Opinião
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5.Novembro.2011
Fausto Pinheiro, cacauicultor
"Trago a minha indignação pessoal e de lideranças"
diz Fausto Pinheiro, que condena a volta das velhas práticas na Ceplac - Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira- e destaca que os produtores de cacau tiveram mais conquistas no período em que o órgão federal foi mais técnico do que político.
Com autoridade de quem presidiu, por seis anos, a Câmara Setorial do Cacau e que participou das principais negociações em favor do produtor e da Ceplac, Fausto Pinheiro afirma que a saída de um técnico para entrada de um político na superintendência do órgão é um retrocesso.
Fausto Pinheiro não cita nomes, mas quando fala da troca de um técnico por um político refere-se à substituição do fiscal federal agropecuário Antônio Zózimo de Matos Costa, funcionário de carreira, pelo político Juvenal Maynart, afilhado do ex-deputado Geddel Vieira Lima.
A mudança ocorreu no dia 31 de outubro enquanto o diretor-geral da Ceplac, Jay Wallace Mota estava de férias na Europa. A seguir, a entrevista com Fausto, que também é fundador da Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia, em Ilhéus.
Como o senhor avalia essa mudança na Ceplac?
É um retrocesso e a minha indignação parte de um processo muito anterior. A verdade que é a Ceplac vivenciou no passado uma situação que está acontecendo hoje. Mas, felizmente, para a saúde institucional do órgão e para os produtores e servidores, isso parou por um tempo.
Nesse período o profissionalismo prevaleceu. Quais os benefícios?
O que aconteceu como consequências do período em que a Ceplac passou a ser mais técnica que política foi a conquista de muitos resultados favoráveis. Posso citar inúmeros avanços porque presidi uma Câmara Setorial que tratou do cacau durante seis anos. Era um fórum com 26 representantes.
Pode citar?
Hoje a região cacaueira não é mais uma mera produtora de matéria prima. O sul da Bahia já demonstra uma aptidão agroindustrial, com instalações de cinco unidades de processamento de amêndoas aqui e fora da Bahia, porque a cultura do cacau é tratada como um dos principais produtos do Brasil.
Isso resultou em que?
No novo conceito de qualidade do produto no mercado internacional. Nos últimos anos participamos de três feiras internacionais em Paris, França (Salon du Chocolat). Isso fez com que o governo do estado lutasse para trazer o evento. O salão do chocolate será realizado na Bahia no próximo ano. Será o primeiro produtor de cacau a sediar o evento, em julho, no Centro de Convenções de Salvador.
E os benefícios diretos para os cacauicultores?
A lavoura vinha sofrendo há quase 20 anos com a falta de solução para a dívida. Mas no período em que a Ceplac teve uma direção mais técnica que política conseguimos contemplar, até o momento, 90% dos produtores, além de assegurar novos financiamentos com dinheiro barato e prazo longo.
E o restante dos produtores?
Outros 10% dos contratos, que se referem ao Pesa - o programa de securitização da dívida- estão em fase de negociação com o Banco do Nordeste.
Que outra ação concreta do período técnico foi efetivada?
O processo de institucionalização da Ceplac foi uma conquista desse período. No primeiro momento, houve muita dificuldade porque não conseguimos fazer o projeto sair da Casa Civil e do Ministério do Planejamento para o Legislativo. Mas finalmente foi encaminhado para a Câmara dos Deputados e hoje aguardamos a indicação dos dois relatores.
Como conseguiram tantas conquistas em tão pouco tempo?
Isso ocorreu por tivemos liberdade e união. Foi um movimento organizado em bloco, tivemos a oportunidade de agir junto com o diretor-geral da Ceplac, que participou ativamente de todas as iniciativas da Câmara Setorial, ajudando com sua infraestrutura. Participou porque entendia que estávamos no caminho certo.
Por isso houve agilidade?
Sim. E muitos acertos na condução das ações. Acertamos porque a Ceplac caminhava tecnicamente, sem grande ingerência política, e agora essas intervenções voltam a ocorrer com um agravante, a descortesia, porque a mudança foi sem conhecimento do diretor-geral, que estava em férias. Lá da Inglaterra recebe a notícia de que o superintendente está sendo substituído por um político.
O que a Ceplac precisa?
Percebo que a Ceplac como está hoje não aguenta mais esse tipo de interferência, de ingerência política. Ela precisa ser institucionalizada, realizar concursos para contratar profissionais graduados, mestres e doutores. Esse pessoal mais antigo, que mostrou amor pela instituição, pode transferir a inteligência para os novos. Há um pessoal que durante 30 anos evoluiu junto com o órgão e merece respeito.
Perece que a revolta contra as velhas práticas não é só sua
Não é mesmo. Trago a minha indignação pessoal e de várias lideranças regionais, produtores e deputados ligados à lavoura cacaueira.
Não cabe mais ingerência política na Ceplac?
A política é importante e precisa acontecer. O que ela não pode é sobrepor-se aos interesses da Ceplac, a ponto de desestabilizar toda uma estrutura com indicação de uma pessoa sem o conhecimento de sua diretoria. A Ceplac é uma empresa, que tem uma hierarquia e precisa ser respeitada.
Quais as conquistas mais importantes no período da Ceplac mais técnica?
O plano de cargos e salários dos funcionários, institucionalização muito bem encaminhada e o avanço da negociação para contratar novos servidores através de concurso. Todo é resultado do empenho da Associação dos Produtores de Cacau, do governador Wagner, do Secretário Estadual da Agricultura, de produtores, de meu esforço. De repente vem um partido e interfere em um trabalho que dá certo.
Isso não ocorre em órgãos como a Embrapa...
A Embrapa praticamente não sofre interferência política. Esse é um dos motivos que a faz ser uma empresa tão respeitada e organizada. Por que a Ceplac não pode seguir o mesmo caminho? Penso que ela deveria continuar com a sua diretoria técnica até a institucionalização.
Quais são os riscos atuais da Ceplac?
A Ceplac pode encerrar suas atividades caso não seja renovada, institucionalizada. Os produtores da região não querem, não aceitam e são contra esse tipo de ação política. Eu não tenho filiação partidária. Estou aqui como liderança regional e acredito que a Ceplac precisa ser como produtores e a sociedade pensam.
Mas as mudanças não vão parar na troca do superintendente.
Não tenho informações sobre outras mudanças. Tudo sobre outras trocas não passa de especulações. O que posso afirmar é que o diretor-geral, Jay Wallace, é altamente instruído e da maior competência. É um funcionário de carreira. Se continuar essa troca do técnico pelo político, triste de nós e da região.
Parece que não há tanta insatisfação com a troca...
Engano. Funcionários e lideranças regionais demonstraram indignação parecida com a minha. São pessoas que sonham com uma Ceplac forte e atuante, independente de grupos políticos. A situação hoje é de desconforto generalizado na Caplac.
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