5.Abril.2003
"Renato está ressentido porque perdeu a eleição"
para deputado no ano passado. O prefeito de Itabuna, Geraldo Simões, considerou que as críticas que
têm sido feitas à sua administração pelo ex-deputado Renato Costa são injustas e que só ocorrem
porque o seu ex-aliado ainda não aceitou os resultados adversos das últimas eleições. Embora ainda
sonhe com uma recomposição com o PSB, o prefeito avalia que será muito difícil reconquistar as
lideranças do partido.
Geraldo afirma que a demissão de Edson Dantas, indicado pelo PSB de Renato Costa, ocorreu porque a
saúde foi classificada como um dos piores serviços prestados à população. "Pesquisa realizada
recentemente no município mostra que 35% das pessoas consideram o serviço péssimo ou ruim. Isso não
deveria ocorrer, porque este é o setor que mais recebe dinheiro, ficando com um terço do orçamento,
ou seja, R$ 3 milhões por mês", disse. A seguir, os principais trechos da entrevista.
A Região - Como fica sua relação com o ex-deputado Renato Costa após a saída do PSB do
governo?
Geraldo Simões - Quero continuar amigo de Renato e venho dizendo isso há algum tempo, mesmo
recebendo críticas duras e injustas dele. Sei que ele está decepcionado e ressentido por conta dos
resultados adversos das eleições. Mesmo com a minha ajuda e de vários amigos dele, Renato não
conseguiu ser reeleito deputado estadual. Mas se toda vez que você perder uma eleição for brigar com
o mundo, não vai dar certo. Olha quantas eleições o Lula perdeu. O atual presidente da República
perdeu eleição para governador de São Paulo e foi derrotado em outras três antes de chegar ao
planalto. Eu mesmo já perdi mais eleições do que ganhei.
AR - O senhor está dizendo que o comportamento de Renato é errado?
GS - Sim. A gente nunca deve entrar na disputa com a possibilidade de só ganhar. Não,
devemos disputar a eleição também para cultivar as pessoas, manter a amizade. Se o candidato não
vence a eleição, tem de refazer o trabalho para ganhar a próxima. Não dá para você ficar ressentido
com o mundo porque perdeu. Percebo que Renato queria vencer a qualquer custo, e como não saiu
vitorioso quis encontrar um culpado pelo resultado negativo. Ele deveria estar preocupado em traçar
novas estratégias para vencer o próximo pleito, corrigindo os erros da campanha passada.
AR - Esse rompimento não vai atrapalhar a sua administração?
GS - A nossa coligação tem oito partidos, todos eles têm representante no governo, com
funções, responsabilidades e orçamento. Tivemos um problema agora com o PSB porque a área pela qual
o partido era responsável não estava funcionando como a população esperava. Uma pesquisa realizada
recentemente no município mostra que 35% da população considera o serviço péssimo e ruim. Isso não
deveria ocorrer porque este é o setor que mais tem dinheiro.
AR - Isso não ocorreu porque a corrida sucessória em Itabuna começou cedo?
GS - Não começou. Alguns pensam em ser candidato e até concorrerão à próxima eleição, outros
desistirão no caminho, mas o processo sucessório ainda não começou. Essas pessoas têm todo o direito
em pensar num pleito que irá acontecer em 2004. Eu é que não posso, mesmo porque se isso ocorresse a
cidade pararia. Minha obrigação é buscar dinheiro em Brasília e tocar os projetos para a melhoria de
Itabuna. No meio do próximo ano é que iniciaremos o debate sobre a sucessão.
AR - Qual é mesmo a verba da Saúde?
GS - Um terço do orçamento do município vai para a saúde, ou seja, R$ 3 milhões por mês, dois
milhões a mais do que é destinado para a Educação, verba que mantém mais de trinta mil alunos. Mesmo
com esses R$ 3 milhões o serviço de saúde está abaixo do que esperávamos.
AR - E a solução foi a exoneração do ex-secretário?
GS - Fizemos a mudança com a substituição do secretário Edson Dantas pelo médico Paulo
Bicalho - nome anunciado na tarde de quinta-feira, 3 - para tentar melhorar os serviços que
praticamente não funcionavam. Com essa mudança esperamos que se acabem as intermináveis filas na
Policlínica, que não faltem remédios e os serviços nos postos de saúde atendam as expectativas da
comunidade.
AR - Mas os erros só foram do então secretário?
GS - Infelizmente, em dois anos o ex-secretário não foi capaz de atender as necessidades
básicas exigidas pela população. Eu não posso, em nome de manter uma relação com o partido,
sacrificar o serviço de saúde da população. Meu primeiro compromisso é com a população e depois vem
a coligação que me elegeu em 2000.
AR - Por que, apesar das críticas, o senhor demorou tanto para mexer na pasta da Saúde?
GS - Tinha esperanças de que o trabalho realizado na saúde mudasse, evoluísse, melhorasse.
Não diria que demorou tanto, acho que a decisão foi no tempo certo, mesmo porque as mudanças só
ocorrem no meio das administrações. Depois de muitos desacertos descobrimos que o ex-secretário
Edson Dantas não tinha perfil para gerenciar a saúde pública de um município complexo e com tantos
recursos como é Itabuna.
AR - Que avaliação o senhor faz da sua administração?
