No dia 11 de maio Ilhéus e Itabuna receberam a terceira visita do candidato a presidente da
República pelo PSB, Anthony Garotinho, ex-governador do Rio de Janeiro que começou sua bem sucedida
carreira política como prefeito de Campos (RJ) por duas vezes.
A agenda de Garotinho incluiu um debate no Hotel Transamérica de Comandatuba com os maiores
empresários do País, visitas à Igreja Batista Teosópolis e ao bispo católico Dom Ceslau Stanula,
seguidas de uma visita à rádio Morena FM 98.7, onde Garotinho concedeu esta entrevista exclusiva ao
presidente da emissora, Marcel Leal.
ML - Garotinho, você já veio oito vezes à Bahia e três a Itabuna e Ilhéus. Qual a importância do sul
da Bahia dentro dos seus planos à presidência?
A.G - A Região Sul é estratégica para o desenvolvimento da Bahia, porque já foi uma das mais ricas
do estado, que através do cacau, o seu ouro, proporcionou tanta riqueza a Bahia e ao Brasil, mas que
infelizmente por falta de apoio tem vivido um momento muito difícil e delicado. É preciso estar
consciente dessa situação para amanhã eu, como presidente da República, dar a resposta que a
região espera, ou seja, um governante que apoie a erradicação dessa praga que destruiu a lavoura do
cacau, que dê sustentação a diversificação da agricultura, porque outras atividades como café e a
própria fruticultura também tem surgido aqui no sul do estado. Que apoie um processo de
industrialização que é fundamental para Itabuna e toda a região. É para conhecer melhor o problema
dessa região que tenho vindo sempre aqui.
ML - Você, que é admirador do agronegócio, já andou falando sobre a necessidade do Brasil parar de
exportar matéria prima e importar produtos beneficiados. No Sul da Bahia temos o granito que sai
daqui para o Espírito Santo. Lá é cortado e exportado em pedaços para Itália e beneficiado por lá
e vendido para a Europa inteira. Depois volta para cá com o preço dez vezes maior. Tem o próprio
cacau que o país exporta as amêndoas. Gostaria que você abordasse um pouco sobre isso.
A.G - O agronegócio é a saída para o Brasil. Não tem cabimento, já dei vários exemplos e você acaba
de citar mais um. No Pará, por exemplo, exportamos alumínio, cobre, dentre outros minerais e depois
o Brasil importa todos esses minerais transformado em produto de alto valor agregado, alto valor
tecnológico. Em Minas a gente exporta ferro através da Vale da Rio Doce depois importa uma
quantidade enorme de produtos derivados do ferro pronto. Aqui na região o cacau, o granito. O mesmo
acontece com a região Centro Oeste, em que exportamos soja e importamos ração depois. A
diferença de preço é enorme: um saquinho de ração custa mais de que uma saca daquela de 60 quilos
de soja.
O Brasil, para crescer, gerar empregos e renda para o seu povo, precisa adotar uma política
firme de financiamento. Isso só será possível obedecendo uma regra simples que tenho defendido em
todos os encontros de que participo: em primeiro lugar é preciso fazer a reforma tributária para
desonerar a produção e a exportação brasileira. Essa reforma é necessária para acabar com os
impostos cumulativos e as contribuições em cascata, a exemplo da CPMF. O Brasil é o único país do
mundo onde o sujeito para passar um cheque tem que pagar imposto, isso não existe, isso é um
escândalo.
Depois de fazer a reforma tributária é preciso ter um programa claro de crédito para
o setor produtivo brasileiro, começando pela redução dos juros. Os nossos juros são altos demais,
são proibitivos. Depois de reduzir os juros, terá que haver um aumento no crédito porque é ele que
gera emprego. Então a cadeia produtiva é facilmente entendida: sem crédito não há emprego, nem bem
estar social, e sem taxas de juros baixas não há crédito. Esse aí é o meio de campo que temos de
desembolar para fazer o país crescer, gerar emprego e possibilitar a prosperidade para a Nação,
fazendo com as pessoas tenham perspectiva para viver.
