Opinião
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7 de Fevereiro de 2009
Jose Nilton Azevedo, prefeito de Itabuna
"Não vou assumir ônus, ilegalidade de ninguém"
- diz o novo prefeito de Itabuna, José Nilton Azevedo, o Capitão Azevedo (DEM), que afirma estar sem “amarras” com um passado que tem nome e sobrenome: Fernando Gomes.
Nesta entrevista exclusiva de A Região, o prefeito falou sobre tudo, até sobre as especulações sobre seu estado civil. Ele garante que fará um governo de união, rejeita que sua gestão esteja marcada pelo nepotismo e promete não parar de buscar recursos.
Azevedo não consegue esclarecer a polêmica sobre as 20 mil bolsas de renda, a R$ 100, para famílias carentes. Após assumir, disse que seriam apenas 6 mil. O erro ele atribui a sua assessoria.
A Região - Como o sr. avalia o desempenho do seu governo nesses 30 dias?
Esse é o momento de organização da gestão pública. Encontramos sérios problemas, como salários atrasados, 400 servidores não-concursados que tiveram que ser exonerados e que trabalhavam em pontos-chaves. Isso afetou as primeiras ações, como o mutirão de limpeza. Aí, tivemos que planejar, licitar para fazer esse mutirão. Acredito que em 90 dias, no máximo, estaremos com a máquina nos trilhos.
AR - Quais são as dívidas a curto prazo, além dos salários?
Temos dívidas com alguns fornecedores e na saúde que nos têm causado embaraços. Você vê que na questão dos salários teve o envolvimento do Ministério Público Estadual e do Trabalho. Encontramos os salários de novembro e dezembro atrasados. Pagamos logo novembro e já conseguimos quitar o de janeiro. Queremos regularizar esse de dezembro para dar um equilíbrio emocional ao servidor e, aí sim, exigir dele.
AR - Qual o montante da dívida deixada pelo ex-prefeito?
Ainda não temos esse montante, pois a cada dia vão surgindo novas informações (de dívidas). Em 90 dias, acredito que teremos esse quadro definido.
AR - O atraso em anunciar o secretariado dificultou o início de governo?
O povo elege o prefeito e sobre ele é que recaem todas as expectativas. Então, eu não acredito que houve embaraço. Se o secretário nomeado não comungar com as nossas expectativas e do povo, simplesmente a gente o convida para que deixe o governo.
AR - O que motivou a saída do engenheiro Francisco França da Emasa?
Eu realmente confiei o cargo a Chico, mas ele não me deu um retorno formal. Através de um grande amigo dele, que o sugeriu, ele colocou que tinha patrimônio, bens e normalmente quem assume aquela função assume responsabilidades. Se houvesse algum problema, poderia afetar seu patrimônio.
AR - A Emasa também teve a nomeação de seu irmão para a diretoria financeira. O senhor vai combater o nepotismo?
Eu sei que há uma exploração política do caso, mas Azevedo não vai decepcionar ninguém. Este meu irmão é concursado da Emasa. Então, ele pode assumir qualquer função.
AR - Nessa lista, teria pelo menos uma filha de criação, no DST/Aids.
É só ver se tem alguém nomeado. Para essa função de coordenador do programa DST e Aids, terá que ser alguém do quadro, concursado.
AR - Por que ainda não foi nomeado o secretário de esporte?
Para construir a governabilidade, nós temos que buscar alianças. Estava muito animado em ceder a pasta para o PPS, mas houve a morte de Anísio Alcântara (presidente do partido). Era a vontade dele entrar na base através dessa secretaria.
AR - Vereadores da base dizem que não são recebidos. Procede?
Se há divergência, é entre eles. Tenho boa relação com todos os 13. Todos eles dizem que apoiarão as ações do governo em prol do povo.
AR -Como está a sua relação com Alcântara Pelegrine (indicado para Esportes) e Milton Cerqueira?
Eles entenderam a questão da governabilidade. Dizem que ele não tem perfil, mas Alcântara desempenhou um papel interessante, é esforçado, dedicado.
AR - Mas quem disse que ele não teria o perfil para o cargo foi o senhor...
É, acho que foi um momento impensado... Nem me recordo. Eu sempre digo que quero buscar perfis que comunguem com os nossos ideais, tenham disposição. Mas eu nunca questionei o perfil dele, não. Existem momentos de empolgação, a gente, às vezes, tem que medir o que fala. Mas tenha certeza que o relacionamento com Milton é bom.
AR - Entre PPS e PSDB, com quem a negociação está mais avançada?
Eu converso com todos os partidos e continuaremos conversando, porque o importante hoje é a união em prol de Itabuna, não por empreguismo, troca de favores. Lá atrás, na campanha, eu procurei os partidos e alguns deles disseram “se o senhor tiver R$ 100 mil, a gente fecha a aliança”. Eu disse peraí, Itabuna não são os interesses particulares.
AR - E quem fez essa proposta chegou a fechar depois com o senhor?
