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7.Dezembro.2013




Daniel Thame, jornalista e escritor


“Muita gente aqui se leva a sério demais, em Itabuna”
daniel thame afirma o jornalista Daniel Thame, um paulista que se encantou com o sul da Bahia e fez parte da história do jornalismo local. Ele se referia às reações de alguns “imortais” em relação à Alambique, uma brincadeira que acabou crescendo.
      Mas a história de Thame não está restrita à academia. Ela abrange anos de bom jornalismo investigativo no jornal A Região, onde foi editor, a montagem do jornalismo da TV Cabrália, viagens a Cuba e sua mais recente atividade, de escritor.
      Daniel Thame bateu um papo agradável com Marcel Leal no programa Mesa Pra 2 (quartas, 15h) desta semana, na rádio Morena FM. Confira a conversa.

Como surgiu essa ideia da Alambique?
       Itabuna passou a vida toda sem nenhuma academia e, de repente, ganhou três. Como a Agral não podia ter dois presidentes, o que queria ser fundou a Alita e, como foi pouco, fundaram uma de letras jurídicas, uma de letras maçônicas e se fosse em outros tempos fundariam uma de letras de câmbio.
      Ai pensei em fundar uma, achando que é fácil ser imortal. Criamos a marca da academia de letras Alambique, que juntou literatura, artes, música, birita, inutilidades, quimeras, utopias e acrescentei um etc., que resultou na Alambique.

Qual foi a reação das outras?
       O pessoal da Agral achava que eu estava ironizando. Começamos a fazer reuniões denominadas de imortalcoolização, assim mesmo, com o copo de cachaça na mão. E a brincadeira se tornou séria. Estamos pensando em fazer duas festas no final desse ano, no ABC da Noite.
      Uma para comemorar o aniversário de Caboclo Alencar e outra no carnaval. Também estamos pensando em homenagear Dedé do Amendoim, que completa 30 anos de venda do produto.

Tem gente que se leva muito a sério...
       É, as pessoas se levam a serio demais e se acham mais do que os outros. Esquecem que todos serão comidos pelo mesmo verme.
      Adorei sua coluna da semana passada, onde você fala sobre a morte, o trabalho demais, o esquecer de viver. Geralmente eu guardo minhas sextas-feiras para as reuniões da Alambique, que começa no ABC e termina no Sheik. O importante é que tomamos cerveja e eu aproveito para fumar meu charuto cubano.

Você fez várias matérias para o jornal A Região, todas muito bacanas, mostrando o dia a dia de Cuba. Como é o país para o visitante?
       As pessoas conhecem Havana velha, que é muito bonita. O turista não precisa seguir um roteiro, vão para Varadero, onde existem praias e escunas maravilhosas, viajam em ônibus com ar condicionado. Os hotéis tem suas cabanas de praias, mas não tem nenhum vendedor na praia.
      Para o turista é muito bom, os hotéis são baratos. Dá para ficar em um cinco estrelas sem gastar muito. Um pacote de uma semana em Havana sai na faixa de R$ 3mil. Visitei vários bares e uma fábrica de charutos. Como sou apaixonado, é como o católico ir à igreja.

Como é o povo cubano?
       É um povo alegre, conversa muito e eu como jornalista gosto muito de conversar. Há muita dificuldade financeira para todos por lá. Na primeira vez que fui vi o pessoal comendo raiz. Era fome para o povo todo, uma fome socializada. Em dois anos, entre 89 e 93, os milionários viraram pobres e os pobres viraram paupérrimos.

Que imagem eles tem do Brasil?
       As novelas da Globo. O país para quando assiste as novelas globais. Me confundiram até com Antônio Fagundes. Como não me levo a sério, achei até brincadeira. No hotel, um cubano sacana sugeriu que eu desse autografo falso (risos)

E as praias são boas?
       Sim, muito boas e lembram nossas praias de Ilhéus, Valença, Marau. Cuba tem muita história, muita cultura, teatro, e cada dia tem uma opção diferente. A comida é boa e em qualquer boteco que se chega tem gente tocando. Para quem gosta de cultura é fantástico. Havana velha é incrível.

Você começou no Jornalismo em São Paulo e depois no sul da Bahia. Como começou os livros?
       Cheguei em Itabuna e fui abraçado por Manoel Leal. Devo muito a ele, uma pessoa espetacular e ele seria um co-fundadador da Alambique. No A Região e na TV Cabrália acompanhei a questão da vassoura de bruxa.
      Conheci muitos escritores aqui e me perguntei se ninguém iria escrever sobre a vassoura de bruxa. Sempre achei que a doença era o apocalipse.
      Ai peguei a bíblia desde o inicio e comecei a escrever as primeiras paginas sobre a doença que dizimou o sul da Bahia. Livro é diferente de jornal, escrevi um capitulo, fui adiante e quando cheguei ao capítulo 15 tive a certeza que seria um livro bom.