ML - Garotinho, qual é o salário mínimo do Rio de Janeiro hoje?
A.G - Na iniciativa privada é de R$ 280,00 e o servidor público estadual tem salário de R$ 400,00.
ML - No ano passado a questão do salário mínimo foi bastante debatida. Vários partidos, inclusive o
PFL baiano, defenderam um mínimo R$ 280,00. Só que o salário no estado não é de R$ 280,00 nem há
previsão desse piso ser implantado. Você, que adotou um novo piso para iniciativas privada e
pública, poder nos dizer como isso funcionou lá? E se é possível fazer isso em todo o país.
A.G - Claro que é. Tenho absoluta certeza que mesmo o setor produtivo do Rio, a
indústria, comércio e agricultura, no início ficou meio assustado e perguntava "R$ 280,00, será
possível pagar um salário desse." Resultado: ocorreu o aumento no faturamento das empresas porque as
pessoas que ganham mais compram mais. Com isso, o comércio passou a lucrar mais e a industria, por
sua vez, passou a vender mais para o comércio. Então cria-se um ciclo produtivo e se tira o país
desse estado de pobreza que estamos vivendo.
Os fatores que eles (a equipe econômica do governo e os
empresários) levantam são todos furados. Primeiro: dizem que os municípios não vão poder pagar um
piso mais elevado. Mas sabemos que somente 5% dos 5.500 mil municípios brasileiros teriam problema
com o salário mínimo da forma que nós queremos colocar, que é em 1° de maio de 2003 o salário mínimo
de R$ 280,00 e, no mesmo mês de 2004, um valor de R$ 400,00. Assim a gente corrige a
defasagem do salário que vem há anos, quase que total, com um aumento real de 100% em dois anos.
ML - E como fica a Previdência, suportaria?
A.G - A Previdência Social tem hoje 79 milhões de brasileiros trabalhando e só 21 milhões
contribuindo. È necessários tão somente dobrar o número de contribuintes, que será o suficiente para
suprir perfeitamente o déficit atual da Previdência Social e pagar os benefícios com certa
tranquilidade. Além disso, de acordo com a declaração do próprio ministro da previdência, de cada
quatro aposentadorias concedidas uma é fraudada, ou seja, 25% dos benefícios são irregulares, se
corrige isso e aí haverá a economia desse percentual.
ML - Um dos temas da moda no momento é a segurança pública. Qual a sua política para o país nesse
setor?
A.G - Estarei lançando dentro de poucos dias em São Paulo e, provavelmente, no final do mês em
Salvador, o meu livro de segurança pública, que é um programa feito por oficiais das polícias
Militar e Civil do Rio de Janeiro, e por um grupo de cientistas que atua na área de segurança no
Brasil, na Inglaterra e em Israel. É um livro que propõe a criação da Secretaria Nacional de
Segurança Pública. Essa Secretaria vai ter um papel de coordenação das políticas estaduais, ela não
vai ter interferência direta porque isso é de competência do estado, mas pode coordenar a ação das
policias nos estados. Vamos adiantar aqui somente alguns pontos que defendemos. Primeiro, defendemos
que seja retirada da Constituição a obrigatoriedade de duas polícias e deixar a cargo de cada
estado definir a sua organização policial, ou seja, não vamos obrigar o estado a ter só uma
polícia, que seria outro erro. Pelo nosso projeto, cada unidade da Federação decide se quer ter uma
ou duas polícias, porque o que pode ser bom para um estado pode não ser para o outro.
