critica Wallace Coelho Setenta, 46 anos, casado, três filhos, engenheiro agrônomo pela Universidade
Federal da Bahia (Ufba), presidente da Central Nacional dos Produtores de Cacau (CNPC). Integrante
do Pacto do Cacau (com a ABC Associação Brasileira de Cacauicultores e Copercacau Cooperativa
Central do Cacau), o presidente da CNPC prega a unidade política regional como forma de encaminhar
as soluções para a economia cacaueira.
Mesmo defendendo a diversidade de opiniões, é duro com os segmentos de oposição, que divulgaram a
falsa idéia da perda de unidade dos produtores, quando as instituições mais fortes estão em torno do
Pacto (do Cacau), sendo que as outras não apresentaram um único projeto e ainda criam problemas
para nossa proposta. A Ceplac, se não é incluída entre os opositores da proposta, também não é
poupada: a Ceplac foi omissa, fulmina.
Wallace Setenta anuncia para o dia 22, em Itabuna, um protesto inusitado, um bolo de chocolate de 2
x 4 metros, marcando o aniversário da visita e promessa do presidente Fernando Henrique Cardoso à
região. Estamos cansados de vê a agricultura fechar estradas e agências de bancos, o que de nada
adianta, pelo contrário, só cria transtornos à sociedade, explica.
A Região - O Pacto do Cacau organiza um encontro com candidatos a deputado federal e estadual
nessa segunda-feira, 19. O que se pretende com isso?
Wallace Setenta - Pretendemos uniformizar e dá sentido a uma coisa debatida há muito tempo
que é a criação de uma bancada do cacau. Pela importância do cacau para a região, precisamos superar
as questões partidárias, pois achamos que só através da unidade discutiremos os fatos e criaremos
uma relação mais estreita com os candidatos à Assembléia Legislativa e à Câmara Federal, para que
seja encontrada uma solução para a cacauicultura.
AR - O senhor acredita que só pela via política é possível resolver a questão do cacau?
WS - É o único caminho que temos. Tecnicamente, o Pacto [do Cacau] ofereceu uma proposta ao governo
federal, que foi aprovada e reconhecida em todos os segmentos da cacauicultura não só baiana mas
também por técnicos da União e do governo estadual. É um programa que reúne condições sólidas, bem
fundamentadas para que possamos avançar na resolução do problema do cacau, restando apenas a
consciência política não só dos partidos como também da sociedade organizada em torno da questão
soerguer essa atividade econômica.
AR - As entidades precisam atuar mais, estando mais presentes nas negociações das alternativas
para a lavoura?
WS - As entidades organizadas do Sul da Bahia, sejam elas do comércio, de profissionais liberais,
segmentos econômicos e clubes de serviços estão envolvidas no processo. O que falta para remover os
entraves do cacau é força política, pois só assim vamos ter como influenciar diretamente no poder
central, em Brasília, para que este ponha em ação as políticas públicas propostas para a região
cacaueira.
AR - O que falta à região para ter melhores resultado de suas ações junto ao governo?
WS - Somos 92 municípios, temos 3 milhões de votos, a região cacaueira tem força, a importância
dela para Bahia é muito grande, então o que nos falta é unidade política para que seja aberta a
discussão envolvendo todos os partidos. O Pacto do Cacau é um norte para que os deputados falem a
mesma linguagem. Mesmo que existam divergência de propostas para chegar ao poder, quando chegar lá
que todos lutem para resolver o problemas enfrentados pelo Sul da Bahia, independentemente de
divergências partidárias. É esse o desafio, por isso, estamos buscando a unidade.
AR - O que a CNPC, a ABC e a Copercacau esperam desses candidatos que, supostamente, serão
deputados na próxima legislatura?
WS - Esperamos que tenham conhecimento claro da questão do cacau. Às vezes por aqui estar muita
gente acha que entende ou percebe as complexidades da economia cacaueira, que são muito grandes.
Queremos mostrar para esses candidatos quais são realmente os problemas, e como são encaminhados,
para que eles entendam corretamente e se aliem a nós para que possamos avançar na resolução desse
entrave que existe há 14 anos.
AR - Isto também significa que as entidades jogaram a toalha, que elas não esperam mais soluções no
governo Fernando Henrique?
