casos no Estado. Elas ficaram com medo principalmente do surgimento da dengue hemorrágica e passaram a procurar o posto de saúde, o que elevou o número de casos registrados.

AR - Essa queda para menos de 3.5% significa que estamos quase livres da dengue?
MFO - Ainda consideramos o índice de 3.31% alto e estamos alertas, pois corremos risco da introdução do vírus três da dengue. Esse tipo já foi detectado em municípios baianos como Alagoinhas, Feira de Santana, Salvador e nos da Região Metropolitana.

AR - Mas há alguma maneira de se evitar que o vírus três chegue a Itabuna?
MFO - A população deve continuar mobilizada contra a dengue no município. Mas sabemos que não temos como evitar uma possível importação do vírus três. Por isso é importante se combater os já existentes para que não haja um aumento no número de casos por aqui e até uma epidemia da doença.

AR - Então estamos sob ameaça de uma epidemia?
MFO - Qualquer município que tenha o índice de infestação superior a 1% corre o risco de registrar uma epidemia da dengue. Em comunidades como a nossa, para que não haja a introdução de outros vírus da dengue as pessoas e as autoridades precisam permanecer mobilizadas.

AR - O vírus três é fatal?
MFO - Em princípio, não. Mas quando o indivíduo é sensibilizado anteriormente por outros tipos de vírus da dengue, ele corre o risco de ter complicações maiores, ficando mais debilitado, num estado mais grave.

AR - Quais as localidades em que aparecem o maior e o menor índice de infestação da larva do Aedes aegypti?
MFO - São os bairros Sarinha Alcântara, Pedro Gerônimo, Fonsêca e Novo Fonsêca. Os que vêm apresentando índices satisfatórios, com menos de 1% de infestação, são Roça do Povo, Muntuns, Jardim Vitória, São Judas e Centro de Itabuna.

AR - Por que uns bairros apresentam índice de infestação tão alto e outros estão no patamar recomendável?
MFO - Isso tem muito a ver com a questão dos imóveis fechados, a participação da comunidade. Nos bairros em que existe um engajamento maior da comunidade, os que os moradores armazenam água adequadamente, não deixam pneus, latas, garrafas etc. em terreno baldio, a tendência é que o índice de infestação sempre caia.

AR - Quantos casos de dengue foram registrados em 2002 e nesses primeiros dias de 2003?
MFO - Em 2002 foram confirmados 1.699 casos de dengue. Neste ano já são 32 os casos notificados.

AR - Pelos números há como prever uma redução no número de casos este ano, em relação a 2002?
MFO - O efeito vai depender do trabalho que estamos realizando e da colaboração da comunidade. Se for mantido o atual índice de infestação, acreditamos que o número de casos não seja superior ao do ano passado. O combate não depende só das nossas ações, mas também de outros fatores como engajamento de toda a população.

 

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