Nunca. Eu só tenho o dia e a noite, não tenho dinheiro. E se eu tivesse, não fechava. Em primeiro lugar está Itabuna. Isso é ridículo. Não pode jamais negociar por dinheiro.
AR - Na campanha, o sr. prometeu 20 mil bolsas de R$ 100. Depois de eleito, disse que seriam só seis mil. Isso não é uma quebra de promessa?
Isso foi questionado, mas não são 20 mil bolsas. Se estiver gravado em algum lugar...
AR - No programa de TV do senhor e nos releases de campanha.
Colocaram isso, mas não foi autorizado por mim. Eu nunca falei isso. Eu confirmo que são 6 mil famílias na linha de pobreza e que não são atendidas pelo Bolsa-Família. Eu resolvi amparar essas pessoas com a bolsa municipal. São seis mil famílias. Dá umas 20 mil pessoas atendidas.
AR - Quando as famílias começam a receber as bolsas?
Andando nos bairros, encontrei uma senhora com três filhos, o marido sem trabalho e só três tiras de tripa para comer. Então, pensei em dar a bolsa para essas pessoas que são cadastradas, mas não são contempladas pelo Bolsa Família federal. Como o orçamento do município foi feito pelo governo passado, saiu todo amarrado. Para a limpeza pública, o orçamento era de R$ 7,5 milhões no ano passado. Para 2009, desceu para R$ 4,3 milhões.
AR - Mas o sr. pediu a devolução do orçamento, foram feitos ajustes... Essa idéia de que o sr. não teve como mudar o orçamento não é falsa?
Muito bem colocado. Eu tentei. O técnico dizia que não poderia mexer, aprofundar muito para não perder prazos. Marinheiro de primeira viagem, eu aceitei para resolver lá na frente.
AR - Quanto vai se gastar com a coleta de lixo e quando será a licitação?
Nós temos um prazo de 90 ou 180 dias para realizar a licitação. A Marquise está realizando o trabalho e estamos observando. Quando eles começaram a fazer em dias alternados, nós chamamos e avisamos que ou se fazia a coleta diária ou a empresa sairia da cidade. Nós não temos amarras com qualquer empresa.
AR - Quais as bases e o valor desse contrato emergencial?
Antes, existiam duas empresas para fazer a limpeza urbana, a manutenção de parques e jardins, bocas de lobo... Uma era a ICC (a outra era a Ecolimp). Eram contratos de R$ 1,2 milhão e tinha um reajuste em outubro, para R$ 1,4 milhão. Nós assinamos esse contrato de R$ 1,190 milhão para uma só empresa fazer tudo.
AR - Na campanha, o sr. disse que talvez fosse melhor a prefeitura executar esse serviço. Há algum estudo sobre isso?
Quando vai se cuidar de funcionário público é uma coisa terrível, ele não produz como o da iniciativa privada. Mas não está descartado isso não. Um dos problemas é o custo para aquisição do equipamento. Um caminhão compactador custa, em média, R$ 200 mil.
AR - A coleta de lixo teve a interferência do Ministério Público, também na saúde e no carnaval. Essa interferência mostra deficiência na sua gestão?
Quando o Ministério Público tomou conhecimento, Azevedo já havia interferido para que a coleta voltasse a ser diária. Vamos deixar bem claro isso. Quanto ao salário atrasado da saúde, o débito não foi da gestão de Azevedo. Nem por isso deixei de negociar.
AR - E o carnaval, prefeito?
Essa discussão sobre realizar carnaval com salários de servidores atrasados é falsa. Você não pode tirar verba que é do carnaval para pagar salários e vice-versa.
AR - Quanto vai custar o carnaval?
Para o município, nós estimamos em R$ 700 mil, pois temos recursos de parceiros da festa, como a Bahiatursa, que entra com cerca de R$ 130 mil. Carnaval como esse custa, em média, R$ 1,5 milhão. Nós conseguimos baixar isso porque houve austeridade na contratação da bandas, tiramos a “gordurinha”.
AR - O sr. toma como base os carnavais superfaturados de Fernando Gomes?
Eu vou abrir todos os contratos do carnaval para o Ministério Público, para quem quiser. O governo de Azevedo vai ser transparente.
AR - Quais são as medidas para assegurar transparência no governo?
Vamos ter uma equipe de auditoria continuada dentro da prefeitura, dando tranqüilidade para saber se o chefe de cada setor está trabalhando corretamente. Pretendemos manter uma equipe de auditoria constante. Com relação à transparência, nós temos uma empresa que vai dar publicidade a esses atos.
AR - Quem procura os postos de saúde tem esperado até oito, dez meses para ser atendido. A rede básica está sem médico.
Esse modelo do SUS está falido, tem sempre deficit. Mas um levantamento está sendo feito e, em 40 dias, já estaremos de posse dos equipamentos para os postos, contratar e colocar os funcionários para atender.
AR - O município vai investir em saúde preventiva?
