Opinião
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8 de Maio 2010
Luiz Bassuma, pré-candidato a governador
"Com a eleição de Lula o PT passou a ser igual a outros"
partidos, afirma o ex-petista e hoje candidato a governador da Bahia pelo PV, Luiz Bassuma. Casado com Rose Marie, pai de João Luiz, Caroline e Vinícius, este curitibano começou a trabalhar aos 12 anos e se formou em Engenharia Mecânica pela UFPR.
Em 1979 entrou na Petrobras e mudou para a Bahia, para ficar. Espírita desde 1981, funador da Creche Escola Allan Kardec, que atende 170 crianças carentes, Bassuma foi vereador de Salvador, Deputado Estadual e Federal pelo PT, tendo 65.714 votos na última eleição.
Ele esteve em Itabuna e concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcel Leal na rádio Morena FM. Confira o bate papo.
Luiz, como você lida com esse lado espírita na política?
O conhecimento do espírito serviu como uma ferramenta poderosa que a vida me deu para me tornar mais humilde, menos egoísta, menos orgulhoso, para ter a sensação e noção exata do significado da vida.
Para mim seria muito cômodo esconder isso, muitos fazem, porque a maioria do povo é católica, outra parte expressiva é evangélica.
Isso é um dos testemunhos que posso dar. Não que eu ache que ser espírita torna a pessoa melhor que outra, rótulo não muda ninguém. O que muda é o que se faz da vida.
Eu perguntei por que, por ser espírita, isso influenciou a saída do PT, não?
Eu sempre fui do PT, fui vereador em Salvador, deputado estadual, federal duas vezes mas, a partir do momento em que o PT chega ao máximo do poder no Brasil, com a eleição de Lula, o partido começa a se modificar.
Aquele velho PT das utopias, dos ideais, do desejo de transformar a sociedade, rapidamente se transformou num partido igual a tantos outros, que visa apenas a eleição como mecanismo de chegar ao poder.
A gota d’água foi um processo movido pelo partido. Sou contra a legalização do aborto e o partido decidiu ser a favor da legalização em 2007, aprovou por maioria e isso passou a valer como resolução. Eu descumpria e dizia publicamente.
O PT quis me censurar, calar minha voz e, se eu tivesse aceitado essa imposição, estaria até hoje no partido. Acho que na hora em que o ser humano resolve perder sua liberdade de defender aquilo em que acredita, tem que sair da vida pública.
Eu nunca vi partido fechar questão com esse assunto tão polemico
Eu dizia que não queria que eles pensassem igual a mim, apenas que respeitassem minha posição de defender aquilo que acredito. O aborto é a maior estupidez humana.
Acho que o governo tinha que ter políticas públicas para prevenir a gravidez indesejada, isso sim é inteligente. O aborto é caro e, além de matar a criança, pode matar a mulher.
O que acha que falta na Bahia e o que gostaria de fazer se fosse governador?
São três questões cruciais. Primeiro a educação de qualidade para todos. Vou defender o que a Espanha fez há 25 anos quando saiu da ditadura e criou um pacto.
Foi o único momento da história em que a Espanha reuniu todas as classes e todos os partidos políticos unidos para levantar o país e deu certo.
Você acha que o Lula perdeu a chance histórica de fazer isso no inicio?
Perdeu, teve a chance e jogou fora. Uma oportunidade de entrar para a história muito maior do que Mandela, como o maior estadistas. Falei isso para ele. Disse que ele tinha duas opções: terminar sua passagem com um governo bom ou terminar revolucionando, rompendo com a corrupção, o maior câncer que tem nesse pais.
O segundo ponto é a saúde. Temos que romper a corrupção da saúde, é muito dinheiro desviado em todas as esferas. Se estivesse indo para seu destino, teríamos uma saúde integral para todos e não precisaríamos nem de plano de saúde.
O terceiro ponto é que temos que instituir a Secretaria da Paz. É preciso mudar a cultura da violência e não se faz isso com um ano nem dois. O estado tem que investir muito na inteligência. O crime organizado está vencendo a guerra.
Você não acha que o estado deveria abordar mais cedo a questão das drogas na escola, já que os traficantes buscam os viciados mais cedo?
Eu tenho uma experiência pessoal em creches. Trabalho com crianças pobres onde têm mais tráfico de drogas, o nordeste de Amaralina. Lá, as crianças de 4 a 5 anos já começam a conviver com a droga.
Você toca numa questão grave. Imagine uma sociedade desestruturada onde tem muita miséria e do outro lado o crime organizado dando certo. É uma bomba e quem tem que fazer a intermediação é o estado, e tudo é pela educação.
Nessa comunidade em que trabalho há mais de 30 anos, a família tem o pai ou a mãe envolvido com drogas e a criança vivendo na miséria. E não tem creche, que é oportunidade de a criança receber amor e uma educação de valor que começa com 3, 4 anos.
Quantas crianças pobres na Bahia têm acesso a creches? Apenas 12%.
Por que abriu mão de uma reeleição certa e sai a governador num partido menor?
Seria muito mais cômodo e facílima a minha reeleição. Eu nunca perdi uma eleição e, como cidadão, acho que tem que estar preparado para isso, seguir o chamamento da vida.
Assim como acho que aconteceu com Marina, que saiu do PT e veio para o PV, e podia ser governadora do seu estado. Faço isso pelo desejo de estar em paz com a consciência.
Eu não me sentiria em paz se fugisse desse desafio. Você nem imagina quantos problemas tenho enfrentado dentro do PV e nem comecei a enfrentar dentro da sociedade.
Quando uma coisa vai acontecer para o bem da humanidade ela tem que enfrentar muita dificuldade e resistência. Se não estiver acontecendo isso, não vai dar certo. Eu oro para que não perca minha energia. Enfrento ondas pesadas e negativas.
Você terá poucos minutos no rádio e TV, além de pouca verba. Por que saiu candidato?
Você fez a pergunta mais importante que já tive. Não temos estrutura, não temos prefeitura nem dinheiro, mas só o fato de termos oportunidade nessa campanha de discutir nossa proposta e dizer que elas são viáveis, me entusiasma muito.
Todos os seres humanos tem que ter igualdade de oportunidade. Então, na política vamos ter tudo pequeno, mas vamos ter oportunidade. A democracia permite isso.
Eu defendo que o tempo de radio e tv devia ser igual para todos, com uma triagem para evitar aventureiros. Mas, enquanto isso, a internet pode fazer a diferença, lá todos tem o mesmo tamanho.
Na Colômbia, o PV estava igual à Marina, estabilizado em 10%. O cara se filiou em setembro e passou o candidato favorito de Oribio, e pode vencer no primeiro turno. Tudo isso se deve à internet.
No Brasil não vai ser ainda dessa vez que a internet vai dar a virada, mas vai ter um piso que nunca teve antes. Diferente das propagandas, a internet prioriza o conteúdo, tem mecanismo democrático e não há falsa propaganda. Essa é a grande vantagem.
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