desabafa o deputado estadual Renato Costa (PSB), vice-presidente da Comissão Especial do Cacau da
Assembléia Legislativa, ao criticar a complexidade do Programa de Recuperação da Lavoura que prevê a
liberação de R$ 489,7 milhões e que, apesar de lançado em agosto do ano passado pelo presidente da
República Fernando Henrique Cardoso, não saiu do plano das boas intenções, pelo rigor burocrático do
governo e dos agentes financeiros.
O deputado tentará a reeleição, em 6 de outubro, depois de ter desempenhado o mandato por duas
legislaturas, a segunda mais marcante e que lhe rendeu o reconhecimento de "Destaque do Ano 2001",
pelo Comitê de Imprensa da AL.
Aos 60 anos, o médico Renato Costa, casado, três filhas, se mostra confiante e com a disposição de
continuar lutando pelo desenvolvimento regional. A seguir, os principais trechos da entrevista
concedida a Luiz Conceição.
A Região - Como o sr. avalia o segundo mandato parlamentar?
Renato Costa - A avaliação que posso fazer nesse segundo mandato, que estamos concluindo, é de
que foi de muito trabalho, muita luta, basicamente voltado para as questões regionais. Nos
envolvemos diretamente na busca de alternativas para a crise da cacauicultura, nos problemas da
agricultura, já que faço parte da Comissão de Agricultura, e nas questões de saúde e de educação.
Foram as áreas em que atuamos mais evetivamente.
AR - O sr. acredita na liberação dos recursos prometidos para o cacau em agosto do ano passado pelo
presidente Fernando Henrique?
R. C. - Não compreendo o por quê de ainda não terem sido liberados. Como pode uma região como esta,
por sua importância e em situação de emergência ainda suportar entraves burocráticos que impeçam o
fluxo desses recursos. Vou continuar lutando para que a questão seja tratada de forma emergencial,
em que todas os problemas burocráticas tenham função secundária. Assim é que se enfrenta uma
catástrofe.
AR - O sr. tem sido porta-voz e tem lutado junto à Superintendência Regional do Banco do Brasil na
Bahia, teria alguma novidade sobre o programa de liberação de recursos?
R. C. - Tenho continuamente procurado a direção do Banco do Brasil não só em Salvador como aqui na
região e esbarramos na complexidade do programa. Lamento que o programa seja tão complexo, quando
deveria ser mais simples e emergencial a fim de que pudesse fluir o crédito mais rapidamente. A
burocracia é outra praga que ataca a Região Cacaueira.
AR - O sr. tem tido ação positiva na questão da Educação, até nos debates na Assembléia Legislativa
sobre o Plano de Cargos dos professores, eles podem confiar em um reajuste salarial?
R. C. - Veja a Uesc e outras universidades baianas estão em greve e vi um documento que é uma
carta de intenções do governo. Isso apenas não é o suficiente. Cerca de 80% dos professores da Uesc
estão fora de um aumento real de salários e são aqueles que não têm mestrado ou doutorado. Estima-se
que sejam 400 profissionais que não teriam atendidas as suas reivindicações. Quanto aos professores
do ensino fundamental e médio têm sido vítimas do descaso do governo baiano com os servidores como
um todo. O governo estadual pensa que qualificar o ensino é construir colégios-modelos, verdadeiros
palacetes com professor desmotivado e ganhando salários miseráveis, e os alunos em igual situação,
pois falta requisitos básicos de saúde, alimentação e vestuário, reflexo da crise econômica que
impede o ensino de boa qualidade.
AR - Outras categorias de servidores também estão em greve, como os médicos. Os serventuários da
Justiça se dizem em estado de greve. Vai ser possível negociar e votar os PCCs a tempo?
R. C. - O governo da Bahia tem sido muito perverso com os servidores nos últimos anos. Falamos dos
professores mas evidentemente que os policiais militares e civis têm sido massacrados por essa
política de salários aviltantes. Na Bahia um policial tem salário inicial em torno de R$ 500,00
enquanto no Rio de Janeiro o valor é de R$ 1.200,00 e por aí vão as diferenças. Alguém poderia dizer
que o Rio é do centro-sul e é mais rico mas se compararmos com estados semelhantes à Bahia e até
mais pobres como Sergipe, Pernambuco, Maranhão, Ceará etc., onde os policiais ganham melhor. Na
Bahia temos os piores salários para os policiais, só perdemos apenas para o Piauí.
AR - O sr. foi reconhecido como Deputado do Ano em 2002 vai ser possível renovar esta distinção?
R. C. - Antes de falar deste prêmio queria complementar para dizer que também os demais servidores
e profissionais da Sáude têm tido na Bahia um tratamento terrível por parte do governo do Estado.
Vi o contracheque de uma médica quando constatei que ganhava apenas R$ 270,00. E saibam que ela é de
um hospital público que trata a tuberculose na Bahia.
AR - E quanto à premiação vai ser possível lutar por ela no desempenho deste mandato?
R. C. - Olha a imprensa que cobre os trabalhos da Assembléia fez em 2001 uma avaliação e considerou
como positivo o nosso mandato ao conferir o prêmio, como destaque parlamentar. Quanto a isto fica a
critério dos jornalistas. Agora quanto a avaliação dos eleitores só saberemos nas eleições de 6 de
outubro, quando o nosso mandato estará em julgamento. Pelas sinalizações, manifestações e os apoios
que tenho recebido, o mandato está sendo acompanhado e avaliado pela população. É como faço questão
de dizer: cada eleição é um vestibular.
AR - O sr. está confiante na reeleição para mais um mandato estadual?
