Opinião
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19.Outubro.2013
Charles e Cida, produtores musicais
“Poucas empresas prestigiam o artista regional”
afirma Cida Lisboa que, ao lado de Charles Williams, toca o Studio Brown, um dos mais conceituados da Bahia. Cida faz locução e compõe, Charles é exímio instrumentista e produtor.
Pelo Studio Brown passaram e continuam passando novos e bons talentos da música baiana, em especial do sul da Bahia. Mas eles fazem trabalhos para clientes de outros estados e até países.
Os dois bateram um papo sobre música e cultura no programa Mesa Pra 2, da rádio Morena FM, apresentado ao vivo às quartas-feiras, sempre às 15 horas, por Marcel Leal.
Três itabunenses fazem sucesso na França, no Concurso Internacional de Arte Dramática: Marcelo Rosário, Ana Morgano e Gabriel Rosário. Se buscassem patrocínio aqui, teriam?
Cida – O valor do artista regional começa pelo trabalho e o empresário. Dá uma tristeza grande quando anunciam artista de fora com estardalhaço e o da região nem sequer o nome.
Eles são tão bons quanto e não ganham o espaço e a estrutura que merecem. Quando vai lá fora, faz sucesso e volta, é outra história. Aqui poucas empresas prestigiam o artista regional.
Artistas como Osvaldinho Mil e Jackson Costa, do teatro, precisaram sair da região para ser “vistos”
Cida – Os artistas de fora se impressionam com o talento que temos aqui. Fizemos uma produção de Max Gonzaga e ele fez questão da presença do artista local. Caetano Veloso também valoriza o artista grapiuna.
Fora os já conhecidos, quem está aparecendo de novo no cenário e como chegaram a voces?
Cida – Pela internet. Brena Gonçalves, por exemplo, disse que queria fazer um trabalho bem simples, mas quando vi, fiquei impressionada, ajudamos na gravação, arranjo e divulgação.
Charles - Às vezes chega um cantor até sem letra, sem noção. E nem sempre aquele arranjo faz parte do estilo que ele quer gravar. No Brasil, existem muitos músicos autodidatas e para eles é impossível conceber um CD fora do estúdio. Por isso ensaia lá mesmo, experimentando. Às vezes tem até que mudar o tom.
Ari PB teve que mudar o tom quando Filemon morreu e veio outro sanfoneiro...
Charles – É a questão de transferir o tom. Pois quando altera o tom altera tudo. No violão tem mais facilidade, mas no teclado ou acordeon é diferente.
Tem gente que grava do jeito que o Led Zeppelin dizia que tem que gravar. Toca ao vivo, tudo junto. É comum aqui?
Cida - É preciso ter um entrosamento muito grande e aqui as bandas trocam muito de músicos. É a lei da sobrevivência também. Ser cantor é muito difícil e nem sempre você toca com os mesmos músicos. Às vezes é bico.
Fabiano Carillo é um interprete, instrumentista e compositor maravilhoso, completo, mas faz “bico” de advogado (risos)
Cida – Às vezes o cara tem outra profissão e é um excelente cantor. Fabiano é muito simpático, e tem um relacionamento muito bom com os outros artistas. Ele é muito bacana.
Não precisa dar nomes, mas chega muita gente complicada no estúdio?
Cida – Tem gente complicada, engraçada. Tem aquele que diz “nossa ficou lindo” e a gravação nem está pronta ainda; outros acham que nunca fica bom. Uma dica é, quando for gravar, não levar namorada, irmã, seja lá quem for. Atrapalha e compromete o trabalho. Tem coisa engraçada também na gravação de jingles.
Cida, você ficou famosa com uma propaganda. Como surgiu esse trabalho?
Cida – recebi a encomenda da Luc Service e queria fazer um diferencial. Criei a “Dona Mara” conversando com o “chefinho”, que é o Charles. Fiquei impressionada com o sucesso, todos conhecem. As pessoas ligam para a empresa querendo saber se Dona Mara trabalha lá... (risos)
Já teve no estúdio um super gênio arrogante, que se acha?
Charles – Já sim. Teve um que foi fazer um jingle politico e era plágio de Zezé de Camargo e Luciano. Ele tocava teclado, mas... conte aí Cida.
Cida – Ele disse que sabia tocar, mas tocava só com um dedo de cada mão! Mostrou uma música para Charles e perguntou “voce sabe tocar?” Charles mudou tudo, fez o arranjo e tocou, com todos os dedos (risos). Ele ficou impressionado. O cara queria cobrar do cliente um teclado de R$ 7 mil. Então Charles podia cobrar um carro (risos).
E que história é essa de “tv no Bar”?
Cida – Uma coisa que acho absurda, colocar um artista para tocar embaixo de uma tv. Tudo bem se ela estiver desligada. Mas ligam num jogo, por exemplo. É muito desrespeito. O certo seria ninguém tocar. Mas falta união entre eles. Se um se recusar, outro vai ficar louco para ocupar o lugar.
Voltando ao pessoal novo que está chegando...
Cida - Tem Diogo Schaun, de Camacã, que quer fazer o trabalho em Itabuna. Tem João Paulo, Patrícia Bross, que está em São Paulo; Roque Luy, que canta divinamente; tem a menina de 16 anos Adriely Paula, que compõe e canta bem.
Tem a Natália Roux, Salsalada, que é muito bacana e foi você quem batizou, Pagodence, Di Mala i Cuia, uma banda muito gostosa de forró; Manzuá...
Voce acha que falta na região grandes eventos de musica? Eu fiz 15 eventos do Troféu Jupará, mas é complicado fazer, por falta de patrocínio. Teve outros festivais...
Cida - Eu gostaria de fazer um trabalho conscientizando o empresário. E de gratidão dos artistas aos locutores, a emissoras como a Morena FM, que toca e valoriza o artista regional. Outras não tocam. Existe rádio que coloca o artista de graça em um evento dela, mas não toca. É muito triste.
Charles - Isso estraga a parte cultural, não existe compromisso com a musica grapiuna.
Cida – E tem a parte pior. Tem o artista que, depois de receber todo o apoio e patrocínio, dá obrigado a fulano e sicrano que não tiveram nada a ver com o trabalho nem apoiaram.
Tem empresários que adoram a musica do artista local, mas não patrocinam. Nem precisa patrocinar o show, pode patrocinar uma gravação...
Cida - Isso dá retorno. Pode ser patrocínio até de iluminação. Eles saem ganhando muito com isso. E agora vai ter também a lei sobre o comerciante ter desconto no imposto por meio de patrocínio.
Falta produtor e empresário de artista na região?
Charles – Nós comentamos muito sobre isso no estúdio. Existe o produtor musical, o artístico e o musical, que as pessoas confundem. Aí acaba com a carreira, porque vai pelo lado sentimental.
Cida – Temos que continuar apoiando, divulgando a cultura, temos condições para isso, e o artista também deve ter gratidão, saber plantar para saber colher.
Tem algum recado final?
Charles – Eu agradeço infinitamente à Morena FM, pelo grande apoio que dá ao artista grapiuna. A gente sabe que o artista enfrenta dificuldades, mas encontra apoio e abertura aqui na emissora.
Quero dizer a todos os artistas que procurem aprender, se especializar e estar sempre perto de quem sabe mais alguma coisa. Além disso, tem que respeitar o outro músico e elevar a região em que vive.
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