Opinião
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5 de Novembro de 2005
Anthony Garotinho, presidenciável pelo PMDB
"Me comprometo a voltar e debater o futuro do cacau"
garantiu Anthony Garotinho, duas vezes governador do Rio de Janeiro e pré-candidato a presidente da República pelo PMDB. A promessa foi feita ao vivo, em entrevista exclusiva concedida à rádio Morena FM 98.7 durante sua visita a Itabuna.
Ele afirmou que "durante a campanha voltarei a Itabuna para debater os problemas e as soluções para a lavoura cacaueira. Vou passar um dia inteiro aqui, conversando sobre isso". Garotinho está realizando uma caravana pelo país em busca de apoio de dirigentes do PMDB a sua candidatura e esteve em Itabuna no dia 29 de outubro.
O ex-governador do Rio de Janeiro também disse que está na hora de o PMDB deixar de ser um partido coadjuvante nas eleições presidenciais, considerando o número expressivo de prefeitos, vereadores e deputados e a estrutura que tem em todo o País.
A Região - Qual o objetivo dessa sua caravana pelo país?
Estamos levando aos companheiros de partidos três questões fundamentais: a primeira é por que o PMDB deve ter candidato à presidência da República? A segunda é a importância da candidatura do partido para o Brasil e a terceira é o por que quero ser este candidato.
AR - Por que o PMDB tem que ter candidato próprio, se na última eleição teve um desempenho pífio?
É verdade. Na última vez, em 94, o candidato teve apenas 4% dos votos, mas em compensação o partido elegeu 111 deputados federais. Já na última eleição, apoiando José Serra, o PMDB fez apenas 74 deputados.
AR - Por isso o PMDB deve ter candidato próprio...
E também pelas propostas. Não queremos um PMDB apenas nos grotões, mas um partido que respeite a opinião pública e que tenha propostas alternativas às do PT e PSDB. A candidatura própria é boa para o partido porque ele vai eleger mais deputados federais e estaduais e mais governadores.
AR - Ser apenas coadjuvante tira votos do PMDB?
Partido que não disputa eleição vai perdendo militantes e sua importância na história do país. Por todos os pontos que citei até o momento é fundamental que o PMDB tenha candidatura própria à presidência da República. Disputando eleição o partido constrói militância, elege mais, expõe suas idéias para a sociedade e ganha o apoio dela.
AR - O partido tem condições de não ser apenas "mais um" na disputa?
Temos hoje uma situação em que PT e PSDB têm as mesmas posições econômicas. Com a candidatura à presidência, o PMDB tem a chance de dizer ao país que existe outro caminho. Se o partido não se apresentar, o povo só terá a opção de ficar com o neoliberalismo do PSDB ou com o neoliberalismo do Partido dos Trabalhadores.
AR - O PMDB tem um caminho diferente para a economia?
Temos um programa de governo que está sendo construído. Nele estão envolvidos o professor Carlos Lessa (presidente do BNDES no início do governo Lula), César Benjamim (cientista político), enfim, mais de 30 economistas trabalhando neste programa.
AR - Como é esse programa?
Entendemos que o nosso programa deve ser nacionalista, desenvolvimentista e trabalhista. Vamos explicar para que as pessoas não pensem que ele será igual àquele dos anos 50. Ele é um nacionalismo que renasce da necessidade de temos valores.
AR - Como assim?
Antigamente chamavam o Brasil de país do futuro. Depois mudaram para um país emergente e hoje nem é país, já somos um "mercado emergente". Ora, uma Nação não é um mercado, ela deve até ter um mercado, participar dele, mas queremos que essa Nação reconheça seus valores. O sentido do nosso programa é devolver ao Brasil um espírito de Nação.
AR - Por que desenvolvimentista?
Porque todos os problemas do Brasil só podem ser resolvidos com o desenvolvimento do País, com uma política econômica que possibilite um melhor crescimento e aumento da renda do trabalhador. É possível aumentar o salário mínimo? É, só temos uma boa política de desenvolvimento.
AR - Como aconteceu no Rio de Janeiro?
Sim. O Rio hoje tem o maior piso salarial do país. Só com o desenvolvimento é possível diminuir o desemprego e a desigualdade social gritante. Mas para que haja esse desenvolvimento é necessária uma mudança na economia, que hoje está focada no sistema financeiro.
AR - A queda dos juros seria uma das mudanças?