O segundo ponto é a necessidade da criação de uma polícia de fronteira. Por que isso? Porque armas
e drogas entram livremente pelas nossas fronteiras e são responsáveis pela maior parte dos crimes
que ocorrem no país. Terceiro, é preciso criar presídios federais para que posamos separar os presos
envolvidos com tráfico de drogas e de armas dos bandidos que cometem crimes mais comuns. É
necessário também se criar um cadastro nacional de crimes, com uma lista dos marginais mais
procurados, centralizando as informações em um banco de dados para que todas as secretarias possam
ter acesso. No Rio de Janeiro, por exemplo, quando nós começamos a prender os chefes das quadrilhas,
nenhum deles estava no estado. Um estava em Fortaleza, outro no Rio Grande do Sul, no Espírito
Santo... e era uma dificuldade enorme para podermos identificar. Por isso, teria que ter um cadastro
nacional disponível para todas as secretarias estaduais.
É preciso também aumentar o efetivo da Polícia Federal e fazer com que esta colabore com as
polícias estaduais na criação de núcleo de inteligência. E mais do que isso, aumentar o salário do
policial. No Rio de Janeiro o que fizemos foi pegar o salário inicial do policial, que ingressa na
corporação ganhando R$ 590,00, e passá-lo para R$1.170,00. Defendemos que nenhum policial em nenhum
estado brasileiro ganhe menos de R$1 mil. Como nós sabemos que nem todos estados podem pagar esse
salário, a idéia é Brasília pagar a folha da polícia de lá. Então a forma de ajuda da União aos
estados seria através da Secretaria de Segurança Nacional, que firmaria convênio com as secretarias
estaduais para garantir o piso de pelo menos R$1 mil a todos os policiais do Brasil.
ML - Quanto a questão social. Fale um pouco de ações como a implantação do restaurante de 1 real e
hospedagem em hotéis com este mesmo valor. Você acredita que dê para introduzir ações como essas em
qualquer lugar do país?
A.G - Olha, você sabe que essas políticas, chamadas compensatórias, ou seja, que a gente faz mas
sabe que elas apenas atenuam, não resolvem o problema, precisam ser feitas enquanto não se
equacionar as questões estruturais do país. Então vamos trabalhar em duas direções. Primeiro,
gerar emprego para que cada cidadão possa viver com dignidade do fruto do seu trabalho. Mas já
sabemos que não vai se fazer isso em um, dois meses, um ano. O Brasil vem de um longo período de
recessão e endividamento. Por conta disso, vamos implantar uma rede nacional de restaurantes
populares como já existiu no passado, na época do Getúlio Vargas, em que funcionava o Sarge, uma
rede de restaurantes em que o povo pagava uma quantia equivalente a 1 real hoje.
A nossa meta é criar uma rede com 450 restaurantes populares nas 450 maiores cidades do país
somente no primeiro ano do nosso governo. Também faremos convênios com as prefeituras para criar
abrigos para que as pessoas que trabalham longe de suas residências possam se hospedar. Nesses
lugares implantaremos uma infra-estrutura decente, com café da manhã, um local para se tomar banho e
roupa de cama, pagando R$1. A pessoa vai ficar hospedada ali, ao invés de dormir na rua. Isso é uma
ação de segurança.
ML - Outra experiência interessante é a implantação da internet em uma das favelas do Rio de
Janeiro. Como funciona isso?
A.G. - É na Rocinha, e nós também conseguimos colocar um computador por escola. Além disso
criamos as casas do futuro, que são uma espécie de biblioteca virtual construída no centro da
cidade onde as crianças, da rede estadual ou não, entram na internet e têm acesso ao que quiser. Nós
fizemos 20 casas em diferentes pontos da cidade do Rio de Janeiro e algumas cidades do interior.
ML - Para encerrar gostaria que você falasse um pouco sobre a questão da água no Nordeste.