E a publicação?
       Procurei Gasparetto e ai surgiu o livro. Achei bom, virei mascate, pois viver de literatura não rende. O fato é que o livro chegou à 5ª edição e está em algumas editoras. Depois da vassoura de bruxa comecei a me empolgar.
      A principio, achei que era descartável, mas é um livro bom. No centenário de Jorge Amado, pensei em escrever sobre ele. Procurei a família, mas houve resistência.
      Peguei vários romances de Jorge e fiz um livro. A família Amado me disse que se eu publicasse iria me processar. Depois veio o neto de Jorge, o João Amado Neto, e pediu para eu fazer o livro, depois que perguntou a varias pessoas. Ele disse que eu era um cara sério e respondi que era sério desde que procurei a família Amado.

Esse vendeu mais, já que tinha o centenário?
       Fiz uma tiragem expressiva, mas não vivo de livro não vou viver, pois não daria nem para comprar charuto de macumba, quanto mais o cubano que adoro. Esse livro eu distribuo nas cidades que visito. Ai vieram outros livros. O da Vassoura de Bruxa é o serio.
      Fiz um para me divertir, o da Mulher do Lobisomem, e o de Jorge Amado. E tem o outro que estou fazendo, o Manual da Baixo Ajuda, um livrinho de bolso, onde faço brincadeira gostosa com o manual de autoajuda.

Vamos falar do futebol, que você comentava na Cabrália. Voce também acha que o nacional está atrasado?
       Uns 20 anos, apesar da nossa seleção estar boa. Ainda produzimos os melhores jogadores, embora não tenhamos ainda um do nível do Messi. Nossos jogadores jogam muito bem lá fora, mas aqui se joga atrás, com três zagueiros e seis volantes.
      Temos aí um Fred, um Fabiano, um Hernani e somos o único futebol do mundo que temos um centroavante estilo antigo. Neymar no Barcelona está jogando na esquerda, diferente do Brasil, onde ele joga no centro. Temos Daniel Alves, David Luis, Marcelo, Diego.
      Mas não temos um centroavante moderno para a Copa 2014.

Quais as chances na Copa?
       Friamente, admitimos que tecnicamente Alemanha, Argentina e Espanha estão melhor que o Brasil. A vantagem é que temos a melhor defesa do mundo, com Daniel Alves, Marcelo, Tiago e Davi Luis. A defesa da Argentina é ruim, a da Espanha tem defesa manjada. Mas acho que vamos ter uma grande copa do mundo, com grandes jogos.

Você tem preferência por adversário do Brasil?
       O melhor para a FIFA, o melhor para o mundo, é o Brasil ir para a final. O Brasil é favorito, não que tenha o melhor jogo do mundo. Será uma grande festa, uma grande copa. Teremos bons jogadores atuando e só de goleiros são cinco.
      Será a copa da tecnologia, será transmitida até por celular. A Fifa não vai conseguir segurar a transmissão exclusiva, pois o celular vai transmitir em tempo real.
      Quero aproveitar aqui, Marcel, para homenagear a Rádio Morena pelos seus 26 anos neste mês de dezembro. Parabenizo você pelo pioneirismo, pois você poderia ter feito uma rádio a toque de caixa e ganhar um bom dinheiro.
      Ao invés disso você colocou uma rádio top de linha, pois o caminho tortuoso é mais difícil, mas é muito mais gratificante. Eu sempre homenageio o Jornal A Região também pelo pioneirismo e que me acolheu quando cheguei aqui, assim como a Rádio Morena e também a TV Cabrália.

Por sinal, foi a Cabrália e a Morena que organizaram o mercado publicitário
       Por isso é preciso que se valorize mais as pessoas que criaram e inovaram, pois daqui a cem anos elas ainda têm história pra contar. É preciso homenagear as pessoas em vida. Quando morre, ninguém precisa de homenagem.
      Nessa cidade existem 10 a 15 sonhadores, gente teimosa, outros que lançam projetos bons e a maioria torce contra. É um prazer estar aqui e mantenha A Região, a Morena FM, pois são o bom combate, como o de Manoel Leal.
      Não estamos aqui por acaso. Brinco com minha mulher para, quando eu morrer, ela colocar duas caixas de charutos cubanos e cerveja do lado, porque não podemos voltar para buscar essas coisas e sei que a gente vai encontrar os amigos lá no céu.

 

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