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17.Agosto.2002

"O apoio ao governo não tem trazido benefícios ao produtor"

critica Wallace Coelho Setenta, 46 anos, casado, três filhos, engenheiro agrônomo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), presidente da Central Nacional dos Produtores de Cacau (CNPC). Integrante do Pacto do Cacau (com a ABC Associação Brasileira de Cacauicultores e Copercacau Cooperativa Central do Cacau), o presidente da CNPC prega a unidade política regional como forma de encaminhar as soluções para a economia cacaueira.
       Mesmo defendendo a diversidade de opiniões, é duro com os segmentos de oposição, que divulgaram a falsa idéia da perda de unidade dos produtores, quando as instituições mais fortes estão em torno do Pacto (do Cacau), sendo que as outras não apresentaram um único projeto e ainda criam problemas para nossa proposta. A Ceplac, se não é incluída entre os opositores da proposta, também não é poupada: a Ceplac foi omissa, fulmina.
       Wallace Setenta anuncia para o dia 22, em Itabuna, um protesto inusitado, um bolo de chocolate de 2 x 4 metros, marcando o aniversário da visita e promessa do presidente Fernando Henrique Cardoso à região. Estamos cansados de vê a agricultura fechar estradas e agências de bancos, o que de nada adianta, pelo contrário, só cria transtornos à sociedade, explica.

A Região - O Pacto do Cacau organiza um encontro com candidatos a deputado federal e estadual nessa segunda-feira, 19. O que se pretende com isso?
Wallace Setenta - Pretendemos uniformizar e dá sentido a uma coisa debatida há muito tempo que é a criação de uma bancada do cacau. Pela importância do cacau para a região, precisamos superar as questões partidárias, pois achamos que só através da unidade discutiremos os fatos e criaremos uma relação mais estreita com os candidatos à Assembléia Legislativa e à Câmara Federal, para que seja encontrada uma solução para a cacauicultura.

AR - O senhor acredita que só pela via política é possível resolver a questão do cacau?
WS - É o único caminho que temos. Tecnicamente, o Pacto [do Cacau] ofereceu uma proposta ao governo federal, que foi aprovada e reconhecida em todos os segmentos da cacauicultura não só baiana mas também por técnicos da União e do governo estadual. É um programa que reúne condições sólidas, bem fundamentadas para que possamos avançar na resolução do problema do cacau, restando apenas a consciência política não só dos partidos como também da sociedade organizada em torno da questão soerguer essa atividade econômica.

AR - As entidades precisam atuar mais, estando mais presentes nas negociações das alternativas para a lavoura?
WS - As entidades organizadas do Sul da Bahia, sejam elas do comércio, de profissionais liberais, segmentos econômicos e clubes de serviços estão envolvidas no processo. O que falta para remover os entraves do cacau é força política, pois só assim vamos ter como influenciar diretamente no poder central, em Brasília, para que este ponha em ação as políticas públicas propostas para a região cacaueira.

AR - O que falta à região para ter melhores resultado de suas ações junto ao governo?
WS - Somos 92 municípios, temos 3 milhões de votos, a região cacaueira tem força, a importância dela para Bahia é muito grande, então o que nos falta é unidade política para que seja aberta a discussão envolvendo todos os partidos. O Pacto do Cacau é um norte para que os deputados falem a mesma linguagem. Mesmo que existam divergência de propostas para chegar ao poder, quando chegar lá que todos lutem para resolver o problemas enfrentados pelo Sul da Bahia, independentemente de divergências partidárias. É esse o desafio, por isso, estamos buscando a unidade.

AR - O que a CNPC, a ABC e a Copercacau esperam desses candidatos que, supostamente, serão deputados na próxima legislatura?
WS - Esperamos que tenham conhecimento claro da questão do cacau. Às vezes por aqui estar muita gente acha que entende ou percebe as complexidades da economia cacaueira, que são muito grandes. Queremos mostrar para esses candidatos quais são realmente os problemas, e como são encaminhados, para que eles entendam corretamente e se aliem a nós para que possamos avançar na resolução desse entrave que existe há 14 anos.

