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22.Fevereiro.2003

"A Polícia Militar tem déficit de 50% no quartel de Itabuna"

que no próximo ano ganhará reforço de até 150 novos policiais. De acordo com o major Antônio Sebastião Santos Rocha, sub-comandante do 15º Batalhão, que é sediado em Itabuna, essa insuficiência de policiais não chega a comprometer as ações.
       Há 21 anos na PM, sendo um ano e quatro meses em Itabuna, ele afirma que as novas políticas de segurança implementadas em parceria com a comunidade vêm dando resultados, mas reconhece que o trabalho ainda pode melhorar.

       A entrevista com o major Sebastião foi feita na semana em que a Polícia Militar da Bahia completava 178 anos. Com um efetivo de 30 mil policiais no estado, dos quais 873 no 15° BPM, segundo o major, a PM vem passando por um contínuo processo de modernização em sua estrutura operacional, adotando uma filosofia de Polícia Cidadã.

       Criada em 1825 por decreto imperial, a corporação denominada "Corpo de Polícia" contava naquela época com um efetivo de apenas 238 homens. Ao longo dos anos a Polícia Militar teve participação decisiva em combates históricos, como a Sabinada, Guerra de Canudos, Guerra do Paraguai e a campanha contra o cangaço. Na década de 70, a instituição passou a dar maior ênfase ao policiamento ostensivo.

A Região - Que avaliação o senhor faz do trabalho da PM em Itabuna?
Major Sebastião - Estamos trabalhando em parceria com a sociedade civil organizada e isso vem contribuído para que a cada ano baixemos o índice de crimes na cidade.

AR - Qual a participação da comunidade regional no trabalho da PM?
MS - Com o modelo de Polícia Cidadã, implantada no início da década passada, a população passou a ter uma participação mais ativa nas políticas de segurança do estado, inclusive fazendo parte dos planejamentos operacionais realizados pela PM.

AR - Como trabalha essa Polícia Cidadã?
MS - É um trabalho que consiste em debates entre cidadãos, que de alguma forma são nossos clientes, e a PM. A Polícia Cidadã faz um interface entre todos os órgão de defesa social e o cidadão. Esse cidadão terá essa comunicabilidade conosco via conselhos comunitários de segurança.

AR - Que conselhos são esses?
MS - Os conselhos são entidades públicas sem fins lucrativos, formados pelo cidadão comum. Eles têm dado uma enorme contribuição para segurança no estado. Em Itabuna são três conselhos representado os mais diversos setores da sociedade.

AR - Qual a área de atuação da polícia comunitária em Itabuna? Quantos policiais trabalham diariamente nesse programa?
MS - A filosofia de policiamento comunitário atinge a todas as nossas modalidades. Pode ser verificado no policiamento à cavalo e no rádio patrulha, por exemplo. Trabalhamos diariamente com o efetivo, que varia entre 183 e 200 homens no policiamento ostensivo.

AR - O senhor diria que a implantação da polícia comunitária melhorou a relação polícia/comunidade?
MS - Sem dúvidas. Como acontece em toda a empresa, o pessoal - funcionários - tem que passar por um processo de educação continuada. Realizamos isso dentro do nosso treinamento para que os policiais possam cada vez mais dispor de conhecimentos da filosofia de policiamento comunitário. Esse trabalho de reciclagem, de troca de conhecimentos, vem sendo realizado não só com os nossos policiais mas também com o cidadão comum. Toda terça-feira, por exemplo, aqui no 15° Batalhão, nos reunimos com os conselhos comunitários, trocamos idéias e, através desse debate, surgem novas ações de polícia no município.

AR - Essas ações vêem tendo efeitos práticos?
MS - Sim. No ano passado o índice de ocorrências caiu 14% em comparação a 2001. Esse resultado, em parte, é em decorrência dessa parceria entre polícia e comunidade, são frutos das ações realizadas a partir de informações que o cidadão nos traz. Isso ocorre por que? Porque, queira ou não queira, esse cidadão é o cliente e como tal é quem sabe das suas necessidades. Trabalhamos para oferecer segurança partindo das informações deles, tomando decisões técnicas.

AR - Mas em bairros mais periféricos existem altos índices de criminalidade. O que falta para essas localidades serem melhor assistidas?
MS - Temos problemas na área de recursos humanos (falta policiais) e de logística. Mas os maiores entraves são estruturais, porque o terreno baldio, a precariedade na pavimentação e a iluminação deficitária, por exemplo, são coisas que atrapalham o trabalho. No entanto, temos obtidos muitos êxitos em ações na periferia, só que é um trabalho preventivo que não aparece nas estatísticas.

AR - A PM prevê redução de quanto por cento no número de ocorrências neste ano?
MS - Para este ano projetamos uma redução de 20% e para cumprir esta meta já solicitamos recursos humanos e logísticos. Destacamos que esse plano estratégico foi elaborado com aval e suporte dos conselhos comunitários.

AR - A partir do ano que vem a PM ganha o reforço de mais 3 mil soldados. Qual o reforço para Itabuna?
MS - A previsão é receber entre 120 e 150 novos policiais. Sabemos que ainda não é o número ideal, mas é o que está dentro das possibilidades e não deixa de ser um reforço significativo para o nosso batalhão.

AR - Mas o trabalho da PM ainda é muito criticado...
MS - Temos realizado um excelente trabalho de prevenção que só não rende ibope nem entra nas estatísticas porque o fato não aconteceu. Às vezes as ações de prevenção dão-se em decorrência da aliança entre os conselhos e a polícia. Não tenho recebido nem percebido essas críticas com relação ao nosso trabalho.

AR - O senhor diria que essa parceria também contribuiu para que a comunidade confiasse mais no trabalho da polícia?
MS - Claro. Isso se deve ao trabalho de ressocialização do profissional de polícia para com o seu cliente. A administração moderna diz que o cliente tem as suas necessidades e que estas devem ser resolvidas, absolvidas por quem presta o serviço e nós temos atendido a população.

AR - Qual o é efetivo do 15° Batalhão e quais os municípios sob a sua responsabilidade?
MS - São 873 policiais para fazer a cobertura de 21 municípios, sendo que somente Itabuna, que é sede do 15° BPM, fica com o total de 437.

AR - Este número não é insuficiente?
MS - De certa forma sim. De acordo com a ONU, deveríamos ter 1 policial para cada grupo de 250 pessoas, o que não ocorre hoje. Na realidade, temos 873 policiais para atender cerca de 250 mil habitante das 21 cidades, então existe uma déficit de 50% do efetivo somente em Itabuna.

AR - Então o policiamento preventivo fica comprometido?
MS - Temos conseguido superar essa defasagem. O objetivo é implantar as mesmas ações desenvolvidas em Itabuna nos outros municípios. Além de Itabuna, existem conselhos instalados em Camacã e Buerarema. Já este ano estamos com previsão de implantar essas entidades em Itajuípe, Coaraci, Itapitanga, dentre outras cidades regionais.

AR - A PM colocou homens de bicicleta para inibir a ação dos marginais no centro de Itabuna. Como é desenvolvido esse trabalho?
MS - O policiamento à bicicleta é uma modalidade que tem uma mobilização maior do que o ostensivo ou à pé, com o raio muito mais abrangente. Estamos ainda na fase experimental, com apenas 12 policiais. A nossa meta é ampliar esse policiamento, mas em muitos locais não é possível implantar essa modalidade por causa das dificuldades de acesso. No centro da cidade o policiamento já tem surtido efeitos.

 

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