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19.Abril.2003

"A municipalização da saúde foi melhor para o povo"

- afirma o secretário de Saúde do Município de Ilhéus, dr. Paulo Medaur Reis, que nesta entrevista exclusiva apresentou todas as ações que a sua pasta vem realizando nos últimos dois anos com a municipalização da saúde, e também nos conta como está sendo implantado este novo paradigma da saúde, que é "desospitalizar e desmedicalizar".
       Ele também destacou o combate à dengue com 150 homens para fazer o “fumacê”, como é conhecida a pulverização em todas as ruas, casas e terrenos baldios, além de orientar a população de todos os 44 distritos, vilas e povoados do município. Serão 60 dias de combate direto contra o mosquito da dengue.

A Região - O que representou para o povo essa municipalização da saúde?
Paulo Medauar - No nosso entendimento é a maior conquista do povo brasileiro nos últimos dez anos na área de saúde. Porque as decisões e as ações são tomadas com a participação popular através do Conselho Municipal da Saúde, que tem o controle social das verbas do SUS.

AR - Mas os hospitais estão em situação financeira caótica, como o São José. Isso não prejudicou o atendimento?
PM - Não. Ao contrário. Vamos ao seu exemplo do Hospital São José. Ele não é diferente dos outros hospitais do país, que estão passando por esse mesmo problema, porque o SUS há mais de seis anos não aumenta os valores dos procedimentos. Mas não negamos que também existem administrações amadoras, que estamos procurando corrigir.

AR - O Hospital São José atende cerca de 2.500 pessoas por mês e ameaça parar. A Prefeitura vai socorrer o Hospital?
PM - Veja bem, nós entendemos a necessidade de funcionamento deste hospital. A prefeitura tem ajudado no que é possível, através principalmente de parcerias e até de adiantamento de produção, como foi feito em 2001 para o pagamento do 13° salário. Mas queremos também uma contrapartida. Exigimos uma administração profissional e cobramos resultados, dentro da medida do possível.

AR - Como os hospitais e laboratórios estão reagindo a essa "desospitalização"?
PM - Alguns ainda não entenderam esse procedimento. Nós não estamos querendo tirar as pessoas que necessitam de hospitalização e nem tampouco deixar de medicar as pessoas. O que queremos é que as famílias saibam lidar com as doenças domésticas. Para isso criamos uma série de programas para atender esse objetivo.

AR - Qual o ponto mais crítico da saúde em Ilhéus?
PM - A zona rural. Temos pontos muito distantes e de difícil acesso. O que estamos fazendo é avançando todos os dias com o Programa da Família, que é composto de um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários. São dez equipes que atendem cerca de mil famílias, e para cada duas equipes ainda dispomos de um dentista. Eles mantêm um relacionamento mais direto, conhecendo o paciente pelo nome. Além deste procedimento, que traz resultados positivos, eles utilizam as ações de prevenção, trabalhando com grupos de diabéticos, hipertensos e até de dores de barriga.

AR - Não existe um Programa de Agentes Comunitários da Saúde?
PM - Sim, o PACs. Graças a esse programa, nos últimos dois anos a mortalidade infantil baixou de 38 em cada mil nascidos para 18 em cada mil nascidos. E a intenção é fazer cair muito mais. Fazem parte do PACs 220 agentes. São jovens treinados para promoção da saúde e prevenção de doenças. Ou seja, eles lidam com pré-natal, crescimento e desenvolvimento de crianças, controle de hipertensão e realizam as ações de vacinações. Eles funcionam como um elo entre a comunidade e a unidade de saúde.

AR - A Aids está controlada?
PM - Nos dois primeiros meses deste ano, 48 novos casos de portadores de vírus da Aids foram registrados no Programa DST-Aids (Doenças Sexualmente Transmitidas). Esse programa atende cerca de 100 pessoas por mês e funciona de maneira multidisciplinar onde temos médicos infectologistas, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e os laboratórios para realizar o teste de HIV. Recentemente contratamos um odontólogo para atender especialmente os portadores. Pela segunda vez consecutiva o Programa DST-Aids vem sendo apresentado e aprovado no Exterior. No ano passado foi para o Canadá e inclusive nesta semana ele está sendo apresentado aos cubanos. Isso prova a qualidade do programa e sua importância para a nossa cidade.

AR - E os deficientes físicos?
PM - Temos o NAE (Núcleo de Atenção Especializada), que funciona com deficientes físicos. Contamos hoje com um ginásio para fisioterapia dotado com o que há de mais moderno. Temos ônibus adaptados para buscar e levar esses pacientes previamente agendados. As crianças têm acompanhamento especial. A equipe que atende conta com fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, neurologista e ortopedista. Também contamos com essa equipe para cuidar dos idosos, que são acompanhados por endocrinologistas, geriatras e têm a medicação assegurada.

AR - Como devem proceder os interessados em participar desse programa?
PM - Encaminhar-se diretamente ao Núcleo, que fica instalado na avenida Soares Lopes, para passar por uma triagem e posterior acompanhamento. Hoje temos 3.500 inscritos nesse programa.

AR - Como são tratados os doentes mentais aqui em Ilhéus?
PM - Nesse momento de "desospitalização" de pacientes portadores de doenças mentais, o Caps (Centro de Atenção Psico-Social) é o hospital que mais se ajustou. É um hospital-dia de psiquiatria, onde o paciente chega pela manhã, faz as refeições, recebe as medicações supervisionadas, tem atividades de lazer e também trabalha com artesanato, corte e costura, visando a integração do doente mental no convívio da sociedade, que é de fundamental importância. Esse centro fica no bairro da Conquista e atende 60 pacientes.

AR - De todos esses programas, qual o de maior relevância social?
PM - Um que eu não mencionei ainda: o Programa Criança-Sorriso. São crianças de 7 a 14 anos, alunas de colégios públicos, que são encaminhadas para as unidades odontológicas e recebem aulas de educação e saúde bucal, além de tratamento dentário. Atendemos uma média de 2 mil crianças mensalmente.

AR - Para os adultos existe atendimento odontológico?
PM - Ilhéus tem um dos mais avançados programas de saúde bucal da Bahia, com cerca de 50 odontologistas. Estamos só aguardando a bandeira branca do prefeito para inaugurar um dos maiores centros odontológicos, o Centro de Saúde Oral Dr. Napoleão Marques, no bairro São Francisco. Serão 10 dentistas atendendo à população que reside depois do aeroporto.

AR - Ele vai atender só o pessoal desses bairros?
PM - Por enquanto. Pretendemos inaugurar outros centros e também temos oito dentistas nas unidades móveis de saúde que fazem todo tipo de serviço, menos canal. Nos bairros de Sara, Teotônio Vilela e na Urbis contamos com o serviço odontológico que realiza canal e atende até à noite, diariamente.

 

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