AR - Isto também significa que as entidades jogaram a toalha, que elas não esperam mais soluções no governo Fernando Henrique?
WS - Ainda achamos que o atual governo pode oferecer soluções, pois foi a seu pedido que apresentamos o programa. Nós criamos as condições necessárias para que as ações fossem desenvolvidas pelo presidente e ele nada fez. Agora, deve-se levar em consideração que a questão não depende só do presidente, mas também do Conselho do Desenvolvimento do Agronegócio do Cacau (CDAC), que não soube postular claramente as propostas para resolver os problemas da lavoura cacaueira. Faltou articulação política conseqüente, ou seja, a base política do governo, formada pelo PMDB e PSDB, não conseguiu viabilizar as ações necessárias.

AR - E as dificuldades internas enfrentadas pelo Pacto do Cacau, com agentes do governo estadual, pessoas que defendem grupos partidários...
WS - O Pacto do Cacau teve dificuldades na base, mas é saudável ter diversos organismos de representação, que tenham outras pretensões e propostas. Só que os demais segmentos não apresentaram uma único projeto e nos criaram problemas. Divulgaram a falsa idéia da perda de unidade dos produtores de cacau, quando as instituições mais fortes estão em torno do Pacto (do Cacau), sendo que as outras existem mas não têm consistência em sua representação. São entidades que respaldam, que apoiam o governo do Estado e suas ações, em troca de algumas benesses, mas isso não se traduz em benefícios para a classe produtora.

AR - E quanto às ações do ministro Pratini de Morais e do diretor da Ceplac Hilton Kruschewsky, que avaliação o senhor faz?
WS - A Ceplac foi muito omissa. Ela, como instituição-líder na geração de ciência e tecnologia e coordenadora do CDAC, não foi capaz de compartilhar, discutir e buscar soluções junto aos produtores. A Ceplac ficou meio à deriva, quando deveria debater as alternativas para os problemas, ficou na vanguarda do movimento. Já o ministro Pratini de Morais é muito ligado área de comércio, mercado internacional, acordos de exportação e importação, não está muito afeito nem consegue concretizar o que diz.

AR - Daí o bolo o bolo como protesto, nessa quinta-feira, 22? Que história essa do bolo?
WS - Estamos cansados de vê a agricultura fechar estradas e agências de bancos, o que de nada adianta, pelo contrário, só cria transtornos à sociedade. Então, por sugestão dos companheiros do movimento, decidimos fazer um bolo de chocolate de aniversário da visita do presidente à região cacaueira. Esse bolo será cortado e simbolicamente oferecido ao governo, que no dia 24 de agosto ano passado esteve aqui prometendo resolver os problemas do cacau mas não desenvolveu ações concretas nesse sentido.

AR - Durante todos esses anos de luta o que foi conquistado pelos produtores e o que ainda falta?
WS - Falta acertar um programa definitivo, com uma ação integrada para resolver as questões do cacau, com preocupação voltada para o meio ambiente, Ceplac, cooperativismo, créditos e a diversificação. Falta esse direcionamento claro do governo, com um programa que atinja todos os produtores de cacau, uma ação com vistas ao agronegócio. Acho que temos de acabar com esse negócio de todo mundo querer demonstrar que fez, é o dono e pai, isso não cabe nesse momento, porque a crise é muito grande e os problemas da cacauicultura são maiores ainda.

AR - Os produtores estão reclamando, mas o governo anuncia que liberou quase meio milhão de reais para o cacau...
WS - Isso é para gerar fatos políticos, como se o governo pretendesse jogar a sociedade contra os produtores de cacau. Como é divulgado, fica parecendo que temos recursos disponíveis para resolver a questão do cacau a todo tempo, o que é uma grande mentira. É uma ação mistificadora como método e prática corriqueiras das ações de governo. A verdade é que esses recursos liberados pela União geraram muito mais problemas do que se resolveram. Pode-se verificar que a curva de produção é decadente, está em declínio e o passivo dos agricultores aumentou assustadoramente nos últimos anos. O queremos é que não só se anuncie a liberação mas que o dinheiro chegue às mãos do produtor. Porque até agora 93% dos produtores jamais receberam os recursos anunciados na mídia.

 

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