Opinião
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17.Agosto.2013
Paulo Bicalho, presidente da Fasi
“A meta é o Hospital de Base ser a referência em trauma”
revela o médico Paulo Bicalho, presidente da Fundação Assistência à Saúde de Itabuna (Fasi), entidade que administra o Hospital de Base Luís Eduardo Magalhães.
Ex-secretário de saúde de Itabuna, Bicalho também já foi diretor da Policlinica 2 de Julho e diretor médico da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna.
Em uma entrevista franca ao jornalista Marcel Leal no programa Mesa Pra Dois, na rádio Morena FM (quartas, 15h), Paulo Bicalho falou abertamente da situação que encontrou no Hospital de Base. Confira.
Quando assumiu o Hospital de Base, quais eram os principais problemas?
O Hospital de Base se encontrava com todos os setores sucateados, desde as prateleiras, setor de compras, até o atendimento. Havia uma taxa de permanência de paciente por três ou quatro meses, o que é o irregular. Um paciente com meningite era tratado como o de doença comum.
Assumi o Hospital de Base sem nenhum diretor para me orientar e havia várias irregularidades, inclusive débitos a pagar. A Policia Federal está até concluindo um processo de 2006. Encontrei famílias chorando, havia só três respiradores, outros eram alugados pelas famílias para o paciente.
Teve gente que morreu porque o medico tinha que escolher quem usaria o respirador. A estrutura totalmente acabada, pacientes sem lençóis, remédios, comida nem insumos.
Não se assustou com o tamanho do problema?
Não. Aprendi que é com esses problemas que vamos caminhar. O prefeito me falou que a comunidade precisa do hospital como precisa do quarto para dormir. Isso me tocou muito.
Qual é a situação dos médicos hoje?
Todos os médicos são contratados como pessoa jurídica para efeito de prestação de serviço. Nós tínhamos dois à disposição do estado, que foram para a Policlinica. Fizemos um pacto com os médicos.
Enquanto não regularizarmos todos os contratos e arrumarmos a casa não podemos contratá-los. A emergência tinha atendimento, mas não era plantonista. Em setembro já teremos plantonista.
A ideia é transformar o HBLEM em especialista em trauma?
É a missão do hospital. Temos que fazer tudo de acordo com a necessidade da população. No caso de ortopedia, as clinicas não estão mais operando e a Santa Casa também passa por suas dificuldades. O segundo ponto é a área de neurologia.
A maioria dos casos neurológicos está no HBLEM. Então vamos entrar na alta complexidade da neuro. Fizemos inscrição para um programa urgência / emergência no Ministério da Saúde e a receita do hospital virá destas áreas.
Como se faz para que o paciente seja levado para o lugar certo?
O secretario de saúde vai começar a arrumar a Atenção Básica, que é lá que começa a consulta. Mas vai precisar também de especialista. Temos que arrumar a media complexidade porque o SUS vai atender o trauma com ortopedia.
Mas não podemos deixar a medicina interna. O individuo que está com problemas na barriga, falta de ar, cansaço por problemas cardiovasculares, terá o acesso por lá.
E as metas para este semestre?
O terceiro ponto como meta é passar de 9 leitos de UTI para 27. Já estamos em conversa com o secretário do Estado, Jorge Solla e o prefeito Claudevane Leite já tinha determinado que temos que fazer isso o quanto antes, e já temos espaço.
Quando terminarmos o pronto socorro, vamos começar a arrumar mais leitos da medicina interna, para a ortopedia, o pós-operatório e neurologia. Assim ficaremos com três UTIS e 27 leitos.
Aquele prédio inacabado que seria o centro de convenções não poderia ser anexo do HB?
Estamos tratando o HBELM como hospital universitário e precisamos trabalhar nisso para demonstrar que temos condições, até pela chegada da Ufesba.
Somos referencia na área de ensino e o prédio onde funcionaria o Centro de Convenções está apto para acrescentar um setor de treinamento ou uma clinica, com a sua conclusão.
Como estão os salários e a receita?
Um pacto que fizemos foi deixar o salario em dia. Os recursos são os mesmo de antes, de R$ 1,5 milhão e a prefeitura com R$ 300 mil. No acordo salarial tivemos 8% para os funcionários, os médicos já ficaram com 12,5% do acordo e os medicamentos recebem 31%.
A folha representa 89% da receita. A necessidade do hospital é de R$ 3 milhões e, se chegar isso, vamos ter 50% comprometido com a folha.
E como o HB faz para ir avançando sem verba?
Tivemos poltronas entregues e reformadas pela Padim. A Unime doou cadeiras de rodas, outra faculdade doou computadores. Só tinham dois da gestão passada, hoje são 14, endereçados para a emergência. Cada dia estamos matando “um gatinho”. Já temos respiradores funcionando plenamente e hoje precisamos trocar o telhado todo do hospital. É uma enxurrada só...
Como foi a decisão de peitar uma multinacional do oxigênio?
Todas as decisões passaram pelo prefeito e não é só com oxigênio. A empresa que repassava o oxigênio já estava há oito anos sem receber. São R$ 3 milhões de divida que não podem ser pagas.
De janeiro a julho, pagamos judicialmente o que compramos neste ano, um gasto de R$ 110 mil por mês. O oxigênio hoje é considerado remédio, por isso é regulado pela Anvisa.
Identificamos duas empresas autorizadas e a que ganhou, de Mato Grosso, nos aluga o equipamento enquanto não podemos comprá-lo. Ela cuida do transporte, seguro, manutenção e garantia da pureza, tudo por R$ 25 mil mensais. É uma economia que vai para outras áreas.
Qual é o futuro do Hospital de Base?
O desenho dele é para traumatologia, mas quando acontece um trauma de acidente, neuro e vascular, temos que pensar na cirurgia. É essa área que vamos direcionar para o hospital, além dos casos de pacientes com derrames e tumores.
Para a medicina interna vamos ampliar os leitos da UTI, que é a grande necessidade da região. Ai vem a possibilidade do hospital fazer bem o serviço e deixar que outros atendam suas especialidades. Mas ele também pode crescer para outras especialidades.
Outra questão é o atendimento ao paciente em casa. São aqueles mais vulneráveis a infecção. Eles não podem esperar muito tempo enquanto aguardam os exames e após operar temos que devolvê-los para a fisioterapia.
Por sermos alta complexidade, temos que ter na cidade outros locais para dar prosseguimento ao tratamento. Tem que ser um local de fácil acesso e de boa visibilidade. Isso é o crescimento do hospital para fora. Não temos cirurgia eletiva, mas estamos fazendo.
Hoje temos 360 cirurgias mês e não estamos na plena ainda.
O que você acha do projeto “Mais médicos”?
O que se precisa hoje é que se formem serviços de apoio em polos pelo estado. Assim, um médico vai para um município pequeno, mas sabe que a 15 km dali pode pedir um raio x, um exame.
Isso poderia ser distribuído em cada estado como projeto piloto. Senão os profissionais que vão para as cidades pequenas daqui a pouco, como não terá fiscalização, estarão lotados lá mas exercendo a atividade em outros locais.
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