Opinião
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TheBigDoor.com
1 de Novembro de 2003
"A comunidade não aceita mais desculpas para a insegurança"
afirma o coordenador do Fórum Permanente de Segurança Pública em Itabuna, o professor Eduardo Dourado.
Ele diz ser muito triste que só haja lamentações de todos os lados, da polícia que alega falta de agentes, veículos e gasolina; da Justiça que diz não ter pessoal suficiente e da população que reclama de que não tem a quem recorrer.
Para o professor Dourado, muitas medidas simples que ajudariam a coibir a violência deixam ser adotadas porque as pessoas só estão se preocupando em lamentar. "Ações como evitar lâmpadas queimadas em áreas deserta. Se há iluminação o marginal vai ter um pouco de receio para atacar suas vítimas, por exemplo".
Ele acredita que a violência tem crescido também por causa da guerra travada entre os governantes. "O que acompanhamos é que a todo momento há essa briga. Se o PT está no poder os adversários só fazem criticas, quando os adversários assumem o governo a situação é inversa. Então falta união para resolver não só o problema da segurança, mas em outros setores. Enquanto isso, a população sofre as conseqüências", avalia.
A Região - Quais os objetivos do Fórum Permanente de Segurança Pública?
Edmundo Dourado - O Fórum é uma iniciativa do Grupo de Ação Comunitária de Itabuna (GAC), que congrega as entidades do município. Destaco que a cada momento a entidade elege uma prioridade. A deste momento é a segurança pública no município. Porque a situação da violência chegou a tal ponto que as pessoas saem para a rua sem saber se voltam para casa. Viramos reféns da onda de assaltos, seqüestros e outros tipos de crime que não aconteciam até outro dia.
AR - É por isso que quem tem condições financeiras está cuidando da própria segurança.
ED - É verdade. As pessoas estão construindo o muro cada vez mais alto, colocando cerca eletrificada para proteger suas famílias. Só que o processo vem tendo o efeito contrário. Enquanto as pessoas estão presas nas suas próprias casas os marginais estão soltos nas ruas.
AR - Mas chegou a esse ponto por causa da omissão das autoridades...
ED - É claro que existe a omissão das autoridades. Mas a comunidade não tem cobrado mais segurança. Então estamos tendo a nossa parcela de culpa nessa explosão de violência em Itabuna.
AR - A primeira medida concreta do Fórum Permanente foi a reunião do sábado, dia 1º, com a participação das autoridades. Quais as alternativas apontadas?
ED - Nós estivemos analisando com as autoridades as causas cruciais que provocam essa insegurança. Nos colocamos à disposição das autoridades para colaborar na elaboração de um plano para amenizar a violência. Esse encontro foi marcado pelo debate entre a comunidade e as autoridades na tentativa de encontrar uma alternativa para a questão da violência. E também foi a oportunidade de dizer para as autoridades que não aceitamos mais as desculpas de que faltam policiais, agentes e que o número de funcionários na Justiça é insuficiente. Queremos solução a curto e longo prazo.
AR - Por causa dessas desculpas as pessoas estão deixando de denunciar por medo de retaliação ou pelas péssimas condições de trabalho das autoridades e a pouca vontade política. Como o senhor avalia essa situação?
ED - Do jeito que está aí é uma temeridade a pessoa sozinha fazer uma denúncia. Mas se nos unirmos e formos para a rua cobrar segurança, a tendência é de que as coisas comecem a melhorar. Os bandidos não vão poder mexer com milhares. Eles iriam agredir e matar todo mundo? O que está acontecendo nas comunidades é que não estamos exercendo os nossos direitos. Cada uma está vivendo isoladamente e achando que sozinha poderá resolver tudo.
AR - E essas desculpas que as autoridades sempre dão para justificar a onda de violência?
ED - Entendemos que não é mentira o que a polícia e a Justiça alegam. Acreditamos sim que eles tenham dificuldades de pessoal, de verbas, de condições técnicas, etc, mas não podemos nos acomodar e ficar ouvindo isso todos os dias como se não fosse possível haver uma solução. Então queremos saber se realmente não existe solução. Se as autoridades disserem que não há alternativas é melhor fechar as portas dos organismos e abandonar a cidade. Acreditamos que existem soluções sim, por isso vamos pressionar e colaborar no que for necessário.
AR - Não estaria faltando vontade política para evitar o avanço da violência? A Casa de Detenção está abandonada.
ED - A Cadeia Pública de Itabuna é uma vergonha. Não entendo porque o estado ainda não construiu um presídio no município ou ao menos realizou uma melhoria na Casa de Detenção. Seria falta de dinheiro? Não acredito nisso.
AR - De certa forma isso contribui para a insegurança em Itabuna...
ED - A Cadeia de Itabuna é uma fábrica de marginais, uma desumanidade com o pessoal que está lá dentro. Aquilo não oferece segurança nenhuma, falta água potável para os detentos, não há esgoto nem banheiros, etc. Eu faço uma pergunta: quem é vai me convencer que o estado não tem dinheiro para construir uma cadeia pública? O que falta é querer fazer.
AR - Quanto à passeata programada para esta 2º feira. Onde vai ser a concentração e a que horas começa?
ED - Estaremos reunidos a partir das 15 horas no Jardim do Ó e, em seguida, sairemos, por volta das 16 horas, calados pela Avenida do Cinqüentenário. Queremos reunir uma multidão para mostrar aos marginais que a comunidade é a maioria e que eles não podem com a gente. Essa passeata é para mostrar ao governador que a população não aceita os desmandos da segurança pública em Itabuna.
AR - Quais são os próximos passos após a passeata?
ED - Primeiro esperamos reunir os estudantes, donas-de-casa, professores, trabalhadores em outros segmentos, enfim, todos as pessoas estão preocupadas com a segurança. Nessa passeata contaremos ainda com o apoio das igrejas de Itabuna. Neste final de semana os padres e pastores estarão mobilizando a comunidade cristã para a passeata desta segunda-feira, 3. Quanto aos próximos passos do movimento a comunidade é quem vai definir.
AR - Todos terão que ir vestidos de branco?
ED - O importante é que as pessoas compareçam, independente da cor da roupa, religião, se estudante, trabalhador ou não. Queremos é um movimento forte pela paz, contra os bandidos. O nosso objetivo maior é mostrar para as autoridades que estamos insatisfeitos com a segurança na nossa cidade. É bom lembrar que não vamos protestar contra a violência. A manifestação é pela paz. Durante a caminhada, faremos lembrar da paz de várias maneiras.
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