GS - Em dois anos de governo já superamos o montante investido durante toda a administração
do ex-prefeito. O governo passado investiu R$ 14 milhões em quatro anos, e em apenas metade do
período já beneficiamos a cidade com R$ 20 milhões em obras concretas como água, postos de saúde,
macrodrenagem e urbanização do centro da cidade.
AR - Então o senhor avalia como boa...
GS - Sim. Em políticas públicas estamos dando goleada, a repetência e evasão escolar, que
eram de 50% em 2000, hoje são de apenas 11%. A mortalidade infantil, que quando assumimos era acima
de 40%, caiu para cerca de 20%. São dois exemplos de que os investimentos estão sendo feitos. Além
dessas ações, não existiam o Banco do Povo, a Agência Municipal de Empregos (AME), o Bolsa-Escola, o
Bolsa-Alimentação, o Viva Maria, o Sítio (do Menor) não funcionava, etc. E o melhor é que estamos
com o pagamento de fornecedores e salário do funcionalismo em dia. Então houve um avanço
extraordinário em dois anos.
AR - E os próximos dois anos de governo?
GS - Eles serão ainda melhores. Porque agora temos o governo Federal aliado, ministros,
diretores de estatais amigos do prefeito de Itabuna. Então existe a possibilidade da execução de
vários projetos nos próximos dois anos.
AR - Embora o senhor cite a realização desses projetos, a população tem reclamado bastante da
falta de infra-estrutura nos bairros e do transporte urbano...
GS - Dentro de 90 dias o usuário não terá o que reclamar do sistema de transporte urbano de
Itabuna. Temos um projeto para modernizar todo o sistema e o objetivo é que o passageiro não tenha
que esperar mais de 10 minutos nos pontos. Quanto à questão da infra-estrutura, hoje as pessoas
reclamam que os bairros têm de receber melhorias. Mas a situação já foi pior, quando além dos
bairros elas reivindicavam obras também para o centro da cidade. Agora as pessoas só reclamam da
situação dos bairros, porque o centro da cidade está pronto, com a pavimentação de 23 quilômetros de
asfalto, a construção da Praça Rio Cachoeira, colocação de semáforos e recuperação das nossas
praças.
AR - Mas a situação é caótica em alguns bairros...
GS - Sabemos disso, tanto que já começamos a trabalhar nos bairros. Estamos pavimentando o
São Caetano e depois será a vez do Pontalzinho. Temos projetos prontos para os bairros São Pedro,
Santa Inês e Jorge Amado. Sem contar que enquanto isso as equipes de manutenção estão realizado a
operação tapa-buracos nos bairros.
AR - Quanto às obras inacabadas, como o canal do Califórnia, quando serão retomadas?
GS - Ali foi uma etapa. As obras estavam sendo executadas com recursos que trouxemos de
Brasília, previstos por emenda de deputados amigos nossos, mas o dinheiro não foi suficiente para a
conclusão dos trabalhos. Estamos buscando verbas junto à União para concluir, além do canal do
Califórnia, o do São Caetano.
AR - Quais os principais projetos para Itabuna este ano?
GS - É a primeira vez nos últimos que a população não sofre tanto com a falta de água durante
o verão. Isso ocorreu porque investimos R$ 10 milhões embaixo do chão, com 56 quilômetros de
adutoras, dois reservatórios com capacidade para dois milhões de litros de água e duas estações
elevatórias. O principal desafio agora é aumentar a produção de água e para isso é necessário a
construção de uma barragem para garantir o abastecimento de Itabuna por mais 100 anos. Essa mesma
barragem irá garantir a recuperação do rio Cachoeira. Para execução desse projeto estamos buscando
recursos junto ao governo Federal. Além disso, pretendemos recuperar o Estádio Luiz Viana Filho e
trabalhar muito em pavimentação na cidade.
AR - Mas isso não é muito pouco, não?
GS - São obras caras. São esses os projetos previstos, mas é claro que se a prefeitura tiver
a possibilidade vamos fazer obras importantes, como a praça Camacã, a cobertura do canal da Amélia
Amado. Mas nossa prioridade é a pavimentação dos bairros, a construção de casas populares para os
moradores da Bananeira e financiamento de moradias para quem ganha até três salários mínimos.
AR - E os 20 milhões que estariam garantidos para a ampliação do sistema de água?
GS - Esse montante, colocado através de emenda de parlamentares baianos do PT na legislatura
passada, está previsto no orçamento da União. Isso representa muito para Itabuna, pois na Bahia só
existem duas cidade com emenda de bancada: Salvador, para a execução do metrô, e Itabuna, para a
barragem que será construída no município de Itapé.
AR - Existe previsão de quando começa a construção dessa barragem?
GS - Os investimentos no Brasil com recursos da União estão paralisados por conta dessa
guerra. Mas creio que quando tudo terminar teremos verbas para executar os nossos projetos de custos
mais elevados.
AR - Esse seu projeto de construção de casas é capaz de "segurar" os moradores da Bananeira
em uma nova residência? Porque a doação de casas populares já ocorreu no governo passado e não
resolveu...
GS - Essas pessoas voltaram porque receberam barracos piores do que as casas em que moravam,
numa área distante do centro cidade, longe da água. Elas vão receber uma casa decente, de alvenaria,
com água tratada e terreno bom e próximo do centro da cidade, ao contrário do aconteceu nas vezes
anteriores. As pessoas tiveram toda a razão quando retornaram para a Bananeira, pois o local para
onde foram levadas não oferecia o mínimo de condições.