Opinião
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30 de setembro de 2006
Edson Dantas, presidente da Câmara de Itabuna
"Vamos investigar o destino de R$ 7 milhões"
afirma o presidente da Câmara de Itabuna de Vereadores, Edson Dantas, que já tem as assinaturas para instalar a Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar as denúncias de irregularidades na Saúde.
A apuração dos indícios de desvio de dinheiro da saúde em Itabuna, ainda não começou por causa do período eleitoral. "Mas assim que passarem as eleições, a CEI será instalada. Ela não foi criada antes para que não fosse alegada motivação política".
Edson Dantas também fala de sua preocupação sobre as ameaças do prefeito contra a Santa Casa de Misericórdia, que teve de fechar o Pronto Socorro do Calixto Midlej Filho.
A Região - Como o senhor avalia a saúde em Itabuna?
Se observa que os postos de saúde não funcionam adequadamente, os médicos e os demais funcionários são mal remunerados. Além de baixos rendimentos, os servidores não têm um plano de cargos e salários, enfim, uma insatisfação geral.
AR - Mas não é só isso que deixa o atendimento tão ruim.
Também a falta de administração dos recursos repassados para a saúde. O Hospital São Lucas está ameaçando fechar as portas, o Hospital de Base pode ter o oxigênio suspenso por causa de dívidas com o fornecedor e a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna vem travando um embate com o prefeito. A instituição está sendo penalizada por uma situação em que é absolutamente isenta. O problema ocorre por uma série de fatores.
AR - O senhor pode citar alguns desses fatores?
Um deles é que a tabela do SUS está defasada, sem reajuste há cerca de 15 anos. Outro, ao tudo indica, é a má gestão dos recursos. Por isso, logo depois das eleições, para que não sejam alegadas brigas políticas, pretendemos fazer uma auditoria para saber o que está sendo feito com os recursos que o Ministério da Saúde repassa mensalmente para Itabuna, quase R$ 7 milhões. Itabuna recebe mais recursos do SUS que Feira de Santana e Vitória da Conquista.
AR - Então Itabuna só recebe menos recursos que Salvador?
Exatamente. Itabuna é o município do interior que recebe mais recursos não só para atendimento hospitalar, mas também para manutenção de programas como Saúde da Família, agentes comunitários e DST/Aids.
AR - Voltando à Santa Casa. O PS foi fechado por que?
A instituição fechou o PS por absoluta falta de condições de mantê-lo sem ajuda do município. As unidades de pronto socorro do Calixto Midlej e Manoel Novais dão prejuízos de cerca de R$ 180 mil mensais. Não é verdade quando se afirma que o problema é gerencial. O PS do Hospital de Base dá prejuízo de R$ 400 mil mensais. O que não pode é o prefeito querer punir a Santa Casa e falar publicamente que não vai liberar verba.
AR - A alegação é que a Santa Casa tomou a decisão sem comunicar à prefeitura.
Era de conhecimento da Prefeitura a situação do Pronto Socorro, pois o contrato entre o município e a Santa Casa venceu desde abril. Sem ajuda da prefeitura, a instituição decidiu cortar a mão para não cortar o pescoço. A Santa Casa teria problemas maiores se o PS não fosse fechado.
AR - O que poderia ser feito para melhorar o atendimento na saúde de Itabuna?
A curto prazo deve-se reabrir o Pronto Socorro do Calixto. Em Itabuna entra e sai prefeito que não compreende o que é municipalização da saúde. A municipalização traz a solução do problema para próximo do individuo, através do Conselho Municipal de Saúde, que diz o que é prioridade. Nem o prefeito anterior nem o atual entenderam isso.
AR - Por que muita gente ainda recorre ao posto de saúde e aos hospitais?
Porque programas como o Saúde da Família não estão funcionando. As pessoas praticamente não estão tendo a saúde preventiva. Além disso, tem os agentes comunitários desmotivados, sem plano de cargos de salários. Sabemos que as pessoas estão tendo dificuldade para obter atendimento básico e precisamos saber para onde está indo o dinheiro.
AR - O senhor diria que a verba para saúde em Itabuna está mal gerenciada?
O fato é que nos postos estão faltando medicamentos básicos. Isso foi constatado em visitas que fizemos. Nesse período de política, parece que está ainda pior pois, à "boca pequena" fala-se que os recursos da saúde estão sendo usados na política.
AR - Quando começam as investigações?
Para que não seja alegada conotação política, vamos começar os trabalhos depois das eleições. Mas já temos assinaturas garantidas para a abertura da Comissão Especial de Inquérito (CEI).
AR - Pesquisa mostra que 66% dos itabunenses reclamam da saúde.
E tem motivos. Hoje, para ter acesso a uma consulta especializada se demora 30 dias. Para um ultra-som, até 50 dias, o que prejudica principalmente as mulheres grávidas, que têm que passar pelo procedimento quatro vezes durante a gestação. Elas não têm conseguido nem duas em nove meses. O exame de laboratório é difícil de conseguir, quando não é trocado.
AR - Por que ocorre toda essa confusão?
Um dos fatores é a falta de concurso público. Isso possibilita que os servidores se capacitem e não sejam demitidos a cada troca de prefeito. Essa constante troca de servidores prejudica a população, porque são contratadas pessoas sem nenhuma experiência.
AR - Como aumentar os recursos para o Hospital de Base?
Vontade política. O prefeito não diz que tem prestígio político junto ao governo do estado? É só procurar o estado e pedir para aumentar a classificação do hospital para "trauma dois". Com a mudança, o governo federal dobraria o valor da verba. Não consigo entender porque o prefeito, que alega ter prestígio com o governador, não consegue esta classificação.
AR - Caso seja eleito deputado, quais serão suas principais bandeiras?
Primeiro temos que fazer um bloco parlamentar que tenha preocupação com a região. O principal problema hoje é a queda da safra do cacau por causa da vassoura-de-bruxa e o sucateamento da Ceplac. Temos que fortalecer a Ceplac, conseguir dinheiro novo para o fazendeiro e tentar o perdão das dívidas com o governo.
AR - O senhor diria que a Ceplac foi partidarizada?
Sim. Vou defender a autonomia da Ceplac e lutar por mais recursos para que ela desenvolva projetos e pesquisas para aumentar a produção. Também defendo a criação da Universidade Federal do Sul e Extremo da Bahia na região cacaueira e investimentos em infra-estrutura nos municípios regionais.
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