Claro. O empresário que sente que o dinheiro aplicado no mercado financeiro rende mais do que investir numa indústria, vai correr o risco de pegar R$ 5 milhões, por exemplo, e investir na segunda opção? Não vai de jeito nenhum. Ele aplicará no sistema financeiro, sem ser fiscalizado, ter despesas com impostos, pagar salários. O empresário vai sempre preferir comprar títulos públicos federais, ficar na praia e ganhar 19% de juros.
AR - A taxa de juros então é o ponto central do governo?
Todo país em que o dinheiro rende mais no sistema financeiro que no setor produtivo passa uma sensação de ócio, de vagabundagem daqueles que devem comandar o processo produtivo brasileiro. Temos que acabar com a ditadura do sistema financeiro.
AR - A história do PMDB pesa na decisão da candidatura?
Foi o PMDB que acabou com a ditadura militar, que devolveu o voto livre ao povo, que trouxe os anistiados de volta. Creio que o partido tem de retomar o seu rumo, que perdeu quando apoiou os governos de Fernando Henrique e Lula. Ele precisa de candidatura própria.
AR - O votou em Lula no segundo turno. Se decepcionou?
Eu e a torcida do Flamengo, do Vasco, do Vitória... o Brasil inteiro. Nunca achei Lula uma pessoa muito preparada para a administração, mas pensei: o homem pode se superar quando tem vontade dentro si. Até notei a dificuldade do Lula em entender uma explicação mais simples. Mas imaginei: ele tem vontade, foi um cara que veio de baixo, vai montar uma boa equipe e terá condições de entender onde está o nó do problema. Mas, com raras e honrosas exceções, o presidente não montou uma equipe, aquilo é uma quadrilha.
AR - Como o senhor vê o projeto da Transposição do Rio São Francisco?
É um projeto milionário, provavelmente para favorecer alguma empreiteira. O problema da seca no Nordeste é mole de ser resolvido porque o Brasil tem a melhor tecnologia do mundo para isso. Em conversa com técnicos da Petrobrás em Campos fui informado que a empresa busca petróleo no mar porque, de cada cinco buracos que cava na terra, quatro dão água. A Petrobras deveria ter uma subsidiária para fazer grandes poços de abastecimentos de água para todo o Nordeste.
AR - Com relação às eleições do ano que vem, qual a sua perspectiva?
Eu tive 15 milhões de votos num partido com pouco mais de um minuto de tempo de televisão, sem estrutura nenhuma, sem recursos, uma campanha quase solitária. O José Serra, que disputou o segundo turno com Lula, ficou apenas 4% dos votos na minha frente. Imagine o que posso fazer num partido estruturado, com bom tempo de rádio e tv.
AR - O senhor diz que PT e PSDB são iguais. Por que?
Quando o PSDB esteve no governo destruiu, como uma praga de gafanhoto, as empresas brasileiras, privatizando tudo, vendeu tudo e ninguém sabe para onde foi o dinheiro. Enquanto isso a dívida interna do país, com as políticas de FHC e Lula, saltou de R$ 64 bilhões para R$ 930 bilhões nos últimos onze anos.
AR - A carga tributaria brasileira é pesada. Tem como baixar?
Porque o Brasil precisa de mais dinheiro sempre? Porque precisa pagar cada vez mais juros. Propomos que se corte a taxa de juros ao meio. Na medida em que os juros caírem o país pagará menos impostos e continuará com verbas para investimentos. Se pagando menos juros não é necessário se arrecadar tanto, então a tendência da carga tributaria é cair.
AR - A reforma tributaria resolveria esse problema?
Não necessariamente uma reforma tributária, mas uma reforma fiscal e federativa. Hoje tem muitos impostos obscuros, pois a Constituição Federal não regulamentou o Artigo 20, o que é responsabilidade da União, do Estado e do Município. Aí as três esferas de poder gastam dinheiro para fazer a mesma coisa. Um exemplo é a educação fundamental, que até hoje não se sabe de quem é a responsabilidade.
AR - No seu programa de governo existe espaço para a cacauicultura?
Sendo eu o escolhido pelo meu partido e se eleito pelo povo, venho aqui para debater uma estratégia de desenvolvimento para a região. Vamos debater uma estratégia de curto, médio e longo prazo como o objetivo de gerar desenvolvimento para região. Então esse é meu compromisso com o povo do sul da Bahia.
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