Às vezes, esse é um trabalho que não é valorizado, é uma cultura do povo, a de não valorizar a prevenção. O déficit na área de saneamento em Itabuna é de 50%. Eu peguei os contratos, projetos que existiam na prefeitura e levei ao governador Wagner e ao ministro das Cidades, Marcio Fortes, atrás de verbas. Não vou ficar quieto, porque, se eu cuidar do esgoto, da pavimentação, estarei promovendo o bem-estar, tirando-os dos postos médicos, hospitais.
AR - O sr. vai fazer auditoria na gestão de Fernando ou ter sido vice dele o inibe?
Eu não tenho que temer nada, pois saí para uma campanha sem amarras com ninguém. Todas as vezes que precisar de uma investigação, uma auditoria, faremos. Não vamos assumir ônus ou ilegalidade de ninguém.
AR - Mas o sr. vai fazer uma auditoria?
No momento em que eu meter uma auditoria, eu vou perder tempo olhando no retrovisor. O que for caso de polícia, nós vamos mandar para a polícia, mas Azevedo quer olhar para frente. Até agora, não veio nada à tona, a não ser salários atrasados.
AR - Só em uma auditoria feita pela Sesab se descobriu desvio de R$ 17 milhões...
Pois é, esses desvios estão sendo apurados, foi retirada a gestão plena da saúde. Eu sei que existe no Ministério Público e no SUS auditorias e cabe a eles tomarem providências.
AR - O sr. se arrepende de ter sido vice de Fernando Gomes?
Eu me abstenho de avaliar a gestão, pois sou suspeito para ficar aqui avaliando. Mas não me arrependo de ter sido vice. Até porque, vice não manda em nada e fica ali só olhando.
AR - E Antônio Vieira, o vice do sr., vai mandar em alguma coisa?
Como vice, ele tem que ser a mesma coisa. Vice não manda em nada. Mas, como secretário, Vieira tem uma pasta.
AR - Essa aproximação com o PP é namoro, amizade? O sr. vai sair do DEM?
O PP está à disposição de Itabuna e nós vamos ajudá-lo. Quanto a mudar de partido, a lei não permite. Se trocar de partido, perde o mandato. Mas vejo o PP como um aliado nosso, de Itabuna. Via PP, PMDB, outros partidos e um somatório de forças, nós vamos cuidar de Itabuna.
AR - Seu governo é acusado de nepotismo. Como fica a família Burgos?
O (Carlos) Burgos é secretário, o filho (Otaviano) é concursado e a filha (Juliana) depende ainda de aprovação da Câmara.
AR - O sr. fez recadastramento de servidores. Já apareceram muitos fantasmas?
Aparecer, apareceu, mas nós só queremos saber a quantidade. Nós vamos ter o controle dos funcionários, o que ele vem fazendo, onde está. Até faz mal para ele não ir para o trabalho, ficar por aí gerando problemas, como a preguiça (rs)...
AR - O sr. anunciou o ponto digital, que é polêmico por aqui...
Não ter ponto nem nada na prefeitura virou uma cultura. O que nós vamos fazer? Isso não é para perseguir funcionário, pois o bom vai lá, se apresenta.
AR - Neste primeiros dias, muito se fala dos super-secretários. Eles existem?
Não, apenas eu escolhi secretários que sejam resolutivos, saímos de uma cultura de secretários que são submissos e qualquer passo que davam tinham que informar ao prefeito. O secretário tem que se sentir a vontade, mas se ele ultrapassar, nós daremos uma cortada.
AR - Quais são seus projetos para este primeiro ano?
Este primeiro ano será de dificuldades e vamos quebrar essas arestas. Vamos implantar neste ano o Bolsa Renda, a Escola Pública de Trânsito e o Canteiro de Trabalho.
AR - A prefeitura nos bairros foi uma promessa. O sr. não irá implantá-la?
Para fazer o Prefeitura Móvel, nós teremos que primeiro planejar. Talvez aconteça no segundo semestre, mas vai para valer mesmo, linkada com a comunidade.
AR - Como estão suas relações com o DEM, Paulo Souto, Félix Mendonça?
O relacionamento é o melhor possível, pois temos que entender que a Bahia é grande. Quantos prefeitos do DEM concorrendo, né? Tenha certeza que estes dois homens são importantes e têm trabalho prestado à Bahia.
AR - O sr. é o primeiro prefeito solteiro de Itabuna... o pessoal até especula.
O estado civil consta como solteiro na carteira, mas eu tenho uma família há 35 anos. Até dizem que eu me mudei para o Góes Calmon. Eu estou lá na minha casinha, lá no bairro de Fátima.
AR - Como o sr. viu as críticas de Geraldo Simões ao seu governo e a acusação de que lhe falta programa?
Eu não julgo ninguém. Olhe ele, teve oportunidade como prefeito. Se meu governo não for bom, o povo tira. Ele teve a oportunidade dele como prefeito e o povo o tirou. É assim.
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