WS - Ainda achamos que o atual governo pode oferecer soluções, pois foi a seu pedido que
apresentamos o programa. Nós criamos as condições necessárias para que as ações fossem desenvolvidas
pelo presidente e ele nada fez. Agora, deve-se levar em consideração que a questão não depende só do
presidente, mas também do Conselho do Desenvolvimento do Agronegócio do Cacau (CDAC), que não soube
postular claramente as propostas para resolver os problemas da lavoura cacaueira. Faltou articulação
política conseqüente, ou seja, a base política do governo, formada pelo PMDB e PSDB, não conseguiu
viabilizar as ações necessárias.
AR - E as dificuldades internas enfrentadas pelo Pacto do Cacau, com agentes do governo estadual,
pessoas que defendem grupos partidários...
WS - O Pacto do Cacau teve dificuldades na base, mas é saudável ter diversos organismos de
representação, que tenham outras pretensões e propostas. Só que os demais segmentos não apresentaram
uma único projeto e nos criaram problemas. Divulgaram a falsa idéia da perda de unidade dos
produtores de cacau, quando as instituições mais fortes estão em torno do Pacto (do Cacau), sendo
que as outras existem mas não têm consistência em sua representação. São entidades que respaldam,
que apoiam o governo do Estado e suas ações, em troca de algumas benesses, mas isso não se traduz em
benefícios para a classe produtora.
AR - E quanto às ações do ministro Pratini de Morais e do diretor da Ceplac Hilton Kruschewsky, que
avaliação o senhor faz?
WS - A Ceplac foi muito omissa. Ela, como instituição-líder na geração de ciência e tecnologia e
coordenadora do CDAC, não foi capaz de compartilhar, discutir e buscar soluções junto aos
produtores. A Ceplac ficou meio à deriva, quando deveria debater as alternativas para os problemas,
ficou na vanguarda do movimento. Já o ministro Pratini de Morais é muito ligado área de comércio,
mercado internacional, acordos de exportação e importação, não está muito afeito nem consegue
concretizar o que diz.
AR - Daí o bolo o bolo como protesto, nessa quinta-feira, 22? Que história essa do bolo?
WS - Estamos cansados de vê a agricultura fechar estradas e agências de bancos, o que de nada
adianta, pelo contrário, só cria transtornos à sociedade. Então, por sugestão dos companheiros do
movimento, decidimos fazer um bolo de chocolate de aniversário da visita do presidente à região
cacaueira. Esse bolo será cortado e simbolicamente oferecido ao governo, que no dia 24 de agosto ano
passado esteve aqui prometendo resolver os problemas do cacau mas não desenvolveu ações concretas
nesse sentido.
AR - Durante todos esses anos de luta o que foi conquistado pelos produtores e o que ainda falta?
WS - Falta acertar um programa definitivo, com uma ação integrada para resolver as questões do
cacau, com preocupação voltada para o meio ambiente, Ceplac, cooperativismo, créditos e a
diversificação. Falta esse direcionamento claro do governo, com um programa que atinja todos os
produtores de cacau, uma ação com vistas ao agronegócio. Acho que temos de acabar com esse negócio
de todo mundo querer demonstrar que fez, é o dono e pai, isso não cabe nesse momento, porque a
crise é muito grande e os problemas da cacauicultura são maiores ainda.
AR - Os produtores estão reclamando, mas o governo anuncia que liberou quase meio milhão de reais
para o cacau...
WS - Isso é para gerar fatos políticos, como se o governo pretendesse jogar a sociedade contra os
produtores de cacau. Como é divulgado, fica parecendo que temos recursos disponíveis para resolver a
questão do cacau a todo tempo, o que é uma grande mentira. É uma ação mistificadora como método e
prática corriqueiras das ações de governo. A verdade é que esses recursos liberados pela União
geraram muito mais problemas do que se resolveram. Pode-se verificar que a curva de produção é
decadente, está em declínio e o passivo dos agricultores aumentou assustadoramente nos últimos anos.
O queremos é que não só se anuncie a liberação mas que o dinheiro chegue às mãos do produtor. Porque
até agora 93% dos produtores jamais receberam os recursos anunciados na mídia.