A.G - A questão do Nordeste tem que ser tratada com seriedade. Não adianta todo candidato dizer
que vai fazer a transposição do Rio São Francisco. Fernando Henrique fez duas campanhas para
presidente prometendo fazer a transposição do São Francisco. Não tem água naquele rio, como é que
ele vai fazer a transposição de onde não tem? Nós fizemos um programa para o Nordeste cujo centro
é questão da água. Mas como resolver? Quando resolvi ser candidato à presidente da República
um grupo de engenheiros de alto nível da Petrobrás me procurou perguntando "Garotinho, é pra valer
a candidatura à presidência?" "É pra valer", respondi. "Então nós queremos ir à sua casa." Eles
foram à minha casa, colocaram um monte de mapas na minha frente e perguntaram "você sabe o que
isso aí?" Respondi "está parecendo o mapa do Nordeste." "Pois é, cada um desses é de um estado do
Nordeste. Está vendo esses pontinhos aqui? Isso é água."
Aí um deles me disse, o chefe da equipe, que o Nordeste é o maior lençol de água subterrânea do
mundo. "Desde 1982, nós temos pronto um projeto que digitalizou e mapeou todo o subsolo do Nordeste.
Claro que em busca de petróleo, mas também aproveitando para ver tudo o que tinha." Eu fique um
pouco surpreso e fiz uma indagação a ele, se era possível tirar água daquelas áreas. Ele me fez uma
pergunta que foi a seguinte: "estamos aqui em Campos, onde a Petrobrás tira petróleo a dois mil
metros de profundidade no fundo do mar, fura uma rocha e tira petróleo de dentro da rocha. O que
você acha que é mais fácil, tirar petróleo em alto-mar a dois mil metros de profundidade ou tirar
água da terra." Eu disse "bom não sou engenheiro mas acho que tirar água da terra seja mais fácil."
Ele falou, "é muito mais fácil, o equipamento é o mesmo, a tecnologia é a mesma." Eu mais uma vez
perguntei, "você tem isso desde 82 porque não fizeram isso ainda."
Ele respondeu "vou dar apenas alguns motivos. Primeiro, o barril de petróleo custa 22 dólares,
quanto custa um barril de água? É muito barato. Então a Petrobras não se interessou porque aí só
estava se vendo o lado econômico e não o social. Segundo lugar, você sabe que a mão-de-obra do
Nordeste é muito barata e a terra lá com água fica muito boa. Então vou poder produzir produtos de
grande qualidade por um preço bem menor e aí vai desequilibrar a economia do Sul do País que é muito
forte, e eles não querem isso. E terceiro ponto," disse ele - me perdoe aqui os políticos
nordestinos, eu não vou generalizar, só vou usar a palavra que ele disse - ''tem uma cachorrada de
políticos no Nordeste que vive da seca, de carro-pipa, de curral eleitoral, e não quer que isso seja
resolvido". No dia em que a Petrobras montar um escritório em cada Estado do Nordeste e quiser fazer
poços, dependendo da vazão teremos poços para abastecer cidades, para irrigar qualquer tipo de
cultura, seja arroz, milho, feijão, frutas, o que quiser. Aí o Nordeste vai produzir alimentos para
abastecer toda a região, o Brasil e ainda exportar.
Eu fiquei assim meio assustado, depois eu pedi que fosse feito um estudo. Eles me trouxeram esse
estudo, com um filme, e me contaram até uma história muito interessante sobre o município de
Mossoró. Eu confesso que não conhecia. Há 25 anos a Petrobras abriu poços para procurar petróleo em
Mossoró, só que não encontrou, aí o cara disse "deu água, vou fechar." Nisso de "vou fechar" um
cidadão apareceu lá e disse: "não feche não, eu quero e comprou da Petrobrás o poço." Sabe o que
surgiu lá? Essa famosa industria de frutas, a Maísa, que virou grande celeiro de plantação de frutas
e nasceu de um poço que deu errado e acabou gerando um grande progresso para o Nordeste brasileiro.
Leia mais sobre a visita de Garotinho aqui.
O candidato tem um site em www.2002garotinho.com.br