R. C. - Confiante estou. Compreendo que temos amplas possibilidades de renovar o mandato, mas não
gosto de antecipar resultados. As eleições vão ocorrer em outubro e, tenho certeza, se acontecessem
hoje nosso mandato seria bem avaliado pela população...
AR - A verticalização imposta pelo TSE prejudica a campanha eleitoral deste ano?
R. C. - A verticalização, evidentemente, trouxe uma realidade nova. Sem entrar no seu mérito,
acredito que os partidos devem ter caráter nacional e concordo com isso. Mas é que a legislação foi
aplicada com o jogo começado e a falha do TSE foi esta: aplicá-la a menos de oito meses das
eleições. As realidades regionais não devem ser desprezadas, embora a eleição de presidente da
República seja de caráter nacional. Gosto de citar o exemplo do Acre, onde o PT e o PSDB têm aliança
necessária para combater o narcotráfico embora sejam rivais em nível nacional.
AR - O sr. confia que o eleitor baiano saberá votar na candidata do PSB ao governo, Lídice da
Mata?
R. C. - Lídice da Mata é candidata do PSB ao governo e, em menos de dois meses de campanha, já
desponta nas pesquisas com um referencial bom entre os candidatos de oposição. Lídice foi prefeita
de Salvador, fez um mandato de muita luta e dificuldades e até o último dia desenvolveu programas
sociais, como Cidade-Mãe, que obtiveram reconhecimento internacional. As camadas mais populares
ainda têm saudade de sua administração. Ela tem viajado pelo interior e tem sido bem recebida. É uma
mulher de luta, combativa, com um discurso muito empolgante, uma história e toda uma vida de luta.
Acho que é uma boa opção para o governo. A unidade das oposições na Bahia ficou prejudicada com a
verticalização, já que partido que tem candidato a presidente, como o PSB com o governador Anthony
Garotinho, não pode se coligar com o PT, que tem Lula; com o PPS, que tem Ciro Gomes; nem com o
PSDB, que tem Serra. Portanto, a verticalização inviabiliza a frente, como seria bom do ponto de
vista tático para o enfrentamento com as forças que dominam a Bahia há muitos anos.
AR - É possível que haja segundo turno nas eleições baianas?
R. C. - Creio que sim. Vejo a candidatura oficial, a de Paulo Souto, com apenas 40%, quando
precisaria ter mais de 50% para ganhar no primeiro turno. Vamos decidir as eleições no segundo
turno e não só as de presidente da República como para o governo baiano. No segundo turno tudo será
zerado e será uma outra eleição, um novo jogo político.
AR - Como está a candidatura do ex-governador Garotinho?
R. C. - Garotinho é hoje um nome nacional. Foi governador do Rio de Janeiro, com marcas positivas
naquele estado. Renunciou ao governo para disputar a eleição presidencial e lá deixou 88% de
avaliação positiva. Estivemos no Rio na Convenção nacional do PSB, no dia 10, e vimos o entusiasmo
como a população fluminense recebe a candidatura de Garotinho. É um nome forte e nas pesquisas
disputa o 2º lugar com o candidato Serra. O quadro deverá ser esse: Lula, o mais votado, e acredito
que Garotinho chegará ao segundo turno disputando com Lula.
AR - Os políticos às vezes temem as pesquisas. Dá para confiar nas pesquisas no Brasil?
R. C. - Pesquisa científica é coisa séria, mas sabemos que existem manipulações. Acredito em
pesquisas de institutos corretos e feitas por pessoas sérias. O método científico de avaliação da
opinião pública é incontestável mas às vezes ficamos desconfiados com algumas manipulações. A
pesquisa deve refletir um momento, já que é um instântaneo. Opinião é uma coisa flutuante, as
pessoas mudam de acordo fatos positivos ou negativos nas campanhas. As pesquisas devem ser
utilizadas apenas para refletir uma realidade momentânea para que as campanhas se orientem. Acho
equivocado se utilizar de pesquisas para produzir resultados, como peças de marketing, como se
aquele número fosse suficiente para influenciar os eleitores a votar. A distorção é essa, o uso
eleitoral. Quando a pesquisa é fraudada, o eleitor também é fraudado por mudar de opinião com base
em uma fraude.
AR - Nas eleições municipais de Itabuna, em 2000, parece que se tentou manipular as pesquisas?
R. C. - Durante algum tempo e acredito que foi um equívoco dos marketeiros do prefeito candidato à
reeleição. Todo mundo sabia, em determinado momento, que os números que o colocavam na frente
agrediam ao mais simples observador. As eleições foram chegando mais próximo e ao tentarem o
ajustamento se projetou uma queda do candidato. Acredito que por causa deste erro o candidato à
reeleição acabou derrotado.
AR - Como o sr. analisa essa campanha de A Região de defender o voto regional?
R. C. - Essa questão do voto regional passa pela pouca representatividade da Região Cacaueira.
Convidado aos observadores a ver que nos últimos dez anos os sucessivos governos estaduais não
tiveram um representante do sul da Bahia no primeiro escalão. Se alguém conheceu um secretário de
Estado da região nesse período que aponte. E não é por falta de gente competente ligado ao grupo
político atual. Pois bem, quando os governadores se reúnem com o secretariado para traçar as
políticas e diretrizes do Estado, o sul da Bahia não se senta à mesa principal e isso é fruto da
vontade de parte do eleitorado regional de votar em pessoas sem vinculações mais fortes com a
região. Portanto, o eleitorado deve votar nos candidatos da região, nos melhores, e não apenas
naqueles que têm domicílio eleitoral. O atestado de residência não qualifica o candidato É preciso
que o candidato tenha compromissos com a Região Cacaueira.